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Comportamento

Para se conectar com avô que nunca conheceu, neta reconstrói túmulo

Após 30 anos da morte do avô, neta volta ao cemitério e refaz túmulo, como homenagem à história dele.

Vanessa Ayala | 10/08/2021 07:44
Jéssica e o seu pai José, na reconstrução do túmulo do avô. (Foto: Paulo Francis)
Jéssica e o seu pai José, na reconstrução do túmulo do avô. (Foto: Paulo Francis)

Apesar da vida não ter dado tempo para a engenheira civil Jéssica Thais Neves da Silva, de 30 anos, conhecer o avô materno, ela nunca o tirou do coração. Ela nasceu dois meses depois da morte dele, mas a família nunca deixou que sua história fosse esquecida. Com isso, ela cresceu amando o avô e decidiu, após 30 anos, voltar ao cemitério para reconstruir o túmulo dele.

Ainda na infância, Jéssica conta que a mãe Maria Aparecida Neves, a levava ao cemitério rezar e visitar o túmulo do avô. E mesmo sem nunca ter tido contato com ele, sentia orgulho em ser sua neta. “Ele faleceu em dezembro de 1990 e eu nasci fevereiro de 1991, minha mãe conta que o sonho dele era me conhecer”, diz.

Jéssica na reconstrução do túmulo de seu José. (Foto: Paulo Francis)
Jéssica na reconstrução do túmulo de seu José. (Foto: Paulo Francis)

Com o passar dos anos, Jéssica observou que o túmulo estava deteriorada e prometeu que reconstruiria quando se formasse. "Tanto para homenagear ele como para provar que eu podia fazer com as minhas próprias mãos, mostrar que as mulheres podem botar a mão na massa”, brinca.

Jéssica é a primeira engenheira da família e conta que passou por muitos desafios para conquistar o diploma. "Já me falaram que eu não ia conseguir me formar e que eu não ia conseguir trabalho na área. Isso que estou fazendo é um incentivo também para as mulheres”, comenta. “Mulher também pode assentar um piso, bater uma massa, construir uma casa e cuidar do filho”, acrescenta.

A engenheira contou com a ajuda do pai, José Walter da Silva, de 62 anos. “Começamos a obra semana passada, destruí o túmulo antigo, tijolo por tijolo. E meu pai está me ajudando a preparar a massa para rebocarmos, vamos assentar a cerâmica de vidro e também a pedra de mármore para terminar até sexta-feira”, diz.

A obra é financiada pela mãe e tia, que sonharam junto a reconstrução do túmulo. “É um gesto simples, mas de coração”.

Emocionada, Jéssica descreve com carinho a história do avô, que morreu há 30 anos, vítima de doença de chagas. “Ele era mineiro, tudo que podia fazer de bom para outras, pessoas ele fazia, era eletricista da cidade de Ribas do Rio Pardo. Quando minha mãe era mais nova, conta que eles viviam em chácara e que ele adorava cuidar dos bichos e também ensinou meu pai a mexer com instalação elétrica”, explica.

José revela que o sogro deixou muitos ensinamentos. “Ele me ensinou a ter atitude. O que é meu é meu, o que não é meu eu não mexo, ele era muito certinho”, comenta.

José Walter da Silva em meio a obra no cemitério. (Foto: Paulo Francis)
José Walter da Silva em meio a obra no cemitério. (Foto: Paulo Francis)

O pai da engenheira também conta que está com um projeto de lançar dois livros, um falando sobre o luta da mulher na sociedade, como a história da filha e outro falando sobre a vida. “Esse tem muito do seu José”, explica. “Nessa caminhada, tenho esse prazer de escrever, temos muitas histórias por aí que não são valorizadas e precisamos contar”, diz José.

Para Jéssica, seu avô, além das lembranças, deixou um legado. “Mesmo não o conhecendo, ele deixou exemplo para nós, um modelo de fé, amor e honestidade, para mim, é um sentimento que não tem como descrever. Dinheiro nenhum no mundo pagaria esse gesto, é de gratidão mesmo, é uma forma de agradecer pela vida, pela família, pela minha formação, e como eu não conheci, ele é como se estivesse o presenteando”, finaliza Jéssica.

José e Jéssica durante a reforma de túmulo no cemitério Santo Amaro. (Foto: Paulo Francis)
José e Jéssica durante a reforma de túmulo no cemitério Santo Amaro. (Foto: Paulo Francis)


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