Na última vacinação do ano, profissionais relatam dores e alegria
Na fila da vacina do dia 31 de dezembro, técnicos de enfermagem contam suas histórias nesse ano de vida
Quem já teve fortes sentimentos nesse ano na hora de se vacinar ainda não sabe o que é fazer parte da equipe da linha de frente que ativamente participou da história vacinando as pessoas.
Os profissionais de saúde, enfermeiros e técnicos, que além de trabalhar e lidar com as emoções das pessoas que atendem, ainda também lidam com suas próprias perdas durante a pandemia. No último dia de vacinação de 2021, técnicas de enfermagem compartilharam os momentos mais marcantes, além das emoções que sentiram nesse ano.
Naura Santana, de 53 anos, está no último ano do curso de técnico de enfermagem. Em dezembro de 2019, passou pela perda da mãe, dona Maria Maria Rodrigues. Pouco menos de um ano depois, em setembro de 2020, a covid lhe tirou o marido, Osvaldino Setúbal, de 65 anos. Ele chegou de ficar 19 dias internado, mas não resistiu.
A vida de Naura virou de cabeça para baixo. Com as filhas de 15 e 17 anos, precisou voltar para a casa do próprio pai. A dor foi tanta, que por um tempo não conseguiu voltar a trabalhar devido à problemas psicológicos e acumulava atestados. Mas o amor pela família, especialmente aos familiares perdidos, além da vacinação, foi o que lhe deu forças para continuar.
“Eu tive que voltar trabalhar, pela memória do meu marido e da minha mãe. Sinto como se tivesse perdido meus dois braços, o direito que era minha mãe e o esquerdo, que era meu marido. Mas eu vou terminar o curso, eu tenho que terminar”, expressou.
Alexandria Assis, de 67 anos, trabalha na área de enfermagem desde 1979 e tem o hábito de contar as doses de vacina que aplica. Só da covid foram 1.450. Em junho de 2020, começou a trabalhar na vacinação no drive-truh da UCDB e um dia após o início, perdeu o irmão, Gustavo, de 64 anos para a doença. “Infelizmente ele não teve oportunidade de se vacinar. A gente não tem motivos para comemorar, mas o avanço da vacinação com certeza é motivo para celebrar a vida”, afirmou.
Katia Alves Massetti, de 58 anos, começou a trabalhar também na mesma data e local que Alexandria. Antes, atuava no home care e acompanhava um senhor de 85 anos, que acabou contraindo o vírus. Ficou 15 dias internado com ele. “Presenciei 8 óbitos em um dia só. Nesse período refleti muito. Mas ele sobreviveu e logo em seguida vim trabalhar aqui”, relembra.
Gratidão pela atuação é o sentimento que define a esmagadora maioria das pessoas que chegam aos postos de vacinação por esses profissionais. As técnicas relatam que chegaram até a ganhar presentes, como bíblias, rosas, chocolates, panetones e até um fardo de refrigerante de um dono de conveniência.
“É por isso que o Brasil está indo para frente, por causa desses profissionais”, acrescentou Myson Charly, de 43 anos, que se vacinava.
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