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Comportamento

Quando a barriga surgiu, pandemia chegou e ninguém me viu grávida

Sem poder exibir barrigão e ser paparicada como merece, futuras mães se isolaram pra aproteger a família e se apegam na esperança

Alana Portela | 10/05/2020 07:12
Fernanda Nascimento Herrero e o esposo, Guilherme Henrique Cunha Herrero felizes ao descobrir o sexo do bebê. (Foto: Arquivo pessoal)
Fernanda Nascimento Herrero e o esposo, Guilherme Henrique Cunha Herrero felizes ao descobrir o sexo do bebê. (Foto: Arquivo pessoal)

Quando o sonho da gravidez se tornou realidade veio a pandemia do novo coronavírus e frustrou os planos das futuras mamães. Em Campo Grande, as gestantes estão isoladas para protegerem a família e tiveram que abrir mão de algumas vontades, como exibir o barrigão livremente, fazer álbum de fotos e até de ser paparicadas como manda a tradição.

O isolamento, apesar de necessário, afasta amigos, colegas e parentes que agora não têm a oportunidade de acompanhar de pertinho o desenvolvimento da gravidez. A quarentena faz perder na noção do tempo, esquecer ou até ficar por fora das novidades, por isso, Janaína Lobo Sant’Anna avisa. “Para quem não sabia, sim, tem um bebê na minha barriga”.

Ela é psicóloga, tem 34 anos e está na 29ª semana da gestação. Há quase dois meses dentro de casa, Janaína resolveu publicar uma foto exibindo o barrigão e falando sobre estar grávida.

“Gravidez é uma incógnita, um mistério para qualquer mulher. Mesmo para aquelas mais práticas e pragmáticas como eu, a ansiedade, expectativas, medos e angústias invadem nosso ser. Afinal, tem outro ser habitando em nós, dependendo de nossas melhores decisões. Idealizamos tudo, o nome, o rostinho, o quarto, as fotos, o chá para os amigos, os mimos, as compras e aí, vem uma pandemia mundial sem precedentes, sem avisar quando se vai, sem explicar o que levará de nós. Eu gosto de saber tudo, mas hoje não sei de muito. Eu e meu filho não sabemos de muito. Pra somar, vem acompanhado de um cenário político de dar medo, economia, incertezas, quando queríamos certezas. Mas, a vida também sabe o que faz, em meio ao caos encontramos momentos de sol radiante, de riso fácil com a família, de amor dos amigos, de esperança no coração. Estar grávida na pandemia está sendo um desafio, às vezes, tenho que respirar e pedir à Deus, aos cosmos, ao planeta, aos anjos sabedoria, luz e calma. E aos poucos, eles nos dão tudo isso. Foco, força e fé. Seguimos”.

O desabafo chamou atenção dos amigos virtuais e teve chuva de comentários desejando energia positiva a mamãe de primeira viagem. Janaína aguarda ansiosamente pela chegada de Rafael e conta que a gravidez foi planejada, devido ao lúpus. “Tenho a doença autoimune e engravidei rápido”, conta.

Janaína Lobo Sant'Anna na luz do sol, toda feliz passando a mão da barriga. (Foto: Arquivo pessoal)
Janaína Lobo Sant'Anna na luz do sol, toda feliz passando a mão da barriga. (Foto: Arquivo pessoal)

O amor quase não coube no peito quando descobriu que Rafael estava a caminho, porém, apesar da felicidade, ela resolveu contar a novidade devagar. “Para a família foi relativamente rápido, após as primeiras consultas, mas para os amigos demorei mais porque estava ansiosa, falei apenas para os mais próximos, aguardei três meses para revelar a todos”.

Da mesma forma ocorreu no trabalho. “Fui processando a informação por conta do meu histórico de vida, me sentia mais confortável assim”, diz. Janaína é uma pessoa mais reservada, não tinha muito contato com os outros até por questões de saúde. No entanto, foi só o coronavírus se espalhar pela cidade que passou a enxergar as coisas de outra forma.

