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Comportamento

No aniversário de 40 anos, presente de Manu foi retirar câncer

Diagnosticada com um carcinoma papilífero de tireóide e metástase, Manu fala sobre ganhar a vida nos 40 anos

Paula Maciulevicius Brasil | 27/04/2021 09:35
Manu antes de ir para o centro cirúrgico no dia 17 de abril; foto foi postada nas redes sociais com a legenda: "bora ali vencer um câncer?" (Foto: Arquivo Pessoal)
Manu antes de ir para o centro cirúrgico no dia 17 de abril; foto foi postada nas redes sociais com a legenda: "bora ali vencer um câncer?" (Foto: Arquivo Pessoal)

Sabe aquela velha frase "quem procura, acha?" No caso de Manu, o lema sempre foi o "quem procura, acha e trata". Fonoaudióloga, mãe de duas Marias, e profissional que se tornou amiga de dezenas de famílias no trabalho home care, Manoela Jara de Araújo D'Amato entrou no centro cirúrgico no último dia 17 como quem comemora o maior presente que poderia ganhar: a vida.

Manu já foi pauta aqui no Lado B anos atrás, quando fez o "chá revelação", à época a festa nem era moda ainda e foi ela que apresentou a ideia a muitos campo-grandenses. Desde então, Manu teve suas duas Marias, seguiu trabalhando freneticamente até que no check-up de todo começo de ano, uma notícia a paralisou.

"Faço check-up todos os anos, no início, quando estou de férias. Apesar de ser um gasto extra, é quando tenho tempo para realizar todos os exames sem precisar pegar atestados", explica.

Manu com o marido Bruno e as filhas Maria Alice e Maria Laura (Foto: Arquivo Pessoal)
Manu com o marido Bruno e as filhas Maria Alice e Maria Laura (Foto: Arquivo Pessoal)

Manu costuma dizer que é a época em que vira do avesso de tanto exame que faz, justamente para ter tranquilidade e seguir trabalhando durante o ano. Fonoaudióloga concursada da prefeitura, ela ainda atende pacientes para duas empresas de home care particular, a maioria deles são acamados, que tiveram AVC (acidente vascular cerebral) ou traumatismo craniano grave.

Como já tiveram vários casos de câncer na família, a fono é daquelas "chatas" mesmo quando o assunto é saúde. Pede, insiste, contesta. Depois de já ter encontrado vários "kinder ovos" como brinca, no estômago e no intestino e as biópsias deram negativo, quando foi fazer uma ultrassom na tireoide, já esperava encontrar algum nódulo, mas sem suspeitas de ser um câncer.

Peguei o resultado da ultrassom no sábado de Carnaval, dia 10, foi desesperador ler aquela conclusão do exame referindo: câncer de tireoide. Eu respirei fundo, tentei segurar o rojão, mas ao olhar para as minhas Marias, eu só chorava".

Passado o primeiro momento, quando um abismo abriu sob os pés de Manu, ela conseguiu avistar uma ponte para se segurar e focar em tudo o que poderia ser feito no sentindo de lutar para não deixar os seus sonhos, as duas Marias. "Além de perturbar com infinitos questionamentos a minha médica, já tinha procurado uma especialista em cirurgia de cabeça e pescoço e pesquisado no Dr. Google, tive um pouquinho de aflição em pensar na punção, mas fui lá e fiz", conta.

Se considerando uma paciente oncológica, Manu já começava a dar a notícia aos amigos próximos, colegas de trabalho e familiares de pacientes que também se tornaram sua família. Afinal, tem gente que ela entra em casa todos os dias. Por fim, contou à mãe.

Mensagem que fono compartilha sobre falar sobre sentimentos em vida (Foto: Arquivo Pessoal)
Mensagem que fono compartilha sobre falar sobre sentimentos em vida (Foto: Arquivo Pessoal)

Entre ter o laudo com o diagnóstico do câncer e a cirurgia, foram dois meses e uma semana. Tempo em que Manu já usou para tornar a doença mais "leve". "Eu já brincava de novo com todo mundo, contava que cortariam a minha goela e que suspeitava que Deus estava me achando um fono tagarela demais", diz.

