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Comportamento

'Patrolando' o passado, Capital não se importa com seu próprio tempo

Com relógios que não funcionam até casas que identificam a cidade, preservação da história precisa caminhar

Aletheya Alves | 26/08/2023 08:03
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Relógio das Flores é metáfora que diz sobre como cidade não se preocupa com seu tempo. (Foto: Juliano Almeida)
Relógio das Flores é metáfora que diz sobre como cidade não se preocupa com seu tempo. (Foto: Juliano Almeida)

Na Avenida Duque de Caxias, o Relógio das Flores fica cada vez mais descaracterizado e, apesar da estrutura estar bonita, o mecanismo da Avenida Afonso Pena com Calógeras já não tem marcado as horas. Como uma metáfora para a cidade, os dois itens fazem refletir sobre como Campo Grande não se preocupa com seu próprio tempo.

Completando 124 anos, a capital de Mato Grosso do Sul pode ser considerada jovem em relação a outras cidades. E, apesar da história recente de urbanização, muitas de suas características históricas não são bem preservadas.

Neste ano, o Lado B fez uma série de matérias falando sobre como endereços que são a cara da cidade vêm definhando. Entre eles estão a casa abandonada do ex-vereador Paulo Pedra, o coreto da Praça Cuiabá, prédios da Avenida Calógeras e o espaço esquecido da Rotunda.

Unindo os relógios que não funcionam aos endereços citados e uma observação geral pela cidade, moradores comentam sobre como a dinâmica de Campo Grande em relação à sua história precisa mudar.

Na Avenida Afonso Pena com Calógeras, relógio também não funciona. (Foto: Juliano Almeida)
Na Avenida Afonso Pena com Calógeras, relógio também não funciona. (Foto: Juliano Almeida)
Bandeira de Campo Grande permaneceu "surrada" até poucos dias antes do aniversário. (Foto: Juliano Almeida)
Bandeira de Campo Grande permaneceu "surrada" até poucos dias antes do aniversário. (Foto: Juliano Almeida)
Novo item foi inserido pela Prefeitura na esquina da Avenida Afonso Pena com 14 de Julho. (Foto: Juliano Almeida)
Novo item foi inserido pela Prefeitura na esquina da Avenida Afonso Pena com 14 de Julho. (Foto: Juliano Almeida)

Nesta semana, usando a bandeira da cidade como exemplo da atenção que falta com símbolos que nos representam, Marcelo Landim reparou que a bandeira hasteada no mastro da Afonso Pena com 14 de Julho estava “surrada”.

“Já faz bastante tempo que está estragada, destruída. A gente se sente mal de ver o símbolo da cidade sendo maltratado”, resume Marcelo, trabalhador da área central de Campo Grande.

Para ele, que veio do interior de São Paulo, mas já se considera campo-grandense, os detalhes como manter a bandeira saudável são parte dessa mudança necessária de pensamento. E, para alegria e esperança do morador, uma nova bandeira já foi inserida por ali.

Sem tanta sorte com as melhorias pensadas enquanto necessárias, o  comerciante Gabriel Gomes de Sá mora na região da Vila dos Ferroviários há mais de 20 anos. Enquanto ele escolheu manter a estrutura da casa de madeira em que vive bem preservada, comenta que não vê cuidado semelhante com a história arquitetônica da cidade.

“Parece que querem sair patrolando tudo sem nem pensar, acho que a preocupação é muito com o que vai acontecer no futuro e nada com o que já aconteceu”, diz Gabriel.

Morador da Vila dos Ferroviários, Gabriel defende que cidade precisa pensar mais no passado. (Foto: Juliano Almeida)
Morador da Vila dos Ferroviários, Gabriel defende que cidade precisa pensar mais no passado. (Foto: Juliano Almeida)

Questionado sobre como vê a relação de Campo Grande e a valorização histórica, ele explica que sente uma despreocupação em geral. “Acho que ainda precisa melhorar muito, esse cuidado não existe hoje”, comenta.

Seja por casas que possuem características antigas e que formam o rosto da cidade e estão abandonadas ou aquelas que já foram desmanchadas, o morador defende que algo precisa ser alterado.

Vizinha da casa de Paulo Pedra, Anahí Ortale compartilha da opinião de Gabriel. Comerciante, ela explica que vê tanto os bairros quanto a região central perdendo suas narrativas históricas.

Antiga casa do Paulo Pedra é um dos exemplos de prédios históricos abandonados. (Foto: Juliano Almeida)
Antiga casa do Paulo Pedra é um dos exemplos de prédios históricos abandonados. (Foto: Juliano Almeida)
Anahí acredita que falta de preocupação com história poderia ser mudada. (Foto: Juliano Almeida)
Anahí acredita que falta de preocupação com história poderia ser mudada. (Foto: Juliano Almeida)

“Essa casa aqui na esquina mesmo é linda, mas está abandonada há muito tempo. Acredito que falta tanto apoio de políticas públicas para incentivar a preservação quanto também uma cultura por parte da população”, diz Anahí.

Para ela, a cidade possui bons exemplos como a Casa do Artesão, mas argumenta que ainda são poucos quando pensamos no cenário geral.

Em relação aos relógios, a reportagem solicitou nota retorno à Prefeitura de Campo Grande questionando se há previsão para manutenção dos dois endereços, entretanto não houve retorno até o momento.

Grade de concreto é lembrança de casa que foi desmanchada na Rua Alan Kardec. (Foto: Juliano Almeida)
Grade de concreto é lembrança de casa que foi desmanchada na Rua Alan Kardec. (Foto: Juliano Almeida)
Do muro ao telhado, construção é exemplo do que integrava a identidade histórica da cidade. (Foto: Google Maps)
Do muro ao telhado, construção é exemplo do que integrava a identidade histórica da cidade. (Foto: Google Maps)

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