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Comportamento

"Não gostam porque é coisa de pobre", diz pipeiro do Nova Lima

Frase de Herbert de Mattos, pipeiro profissional, é um desabafo diante da pressão que muitas pessoas que soltam pipa sofrem

Lucas Mamédio | 06/06/2020 08:13
Herbert vive da pipa desde 2015, quando abriu sua loja (Foto:Silas Lima)
Herbert vive da pipa desde 2015, quando abriu sua loja (Foto:Silas Lima)

“Temos que deixar a hipocrisia de lado às vezes, sabe. Vá para um bairro mais afastado de Campo Grande, veja quantas opções de lazer têm as crianças que ali moram, são pouquíssimas”.

Essa frase de Herbert de Mattos Tollini, 37 anos, empresário e pipeiro profissional, é um desabafo diante da pressão que muitas pessoas que soltam pipa estão sofrendo nos últimos meses aqui na Capital.

Natural de Guarulhos, São Paulo, Herbet solta pipa desde os 9 anos de idade, aprendeu na periferia onde cresceu, e trouxe para Campo Grande o hábito quando se mudou, em 2005. Desempregado anos depois, viu na confecção de pipa uma possibilidade de renda. “Comecei na área da minha casa mesmo vendendo pra amigos. Hoje, graças a Deus, tenho minha loja própria de produtos para pipa”.

A loja conta com dois funcionários, vende pipa pronta e tudo o que é usado para coloca-la no ar como rabiola e linhas, e fica no bairro Nova Lima, justamente onde ele tem visto frequentes batidas da Guarda Municipal.

“Aqui no Nova Lima, por exemplo, estamos passado por uma fase muito complicada, a Guarda está batendo direto, e estão certos, porque não pode usar cerol mesmo, mas tem que punir os que agem errado, não todo mundo”, completa.

Diferente de qualquer condomínio de classe média, nos bairros mais pobres, não há quadra poliesportiva, área de convivência, piscina então nem se fale, é um mundo a parte, onde sobram pouquíssimas opções, uma das democráticas e conhecidas é a pipa.

A linha utilizada suspender a pipa é justamente o motivo pelo qual a prática é tão estigmatizada. Muitos praticantes usam linhas cortantes como linha com cerol e linha chilena. Existem várias casos de pessoas, principalmente motoqueiros, que morreram ao serem atingidos no pescoço.

Participantes do campeonato de pipa em Campo Grande (Foto: Arquivo Pessoal)
Participantes do campeonato de pipa em Campo Grande (Foto: Arquivo Pessoal)

“Aí está outra hipocrisia. Não pode usar, mas se você for na internet, é muito fácil de comprar. É claro que eu não vendo aqui, só que não adianta dizer que mata que corta e não separar quem usa e quem não usa, porque daí ficamos marcados”, pontua.

Herbert também é presidente a APPCG (Associação dos Pipeiros Profissionais de Campo Grande) composta por seis membros diretores e vários associados. A entidade briga pela regulamentação da prática, que consistiria em um "pipódromo", local específico para soltar pipa, também pela permissão da linha esportiva somente nesse local.

“A linha esportiva é cortante, mas é feita com goma arábica, bem menos agressiva. Não queremos usar ela em qualquer lugar, só em lugar de competição”.

Mas como é uma competição de pipa? Existem várias categorias, uma que rolou há pouco tempo na Capital, por exemplo, foi a individual. “Uma pessoa fica em um espaço delimitado a 25 metros de distância de seu oponente. Eles colocam  a pipa no ar, um árbitro contra três minutos e é o tempo que eles têm pra cortar a linha do outro, quem for cortado perde”.

A competição aconteceu no último domingo (31) e contou a fiscalização da Guarda Municipal, inclusive nas linhas utilizadas. Na ocasião foram arrecadados 250 quilos de alimentos para doação.

Perguntando se a competição não seria uma elitização da prática da pipa, Herbert concorda. “Sim, acho que é, mas temos que de algum jeito limpar a barra de quem solta pipa. São vários pais de famílias, não tem só malandro. Como disse pipa é coisa de pobre, é só pegar um papel e madeira e pronto, por isso as pessoas não gostam”.

Um outro pipeiro que luta para que as pessaos mudem de ideia é Marcelo Luiz, produtor rural de 47 anos. Ele lidera uma equipe de pipa esportiva e ama a prática.

“É muito gratificante e nostálgico soltar pipa. O preconceito acontece devido à irresponsabilidade de algumas pessoas. Mas não podemos generalizar”.

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