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Comportamento

Para acolher refugiados, projeto tem aulas gratuitas de língua portuguesa

Intenção é, baseado no respeito às diferentes culturas, colaborar com a integração

Thaís Pimenta | 16/10/2018 08:38
João Fábio é o coordenador do projeto do NEPPE e Antônia Raquel Zottos é a assistente social voluntária do projeto. (Foto: Kisie Ainoã)
João Fábio é o coordenador do projeto do NEPPE e Antônia Raquel Zottos é a assistente social voluntária do projeto. (Foto: Kisie Ainoã)

A língua portuguesa como ferramenta para o acolhimento àqueles que por querer, ou não, saem de sua terra natal, muitas vezes do outro lado do mundo, para o Brasil e, aqui, escolhem Campo Grande como seu novo lar. Essa é a proposta do projeto de ensino à migrantes e refugiados do NEPPE (Núcleo de Ensino e Pesquisa de Português para Estrangeiros), que começou em junho do ano passado e já formou três turmas.

O coordenador responsável pelo projeto tão humanizado é o professor e pós doutor da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) João Fábio Sanches Silva, que desde que se envolveu com o NEPPE e com o projeto viu sua vida mudar de ponta  cabeça, isso porque o contato com a diversidade cultural é imenso e a veia voluntária deste trabalho o fez enxergar a vida por um parâmetro mais humano.

Todos envolvidos no projeto são voluntários e, pela complexidade de línguas faladas pelos alunos haitianos, venezuelanos,  bolivianos, paquistaneses, tunisianos, guianense e americanos, é o português que media as aulas, divididas por módulos semestrais. Mas esqueça aquela aula de inglês gramatical dada nas escolas de idiomas brasileiras, já que o trabalho feito ali é focado na oralidade e em temas urgentes à estas comunidades. 

"Atendemos aquele imigrante ou refugiado que chegou há muito pouco tempo e não sabe quase nada da língua, então a aula tem uma abordamento bastante diferenciada, é voltada para a oralidade mesmo, esse é um diferencial nosso e essa característica acompanha os três módulos, essa emergência de comunicação", explica João.

Aula é assim: uma diversidade de traços, tons de pele, idiomas e muito respeito. (Foto: Acervo Pessoal)
Aula é assim: uma diversidade de traços, tons de pele, idiomas e muito respeito. (Foto: Acervo Pessoal)

Em parceria com a Sedhast (Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho), as aulas e as inscrições são realizadas na CASC, (Casa da Assistência Social e da Cidadania) porque ali é onde os migrante procuram por acolhimento num primeiro contato, no centro de atendimento criado especificamente pra isso. "Eles encontram dificuldade de documentação então um intérprete, que fala aproximadamente sete idiomas, ajuda nessa comunicação e sugere as aulas do NEPPE".

Com uma diversidade de rostos, traços e tons de pele, a aula se dá no respeito à essas diferenças e se o tema parte para o tema familiar, por exemplo, os professores tentam voltar para a temática central da aula porque o lado emocional, a saudade de casa, é muito sensível aos alunos. 

E não é só ensinar por ensinar, os professores acabam tendo um papel muito mais complexo. "Os módulos são tematizados e cada aula é pensada pra ter início e fim nela mesma. Já falamos de saúde, moradia, diversidade cultural, lazer, trabalho, alimentação, cada semana é uma temática diferente que é urgente a eles. Ensinamos como pegar um ônibus, como vão ao mercado, como tirar o cartão do SUS. Na aula do trabalho nós fizemos um currículo em português e encaminhamos pra Fundação de Trabalho", explica a assistente social, também voluntária do projeto, Antônia Raquel Lima Zottos.

João Fábio é o coordenador do projeto. (Foto: Kisie Ainoã)
João Fábio é o coordenador do projeto. (Foto: Kisie Ainoã)

Os alunos do curso de Letras da UEMS e também do próprio mestrado se envolvem com o projeto. Inclusive, não só de cursos relacionados a língua. "Tem uma menina que não é nem da universidade, é da pedagogia de outra universidade, que se encantou e está com a gente há quase um semestre inteiro", completa Antônia.

Até mesmo os alunos de Turismo já participaram de uma aula em que apresentaram as diferentes regiões brasileiras por meio das comidas.

Outros projetos, pensados para atender, por exemplo, os filhos destes migrantes, são pensados e, com certeza, ganharão forma daqui a pouco tempo."Estamos formando professor para dar aula a estes filhos dentro das escolas porque conseguimos ver que será necessário essa capacitação", explicam os voluntários.

E as portas estão abertas para que profissionais das mais diversas áreas encarem o voluntariado e doem suas noites de quarta-feira a estas pessoas que carecem de informação e de contato humano. "Visualizamos expandir este projeto pela necessidade. Hoje nós atendemos 30 alunos e esperamos multiplicar esse número para 100 alunos, então precisamos de mais voluntários", finalizam.

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São atendidos 30 alunos, em média, por semestre. (Foto: Acervo Pessoal)
São atendidos 30 alunos, em média, por semestre. (Foto: Acervo Pessoal)
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