Nisso, Manu recebia abraços e todo amor dos familiares que choravam mesmo quando ela sorria. A médica, antes de ir para a cirurgia, solicitou um último exame para evitar surpresas quando abrisse. O exame apontou metástase.

"Chorei, chorei muito. A certeza que eu tinha até ali me abandonou. De fato eu poderia partir e deixar poucas lembranças a Maria Alice, de 5 aninhos e a Maria Laura, de 3. Fiquei sem chão".

Na última consulta médica, a data disponível para a cirurgia foi no dia 17 de abril, quando Manu completava 40 anos. "Topei na hora, porque por mais que você tenha fé, apoio de quem for, você deitar a noite, colocar a cabeça no travesseiro sabendo que você tem células malignas é pesado demais. Se ela marcasse para o dia seguinte, eu toparia", comenta.

Ir para o centro cirúrgico no dia do aniversário também era simbólico. Data não só do nascimento de Manu, como também do dia em que ela prestou o concurso da Prefeitura.

Vi como um outro presente de Deus essa cirurgia no meu aniversário, claro que a gente pensa em comemorar de outra forma, mas hoje vejo que não poderia ter um presente maior do que ganhar a vida, novamente, nesse dia".

Registro logo após a cirurgia, dos pontos feitos para a retirar do câncer (Foto: Arquivo Pessoal)
Registro logo após a cirurgia, dos pontos feitos para a retirar do câncer (Foto: Arquivo Pessoal)

E foi aí que Manu parou para refletir, no caso dela o câncer veio como um "presente". "Por conta da maternidade, da vida corrida que levo nos seis lugares que atendo, uma casa, um marido, dois cachorros, minha família, veio que esse câncer foi o melhor presente que Deus poderia me dar, porque tenho tempo para a família, tempo de qualidade quando estou com elas à noite. O câncer me fez parar tudo, olhar para mim, cuidar de mim".

O carinho recebido foi tamanho que ela pode ver o quanto é amada. "Li, ouvi, tudo o que queria e o que jamais esperava. Esses meus 40 anos foi o melhor presente que ganhei na vida, depois de realizar meu sonho de ser mãe".

Uma amiga também fono chegou até a criar uma vaquinha, coisa que Manu resistiu num primeiro momento. Já de alta há uma semana, o tratamento a seguir pode ser feito com uma medicação cara, Thyrogen, que custa em torno de R$ 4 mil, e que amenizaria os efeitos deixados pela cirurgia.

Carregado de amor, recado das Marias veio para encher o coração da mãe de fé e amor (Foto: Arquivo Pessoal)
Carregado de amor, recado das Marias veio para encher o coração da mãe de fé e amor (Foto: Arquivo Pessoal)

"Me senti mal, não por orgulho, de forma alguma, mas porque trabalho com pessoas carentes, acompanho as lutas diárias. Sinceramente, mesmo precisando dessa medicação, eu não vou morrer se não tomar. O que é isso comparado a vida das pessoas que atendo diariamente?", questiona.

A medicação já foi negada juridicamente pelo plano da Prefeitura e a família entrou com a solicitação para conseguir pela Casa da Saúde. O próximo passo do tratamento será uma pesquisa de corpo inteiro para averiguar onde mais Manu pode ter células do câncer. Pode ser que Manu trate em Barretos, com sessões de iodoradioterapia.

Manu compartilhou sua história para que as pessoas entendam a importância do autocuidado. "De fazer exames regularmente, principalmente quando se tem casos na família, muita gente teima em economizar com a saúde, mas precisa fazer, até porque eu não sentia nada", esclarece.

A fono não vê a hora de contar sua história pessoalmente aos pacientes que atende. "Adoro quando me falam: 'você chega como doutora na casa da gente e sai como amiga da família'. Minha família e meu trabalho são a razão para a minha cura, por eles eu quero mais 40 anos de vida", pede.

Quem quiser ajudar, os dados bancários para transferência ou PIX são:

Bradesco
Ag.: 5247
CC.: 0126.395-1
PIX: 045.716.336-45 (CPF)

O Impcg (Instituto Municipal de Previdência de Campo Grande), responsável pelo Servimed, informa que já foi autorizado o tratamento e que aguarda o Laudo Médico da paciente com a Justificativa, para a liberação da medicação.

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*Matéria editada dia 28 de abril, às 12h, para acréscimo de informação.

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