Qual história contar no Dia dos Trabalhadores?
São centenas de pessoas em filas para conseguir seguro-desemprego, auxílio do governo ou até uma recolocação no mercado
Em pé já há uma hora, Julia Benites Anastácio, de 21 anos, está diante da Funsat (Fundação Social do Trabalho e SINE Municipal de Campo Grande). A menina de cabelo curtinho, sorriso tímido, tatuagens nos braços, espera na fila reservada para pessoas que buscam vagas de emprego.
“Vi no site que tinha vagas e vim ver quais são, e passar por uma entrevista se precisar”, explica.
Julia cursou a faculdade de Nutrição por três anos, mas não terminou. Trabalhou em algumas empresas antes de ser dispensada da última, uma distribuidora de salgados, há dois meses, por conta da crise do novo coronavírus. “Foi bem no começo da pandemia, a empresa atendia escolas e como as aulas pararam, tiveram que me dispensar”.
A jovem também tem experiência no setor de administração e recepção, um caso típico de pessoas com o perfil dela, que estão iniciando no mercado de trabalho.
Ela não tem a ajuda dos pais em Campo Grande. Vive com o namorado e sempre trabalhou para se sustentar. “É bem complicado, eu não posso ficar parada, porque as contas não param”.
Despeço-me de Julia quando a fila começa a andar. Ela logo entra em meio a outras tantas pessoas na mesma situação dela. São dezenas de frustrações e, ao mesmo tempo, esperança de ali, conseguirem uma ocupação que as façam levar uma vida minimamente digna.
Nos vários dias frequentando filas nas duas principais fundações de trabalho de Campo Grande, Funsat e Funtrab, testemunhamos histórias iguais as de Julia; gente que perdeu emprego de anos por conta do coronavírus. Gente qualificada. Gente nova, velha, branca, negra, homem, mulher. Gente.
É angustiante ver como essas situações desesperam o semblante dos candidatos. Chegamos, na Funtrab, a conversar com desempregados que estavam desde as 2h da manhã na fila, quando a agência abria às 7h30.
Gente que era o número 150 da fila. É, isso mesmo, uma fila com 150 pessoas, sem contar as que não conseguiram ser atendidas. Esses últimos chegavam às 7h da manhã e saiam às 16h, muitas vezes sem comer nada.
As agências dos bancos públicos batendo recorde de pessoas na fila, mais de 200. Todo mundo buscando o auxílio de R$600 reais concedido pelo Governo Federal para trabalhadores autônomos totalmente parados.
Vimos a enorme dificuldade de seguir as regras de distanciamento impostas por um vírus que ceifou o emprego daquelas pessoas aglomeradas, facilitando o contágio desse mesmo vírus. Um ciclo cujo motor era o fator que os levou ali.
Julia sai com um novo papel não mão e um sorriso novo também, mais aberto. É o encaminhamento para uma entrevista imediata de emprego como recepcionista em um consultório médico. “Fiz duas entrevistas rápidas ali dentro (Funsat), e já me encaminharam”.
Fomos com Julia ao local da entrevista. Ela demorou menos de dez minutos lá dentro, o que me surpreendeu um pouco. “Bom, eles só confirmaram algumas informações que já tinham e disseram que entrariam em contato mais tarde”.
Perguntamos se tinham mais candidatos. “Eles falaram que tinham mais três meninas”, e o sorriso continuava ali.
Combinei de entrar em contato mais tarde pra atualizar. Por meio de mensagem ela disse: “Eu que entrei em contato com eles. Eles receberam mais nove meninas. Agora é esperar”.
Já estava torcendo por ela, pela história da reportagem, por um final feliz. Só que no Dia do Trabalhador, essa é história que temos pra contar. “Agora é esperar”. Assim que Julia der a resposta, que esperamos ser positiva, a gente volta aqui para te contar.
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