Para Papai Noel, neto pede cesta básica e emociona avó
Duas cartas, três irmãos e entre os pedidos ao Papai Noel, fraldas, leite para a irmã menor e uma cesta básica para a avó, a quem eles chamam de mãe. “Se não for pedir muito, um carrinho de controle remoto também”, diz o menino de 8 anos.
Os pedidos foram escritos por dois irmãos. De 8 e 6 anos, que moram com a avó, no bairro Lagoa Parque, em Campo Grande. Quando a equipe chegou, eles estavam na escola, dia em que não poderiam faltar de jeito nenhum, porque tinham prova.
Mas as cartinhas estavam lá. Bem guardadas na bolsa da avó que prometeu que as colocaria no correio, endereçando ao Papai Noel. Na casa, quem vem receber a equipe é uma senhora magrinha, de óculos, cabelos longos e fala mansa.
A tranquilidade em pessoa, dona Ivanir Fátima da Silva Rotondo, 54 anos, passa a paz de espírito que a cerca na fala. É uma mulher simples que já cuidou de 15 crianças e hoje cria os três netos, mesmo sem saber se todos são filhos do seu filho. Fato que ela reforça que nem precisa saber. São netos, viraram filhos e a alegria da casa.
Com todo cuidado e carinho, ela desdobra as cartinhas. As duas foram escritas pelo menino mais velho, Kauã, 8 anos, e vão além do ‘Querido Papai Noel’.
“Minha mãe abandonou, eu e meus irmãos. Moro com a mãe do coração. Ela trabalha vendendo na rua peso de porta e sachê. Gostaria de ser músico, tocar trompete e meu irmão flauta. Eu gostaria de ganhar um carrinho de controle remoto. Vou orar pelo senhor, gostaria de ganhar um sacolão para dar para minha mãe do coração”.
O menino só tem 8 anos e deixa de lado grandes brinquedos. Para si pede um carrinho de controle remoto, que fica pequeno perto da simplicidade de se lembrar da irmã menor e da mãe de coração.
O segundo irmão, Rafael, de 6 anos, é quem dita o que quer ganhar para Kauã escrever.
“Minha mãe e meu pai abandonou eu e meus irmãos. Eu gostaria de ganhar fralda, leite e uma boneca que anda, para a minha irmã Vitória de 2 anos. Meu irmão pediu para o senhor e se não for demais, eu também queria pedir, um carrinho de controle”.
A mãe/avó diz que as cartinhas surgiram depois que as crianças viram na televisão. “Um chamou o outro, pegaram o caderno de escola e disseram ‘escreve’, ‘escreve’”. O resultado foi inesperado até para ela, que relê o pedido das crianças pela irmã e por ela.
“Eles são muito unidos. Quando eles se viram, os três se abraçavam e choravam, aquilo me comoveu”. O relato é de quando o menino mais velho e a caçulinha se juntaram ao do meio que já morava na casa.
A pequenina Vitória, só tem 2 anos. Não escreve, mas tem o desejo de Natal feito pelos irmãos. O de uma boneca que anda, que se chegar até a casa dela, será do seu tamanho.
De início, a menininha tem a carinha fechada. Mas tudo parece uma barreira que ela mesma criou sem nem se dar conta, diante do abandono a que foi renegada. Para onde a mãe/avó vai, ela se levanta e corre atrás. Aos poucos se solta e se achega.
Quando se percebe, a menina está com o rostinho apoiado no braço de quem escreve o que está vendo e sentindo na casa. Vitória só queria um carinho a mais. Atenção e amor que lhe foram tirados tão cedo.
A mãe dos três é dependente química há pelo menos nove anos e antes que as crianças chegassem à avó, o do meio há quatro anos e os outros dois há um ano, as crianças passaram de mão em mão.
Apesar da simplicidade do lar, com apenas banheiro, a sala junto da cozinha e um quarto para os pequenos, não falta nada.
“Eu trabalho vendendo sachê e peso de porta. Eu vendo e as pessoas vizinhas também me ajudam”, diz ela que também se divide entre uma faxina e outra e às vezes passa roupa para fora.
Na casa, moram também dois outros netos da Ivanir, adolescentes já, entre 16 e 17 anos. Para acomodar todo mundo, no único quarto estão duas beliches e um guarda-roupas já ‘surrado’, que guardam as roupas de todo mundo. À noite, a sala vira quarto, quando a senhora, junto da menina Vitória, puxa o sofá-cama. É o jeito de acomodar mãe e netos.
Na cozinha, as portas dos armários denunciam o uso por bastante tempo. Mas tudo é limpo e organizado, na medida do possível, pelas mãos da senhorinha.
Assim como a ingenuidade no pedido das crianças, a mãe também mostra que no fundo carrega o pedido de Natal ao bom velhinho, de que consiga presentear as crianças. “Para eles, pouca felicidade já é grande. Meu desejo e a minha tranquilidade é que eles vivam bem. Quero montar um parquinho, brinquedos porque eu não tenho dinheiro para levar eles para qualquer lugar. Eles vieram para me completar e fazer a minha alegria”.
Quem quiser ajudar a família, o endereço é Rua Lagoa Grande, 163, Lagoa Parque.