“Sou discreta, mas o vírus deu outra perspectiva, de estar vendo pouco as pessoas mais próximas. Esses dias, participei de um chá a distância, foi estranho porque a gente está acostumada a se abraçar”.

Desde que soube da gravidez, que tinha mais um coraçãozinho batendo dentro do seu corpo, a felicidade só aumentou. Cada dia é uma vitória, os primeiros ultrassons, chutes e quando menos espera a barriga já está aparecendo. Alguns planos, como sessão de fotos, estavam programados, porém tiveram de mudar.

“Queria fazer fotos, mas não está podendo, então a gente vai tendo que se ajustar. Mesmo para as pessoas mais discretas, está sendo bem estranho, de compartilhar pouco. Fiz o enxoval por telefone, mas um pouco antes do coronavírus chegar, a gente estava indo nas lojas, vendo cortina, papel de parede”.

Antes da quarentena a barriga já tinha começado a crescer, mas ainda não estava tão aparente. “Poucas pessoas me viram com a barriguinha, era ótimo ser paparicada, uma delícia”, lembra. Agora, sem poder sair, ela fica chateada. “Me sinto frustrada, mas tento não me apegar a isso devido a tudo que está acontecendo no mundo”.

Para ela, após a pandemia, algumas pessoas vão estranhar a ver com o filho nos braços. “Porque não estão acompanhando. No pós-parto é normal as pessoas visitarem, mas agora não. A gente vai perder um período afetivo intenso, imagino que mesmo diminuindo o pico, não será fácil voltar ao que era antes se não fizermos um grande esforço, pois além do estranhamento vai ter o afastamento”.

A felicidade tomou conta do casal, Fernanda e Guilherme Henrique quando descobriram, junto com a sobrinha, que o bebê é menina. (Foto: Arquivo pessoal)
A felicidade tomou conta do casal, Fernanda e Guilherme Henrique quando descobriram, junto com a sobrinha, que o bebê é menina. (Foto: Arquivo pessoal)

Lívia - A advogada Fernanda Nascimento Herrero, 34 anos, também está à espera da primeira filha, a Lívia. Ela está na 34ª semana da gestação e comenta que a gravidez foi planejada. “Desde que casei com meu marido falávamos que quando completasse dois anos iria engravidar. No começo ficamos nervosos com a notícia, mas foi bacana”.

A novidade a fez saltar de alegria e ligar para os amigos e família contando sobre a gravidez. “Não consegui esperar como muitas, ainda mais porque trabalho num escritório grande, onde só na sala que fico tem 70 pessoas. É todo mundo junto, então não deu para controlar e contei, mas só não postei nas redes sociais”.

Não demorou muito e logo Fernanda começou a receber os presentinhos. “O primeiro foi da minha chefa, uma bolsa para cólica. Na sequência a família e amigos deram roupinhas, sapatinhos. Tenho sobrinhas pequenas que ficaram doidas com a novidade e me deram presentes, mesmo sem aparecer, elas beijavam a minha barriga”, conta.

Estava dando tudo certo, a Lívia estava bem, gravidez ok, mas o coronavírus atrapalhou alguns planos. “Meu irmão mora com minhas sobrinhas em Três Lagoas, a avó do meu marido vive no Paraná e minha avó em Dourados. Tínhamos planejado de todos estarem aqui no nascimento. Minha cunhada é fotógrafa de parto, tinha toda uma preparação, mas agora não vai dar”.

Fernanda relata que no início, ficou muito assustada com a questão da pandemia. “Não sabia o que ia acontecer. Fiquei apreensiva porque não podia organizar nada, estava tudo fechado, a sorte que os móveis já tinham chegado. Corri para ver o que poderia fazer”, lembra.

