Protetores entram até na Justiça para acompanhar vida de animais adotados
Está cada vez mais burocrático o processo de adoção de cães e gatos; protetores dizem que muitos voltam a ser maltratados
O processo de adoção de animais resgatado está cada vez mais difícil e burocrático. Na hora de entregar o bichinho, tem até contrato prevendo a devolução do animal caso não sejam cumpridas uma série de exigências e compromissos. O motivo? Muitos dos animais tirados das ruas acabam voltando para uma situação de abandono, doenças e até morte, por conta da negligência dos novos "donos".
A bióloga e protetora Marluce da Costa, 25 anos, chegou a recorrer à Justiça para ter o direito de acompanhar a vida da gatinha Gracinha, resgatada por ela e doada para outro tutor, há cerca de dois meses. "Eu sempre faço um termo assinado em que a pessoa fica obrigada a me dar notícias. Não precisa ser todo dia, mas de vez em quando", explica. "Na primeira vez, o dono me recebeu na casa dele, eu vi que estava tudo certinho. Depois, ele começou a se recusar".
Marluce procurou a Defensoria Pública e, numa audiência conciliatória, foi acordado que o atual tutor de Gracinha tinha que receber Marluce ao menos uma vez por mês, para ela ver as condições da gatinha. Mas, neste mês, a protetora já não conseguiu contato e promete entrar na Justiça para resolver a questão judicialmente.
Parece exagero, mas a revisora de textos e protetora Greice Maciel, de 32 anos, diz que já cansou de passar por situações em que os animais voltam a sofrer maus-tratos e precisam ser salvos novamente. "Já aconteceu muitos casos de eu ter que tomar o animal de volta porque a pessoa não cumpriu o contrato. A gente tem tanto trabalho para recuperar esses animais, temos gastos, fazemos sacríficos. É como se fossem meus, o amor que desenvolvo", analisa.
Em um dos casos recentes, a cadela Meg Luísa foi tirada das ruas, muito magra e debilitada. Depois de intenso tratamento, ganhou um novo lar. A nova dona sempre dava notícias para Greice, até que começou a evitar contato. Desconfiada, a protetora foi até o local e encontrou Meg Luísa magra novamente, com cegueira num olho e infecção no útero. "A dona simplesmente abandonou o tratamento que a Meg tinha que fazer".
Greice tomou o animal de volta e, com a ajuda de outros protetores, ela foi tratada novamente. Recuperada, ganhou novamente um novo lar, em Três Lagoas. Dessa vez, Greice acha que vai dar tudo certo.
No contrato que ela criou para adoção de animais, existem várias obrigações, como não negligenciar o tratamento veterinário, dar todas as vacinas, ter quintal aberto, portão fechado, colocar plaquinha de identificação na coleira, se preciso castrar o bichinho, entre outros. "Eu sempre faço uma entrevista, procuro saber porque a pessoa quer adotar um animal".
A protetora e jornalista Michelle Rossi já sofreu muito por conta de animais que morreram logo após a adoção. "Mesmo assinando contrato, depois da adoção muita gente fecha as portas pra gente, e depois os animais morrem. É muito doloroso você resgatar um animal, devolver a vida a ele, e de repente ele morre, por negligência", aponta. "Eu considero vital acompanhar de perto, pelo menos nos primeiros momentos", avalia.
"Muita gente não entende todas as responsabilidade que envolvem cuidar de um animal", finaliza Greice, disposta a fazer de tudo para garantir uma vida digna para os animais, nem que pra isso seja necessário resolver a questão judicialmente.
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