'Patrolando' o passado, Capital não se importa com seu próprio tempo
Com relógios que não funcionam até casas que identificam a cidade, preservação da história precisa caminhar
Na Avenida Duque de Caxias, o Relógio das Flores fica cada vez mais descaracterizado e, apesar da estrutura estar bonita, o mecanismo da Avenida Afonso Pena com Calógeras já não tem marcado as horas. Como uma metáfora para a cidade, os dois itens fazem refletir sobre como Campo Grande não se preocupa com seu próprio tempo.
Completando 124 anos, a capital de Mato Grosso do Sul pode ser considerada jovem em relação a outras cidades. E, apesar da história recente de urbanização, muitas de suas características históricas não são bem preservadas.
Neste ano, o Lado B fez uma série de matérias falando sobre como endereços que são a cara da cidade vêm definhando. Entre eles estão a casa abandonada do ex-vereador Paulo Pedra, o coreto da Praça Cuiabá, prédios da Avenida Calógeras e o espaço esquecido da Rotunda.
Unindo os relógios que não funcionam aos endereços citados e uma observação geral pela cidade, moradores comentam sobre como a dinâmica de Campo Grande em relação à sua história precisa mudar.
Nesta semana, usando a bandeira da cidade como exemplo da atenção que falta com símbolos que nos representam, Marcelo Landim reparou que a bandeira hasteada no mastro da Afonso Pena com 14 de Julho estava “surrada”.
“Já faz bastante tempo que está estragada, destruída. A gente se sente mal de ver o símbolo da cidade sendo maltratado”, resume Marcelo, trabalhador da área central de Campo Grande.
Para ele, que veio do interior de São Paulo, mas já se considera campo-grandense, os detalhes como manter a bandeira saudável são parte dessa mudança necessária de pensamento. E, para alegria e esperança do morador, uma nova bandeira já foi inserida por ali.
Sem tanta sorte com as melhorias pensadas enquanto necessárias, o comerciante Gabriel Gomes de Sá mora na região da Vila dos Ferroviários há mais de 20 anos. Enquanto ele escolheu manter a estrutura da casa de madeira em que vive bem preservada, comenta que não vê cuidado semelhante com a história arquitetônica da cidade.
“Parece que querem sair patrolando tudo sem nem pensar, acho que a preocupação é muito com o que vai acontecer no futuro e nada com o que já aconteceu”, diz Gabriel.
Questionado sobre como vê a relação de Campo Grande e a valorização histórica, ele explica que sente uma despreocupação em geral. “Acho que ainda precisa melhorar muito, esse cuidado não existe hoje”, comenta.
Seja por casas que possuem características antigas e que formam o rosto da cidade e estão abandonadas ou aquelas que já foram desmanchadas, o morador defende que algo precisa ser alterado.
Vizinha da casa de Paulo Pedra, Anahí Ortale compartilha da opinião de Gabriel. Comerciante, ela explica que vê tanto os bairros quanto a região central perdendo suas narrativas históricas.
“Essa casa aqui na esquina mesmo é linda, mas está abandonada há muito tempo. Acredito que falta tanto apoio de políticas públicas para incentivar a preservação quanto também uma cultura por parte da população”, diz Anahí.
Para ela, a cidade possui bons exemplos como a Casa do Artesão, mas argumenta que ainda são poucos quando pensamos no cenário geral.
Em relação aos relógios, a reportagem solicitou nota retorno à Prefeitura de Campo Grande questionando se há previsão para manutenção dos dois endereços, entretanto não houve retorno até o momento.
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