Quando o vírus se espalhou na Capital, ela entrou em quarentena. A advogada compreende a necessidade do isolamento e está cumprindo todas as medidas de segurança para proteger a si e ao bebê. No entanto, para Fernanda que sonhava em viver uma gravidez cheia de amor e rodeada de pessoas queridas, ter que se afastar é triste.

“Minhas amigas pedem para mandar fotos da gestação, mas acabo não tirando porque fico em casa, onde a gente não se arruma muito. Não vejo minhas sobrinhas mais, então todos aqueles planos foram se frustrando”.

Para não deixar esse momento passar em branco, Fernanda está se organizando para realizar a sessão de fotos com a cunhada na semana que vem. “Como não tirei fotos e as pessoas não me viram, quero pelo menos ter o registro da gravidez porque, na época que tenho barrigão mesmo, quase ninguém me vê”.

“Essa é a fase da gravidez você é muito paparicada. As pessoas fazem de tudo por você, te agradam, dão carinho, atenção, tem todo esse privilégio na gestação e, agora, com esse isolamento não tenho contato com as pessoas”, declara.

O parto está previsto para o dia 15 de junho, porém não vai sair completamente como ela esperava. “Meu sogro é obstetra, cunhada fotógrafa, o esposo do meu lado, as minhas amigas me visitariam, tinha essa expectativa, mas infelizmente, não sei como vai ser. Não consegui fazer chá de bebê”.

São coisas que a chateiam, mas, por outro lado, ficar em casa também é bom para que possa se cuidar melhor. “No final da gravidez, ficamos bastante inchada, não tem mais roupa ou sapato que sirva. Home office, confesso é positivo porque fico mais à vontade em casa, com as roupas e trabalhando normalmente de forma confortável. O importante é ter uma gravidez saudável e o bebê está super bem”, destaca.

Maribelle dos Santos Serpa deitada com um sapatinho azul na barriga, com o nome do filho Jhuan no fusca. (Foto: Arquivo pessoal)
Maribelle dos Santos Serpa deitada com um sapatinho azul na barriga, com o nome do filho Jhuan no fusca. (Foto: Arquivo pessoal)

3ª mamãe - Maribelle dos Santos Serpa, 39 anos, é diretora pedagógica e conta que estava esperando pela gravidez há um ano e cinco meses. “O sonho se realizou com a confirmação em outubro de 2019. Consegui guardar segredo do meu esposo durante 15 dias, até que contei pra ele e ficou ansioso demais”.

Ela fez o exame de sangue que comprovou a gestação e, após, deram a notícia a família e aos amigos mais próximos. “Todos ficaram felizes porque já estavam cobrando o herdeiro. Confesso que estou aproveitando da melhor maneira, estou curtindo estar em casa, cuidando mais de mim e dos preparativos para a chegada do nosso bebê”, diz.

Maribelle sentada em frente ao fusca, segurando um balão em formato de estrela com o nome do filho. (Foto: Arquivo pessoal)
Maribelle sentada em frente ao fusca, segurando um balão em formato de estrela com o nome do filho. (Foto: Arquivo pessoal)

A gestação foi evoluindo, porém, poucas pessoas tiveram a chance de ver o crescimento do barrigão de Maribelle. Isso porque, a barriga se destacou em fevereiro e nas primeiras semanas de março iniciou o isolamento.

“Fiquei triste por não poder estar em contato com as pessoas e realizar o chá de fraldas que seria 25 de abril, entretanto, não me deixei abater e, sim reinventar o momento com atividades em casa e, curtir a família e amigos pelas redes sociais e chamadas de vídeos”.

A futura mamãe conseguiu fazer fotos de gestante antes do isolamento começar. Assim, ela também pode aproveitar o momento olhando as fotos e guardando o álbum para mostrar ao filho, Jhuan. Já se passaram 38 semanas desde a descoberta da gravidez, a ansiedade toma conta e os pais se preparam para receber o pequeno cheios de amor e carinho.

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