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Comportamento

Na Itália, campo-grandense vira pedreira e reforma a própria casa

Com ajuda de famílias na Itália, Rafaela é a campo-grandense que está reformando a própria casa

Thailla Torres | 02/06/2021 07:35
Hoje ela é pedreira na Itália. E após muitas reformar em casas de família, agora ela reforma o próprio lar. (Foto: Arquivo Pessoal)
Hoje ela é pedreira na Itália. E após muitas reformar em casas de família, agora ela reforma o próprio lar. (Foto: Arquivo Pessoal)

Há 6 anos, a vida da campo-grandense Rafaela dos Santos Alves, de 31 anos, mudou completamente. Ex empresária hoje vive na Itália e é feliz sendo pedreira. Além de construir e reformar casas de clientes, agora ela tem a oportunidade de reformar a própria residência.

A mudança ocorreu em 2015, mas não foi uma transformação fácil como ela imaginava. Tudo aconteceu quando viajou para a Bahia e conheceu o ex-marido italiano. No mesmo ano eles se apaixonaram e ela aceitou o pedido de casamento, que foi em Taranto.

Rafaela viajou com a filha Izabela, mas a receptividade naquela época não foi das melhores. “Muito menos para minha filha que sofreu muita discriminação na escola e na vida social. Também sofri muito preconceito racial e social por ser sul-americana e, em especial, por ser mãe jovem. Escutava e escuto até hoje que sou a ‘clássica sul americana oportunista’”, descreve.

Rafaela conta que encarou a construção civil após dificuldades financeiras. (Foto: Arquivo Pessoal)
Rafaela conta que encarou a construção civil após dificuldades financeiras. (Foto: Arquivo Pessoal)

No começo, Rafaela também não sabia falar italiano e isso dificultou a experiência. “Foi muito difícil a adaptação. Ninguém dava oportunidade de trabalho para uma brasileira que não dominava a língua italiana. Neste período, a cidade passava por uma crise econômica e havia poucas oportunidades de trabalho, até para cidadãos italianos”, conta.

Rafaela também sofreu com o machismo do ex que, segundo ela, não aceitava que ela trabalhasse. “Com isso e outros problemas enfrentados na vida de casada, vivemos uma crise até a separação”.

Foi quando a campo-grandense se viu numa situação financeira delicada. “Fiquei abalada e não tive apoio de ninguém na Itália. Me vi sozinha com a minha filha. Foi quando comecei a fazer serviços temporários como socorrista de ambulância, limpeza, cuidador de idosos e bares”.

Mas a jornada de trabalho não era suficiente para uma vida estável à filha. “Pois eu tinha que intercalar meu horário de trabalho com os horários de escola dela, para acompanhar suas necessidades e educação. Com isso procurei saber mais o que eu poderia fazer para me adaptar nesta situação e descobri o mercado da construção civil, com regras de horário no qual se enquadrava nas minhas exigências e necessidades”.

Hoje ela se sente otimista com as novas oportunidades. (Foto: Arquivo Pessoal)
Hoje ela se sente otimista com as novas oportunidades. (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando ainda morava em Campo Grande, Rafaela teve um companheiro que era pedreiro. “E por algumas vezes tive a oportunidade de acompanhar seus trabalhos e observar tudo o que ele fazia. Com isso tive a iniciativa de me lançar como pedreira aqui na Itália e foi onde tudo começou”.

Sua primeira experiência foi na residência de uma família. “Foi a restruturação de portas e janelas. E através de ótimas referências dessa família sugiram outras oportunidades”.

Hoje, a experiência mais intensa que vive é a de reformar sozinha um apartamento que foi cedido por uma família para ela viver. “Foi um gesto de gratidão da família. Hoje estou reformando o imóvel com a ajuda de doações e reconhecimento em especial de uma empresa em Taranto, que se sensibilizou com minha situação e me doou todo material hidráulico, e ainda me ofereceu uma oportunidade de trabalho após a conclusão dessa reforma”.

Com isso, Rafael se sente otimista. “Estou ganhando respeito, meu espaço e admiração das pessoas ao ver minha dedicação, esforço e os desafios de fazer essa reforma sozinha”.

Assim que a casa ficar pronta, Rafaela promete mostrar o resultado e com direito a decoração sul-mato-grossense. “Na mala trouxe minha a bomba e cuia do tereré, aqui pra mim não falta o tereré. Também carrego no meu coração a minha filha Izabela, que voltou para Campo Grande, consequência dessas dificuldades vividas aqui na Itália. Mas em breve vou reencontrá-la”.

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