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Comportamento

“Professora raiz”, Mariazinha fez da UFMS sua casa por 35 anos

Sepultamento da professora Maria da Graça Morais será em Belo Horizonte, Minas Gerais

Aletheya Alves | 17/11/2022 13:46
Maria da Graça Morais se tornou a professora Mariazinha na UFMS. (Foto: Arquivo pessoal)
Maria da Graça Morais se tornou a professora Mariazinha na UFMS. (Foto: Arquivo pessoal)

Por 35 anos, Maria da Graça Morais, mais conhecida como professora Mariazinha, fez da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) sua casa e, mesmo aposentada, continuou sendo lembrada pela academia. Definida como “professora raiz” pelos estudantes, Mariazinha deixou um pouco de si em cada um dos milhares de alunos que acumulou no decorrer dos anos.

Entre 1985 e 2020, a professora integrou o quadro de servidores da UFMS na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia em Campo Grande. Doutora em Ciência Animal, um dos títulos dados pelos colegas e alunos é de que Maria foi realmente uma pioneira.

Com a pandemia, a professora retornou para Minas Gerais e hoje os alunos e colegas foram avisados sobre seu falecimento. Assim como o velório, o sepultamento será em Belo Horizonte. Já a causa da morte não foi informada.

“Nós temos alunos em vários segmentos da agropecuária e todos eles têm em seu DNA a formação deixada pela professora Mariazinha. Ela sempre teve seriedade e uma visão muito altruísta com os alunos, ajudando em todas as formas que você puder imaginar”, conta o professor Gumercindo Loriano Franco.

Colega de Maria por 17 anos na universidade, Gumercindo conta que a professora participou da formação de praticamente todos os médicos veterinários e zootecnistas formados pela UFMS. “Ela foi desde professora até gestora, junto com um grupo com alguns professores criou o curso de pós-graduação. Hoje temos mestrado e doutorado em Ciência Animal e Mariazinha foi a primeira coordenadora”, explica.

Em seus 35 anos de universidade, formou a maior parte dos médicos veterinários e zootecnistas. (Foto: Arquivo pessoal)
Em seus 35 anos de universidade, formou a maior parte dos médicos veterinários e zootecnistas. (Foto: Arquivo pessoal)
Uma das inúmeras colações em que participou. (Foto: Arquivo pessoal)
Uma das inúmeras colações em que participou. (Foto: Arquivo pessoal)

Fruto dos esforços da professora para conquistar a abertura da pós-graduação, Camila Ítavo foi sua primeira orientanda de mestrado e hoje é professora e vice-reitora da UFMS. “A professora Mariazinha representa a total dedicação e amor à ciência e à educação. A vida dela era a UFMS, seus alunos, a pesquisa científica e a pós-graduação para o desenvolvimento do agronegócio”, resume.

Camila conta que desde o momento em que ingressou no programa, a rotina com a professora era de domingo a domingo. “Estávamos todos os dias na UFMS, juntas em aula, no laboratório, no campo, fazendo análises estatísticas e redigindo artigos científicos. Estávamos sempre juntas e conectadas e nessa proximidade ganhei uma segunda mãe, uma grande orientadora”.

Com uma personalidade muito própria, a professora também segue sendo lembrada por sua exigência e carinho ao mesmo tempo. Camila conta que Mariazinha sempre esteve à frente do tempo, “que acreditou no potencial dos estudantes, os incentivava e sempre agia para que nos tornássemos pessoas melhores tecnicamente e também melhores como pessoas de uma forma integrada eticamente”.

Camila ainda guarda fotos impressas da época de pesquisa. (Foto: Arquivo pessoal)
Camila ainda guarda fotos impressas da época de pesquisa. (Foto: Arquivo pessoal)
Professora Mariazinha ao lado dos alunos. (Foto: Arquivo pessoal)
Professora Mariazinha ao lado dos alunos. (Foto: Arquivo pessoal)

Ajudas que iam além

Erick Lemes Gamarra também foi seu orientando no mestrado e conta que a ajuda oferecida pela professora realmente ia além do que o costume.

“Ela ajudava todos os seus orientandos tirando dinheiro do seu salário para realizar as pesquisas. Sabemos como as coisas são burocráticas e nas pesquisas o tempo importa muito em um experimento realizado. Então, ela ajudava com dinheiro para comprar produtos para análises laboratoriais, ajudava os orientandos para viajar e participar de projetos em outros estados”, conta Erick.

Erick conta que foi um dos orientandos da professora Maria. (Foto: Arquivo pessoal)
Erick conta que foi um dos orientandos da professora Maria. (Foto: Arquivo pessoal)

Outra de suas alunas, Marlova Mioto conta que conheceu a professora durante sua graduação em 2008 e seguiu sendo sua estudante até concluir o doutorado, em 2018. Zootecnista, ela detalha que as características de Mariazinha iam além da exposição em aulas.

“Ela era aquela professora raiz que só se encontra dentro de uma universidade federal. Desde as pequenas pausas durante a aula para fumar um cigarro no corredor até ajudar com recursos próprios onde trabalhava, ou melhor, vivia”, explica Marlova.

E, se importando com a formação dos estudantes, até história de prova precisando ser refeita segue na memória de Marlova. Ainda na graduação, a professora imaginou que a então estudante havia colado e pediu para que determinada questão fosse refeita.

Marlova conta que Maria ficou chateada por não ter pedido ajuda quando não entendeu o conteúdo e ali mesmo preparou uma aula particular. “Até hoje não me esqueço mais, Rhizobium e Bradyrhizobium estamos juntos até hoje”, brinca.

Agora, com o falecimento da professora, são mesmo as lembranças que voltam a ficar cada vez mais vivas. “Tive a certeza de que a UFMS perdeu uma grande protagonista de sua história, assim como sei que seu legado está vivo em cada um que teve o prazer de compartilhar seu momento de aprendizado com ela”.

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