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Comportamento

Paixão por inovação fez Isaac ser 1º doutor surdo na área de Engenharia

Ele nasceu com a deficiência, mas desde a escola trilhou caminho de sucesso até o doutorado

Por Jéssica Fernandes | 13/10/2023 07:35
Isaac Medeiros nasceu surdo e desde a infância foi incentivado pelos pais. (Foto: Arquivo pessoal)
Isaac Medeiros nasceu surdo e desde a infância foi incentivado pelos pais. (Foto: Arquivo pessoal)

Apaixonado por tecnologia desde criança, Isaac Medeiros, de 45 anos, é o primeiro surdo doutor formado na área de Engenharia pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Natural de Caicó (RN), ele chegou ao estado de Mato Grosso do Sul em 2016 e em 2019 ingressou no doutorado na área de Ciência dos Materiais.

Isaac nasceu sem a audição devido a uma doença que a mãe teve durante a gestação. “No começo, especialmente até o diagnóstico conclusivo, foi muito difícil, pois as pessoas criam uma expectativa quanto a idade da criança fazer cada coisa, e no meu caso, aconteceu de maneira tardia”, recorda.

Apesar de ser senso comum na época que crianças surdas deveriam frequentar ‘escolas especiais’, a família dele não optou por essa escolha. Os estudos iniciais dele foram numa escola regular e além disso, Isaac tinha uma professora.

Isaac durante defesa do doutorado no dia 11 de outubro. (Foto: Arquivo pessoal)
Isaac durante defesa do doutorado no dia 11 de outubro. (Foto: Arquivo pessoal)

“Minha mãe contratou uma professora particular, à prof. Iva, que me acompanhou durante todo o processo de ensinar a falar. Era muito comum na época induzirem os surdos a falarem. Nesse primeiro momento não tive contato com a Língua Brasileira de Sinais. Isso só aconteceu bem depois, quando eu já era adulto”, explica.

Até os 16 anos, Isaac morou em Caicó, porém foi em Natal que conclui o Ensino Médio. Na hora de escolher a graduação optou por Sistemas de Informação, pois acreditava que o curso poderia abrir portas no mercado de trabalho e à área correspondia com os estudos que o interessavam.

“Sempre fui apaixonado por inovação, tecnologia e todas as possibilidades de fazer do conhecimento uma ferramenta de melhoria social. Acredito na ciência que é aplicada para o bem comum. Sempre fui melhor na área de exatas, acho que em virtude de ser mais visual. Então na época da graduação escolhi o curso de Sistema de Informação, pois como tudo estava ficando informatizado na época, pensei em uma oportunidade no mercado de trabalho”, comenta.

Aos 45 anos, ele conquistou o título de doutor pela UFMS. (Foto: Arquivo pessoal)
Aos 45 anos, ele conquistou o título de doutor pela UFMS. (Foto: Arquivo pessoal)

A paixão por tecnologia, inovação e a curiosidade o fez seguir na academia. Em 2014, Isaac deu mais um passo nos estudos e começou o mestrado em Eng. Mecânica na UFRN. “No mestrado eu consegui alinhar o meu conhecimento de programação e sistema automação com a área de energia, especificamente a energia solar. Agora no doutorado, continuei na linha de energia, mas com algo bem mais específico”, explica.

Durante a trajetória na universidade, ele sempre foi incentivado pelos professores e colegas. Nesse ambiente diz não ter sofrido preconceito e somente enfrentou as dificuldades do meio.

“Os obstáculos são muitos, por exemplo: fazer uma prova de proficiência em língua estrangeira. Foi muito difícil. No mestrado tive que fazer a prova três vezes para ser aprovado. São esses ajustes que fazem muita diferença na vida do surdo”, fala.

Da graduação até o doutorado, Isaac não teve nenhum colega com a mesma deficiência auditiva na área em que atua. Contudo, o doutorado na universidade proporcionou que ele encontrasse professores, que foram os mesmos que o informaram sobre a conquista única.

“Os meus colegas prof. Da UFMS, Shirley e Adriano que me informaram que sou o primeiro surdo doutor formado pela UFMS. Inclusive o Adriano foi o primeiro surdo do MS a ter o título, mas foi em outra área, instituição e presidente da Federação Desportiva de Surdos de Mato Grosso do Sul (FDSMS)”, afirma.

Sobre a conquista, Isaac garante que é algo gratificante e espera que histórias como a dele se tornem frequentes. “É emocionante. Depois de tantos desafios, finalizar essa etapa e mostrar que a pessoa com deficiência também deve ocupar locais de visibilidade. E o que eu desejo é que isso deixe de ser uma surpresa e passe a ser algo comum”, destaca.

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