Um dia aqui, outro acolá: na Capital, escolas de samba têm foliões nômades
O desfile de Carnaval em Campo Grande se divide entre dois dias. Grupo de acesso se apresenta primeiro, enquanto o especial encerra a festividade. Apesar de samba enredos, alegorias e baterias completamente diferentes, uma coisa as escolas têm em comum: os carnavalescos. Em Campo Grande, folião é meio nômade. Hoje aqui, amanhã acolá. Um jeito de aproveitar a folia de qualquer jeito, com qualquer bandeira.
Entre os mais jovens tudo bem. O pique é outro. Diego Siguiura, de 28 anos, chamou a atenção do público ao desfilar pela Unidos do São Francisco nesta segunda-feira. Indo até o chão e cumprimentando o público, ele arrancou aplausos que quase não foram vistos na avenida.
Folião há 10 anos, eles sempre esteve com o coração e o samba no pé dividido entre duas escolas. “Hoje aqui, amanhã Igrejinha. Hoje era destaque, amanhã sou mestre-sala”. A duplicidade também permite múltiplos papeis. No entanto, ele tem o seu preferido. Justamente o que fez o público tanto aplaudir nesta noite. “O destaque, porque eu gosto de sambar, de mostrar para o povo”, conta. O sonho de quem vive entre lá e cá é de um dia também sambar na Sapucaí. “Ainda não pulei fora daqui, meu sonho é conhecer o Rio de Janeiro”, completa.
Nem os quase 80 anos nos pés impedem dona Maria do Carmo Corrêa Duque de desfilar por duas noites. “Eu ainda vou sair amanhã, se Deus quiser”, conta. Nesta segunda foi Cinderela Tradição do bairro José Abrão. Terça já é a Deixa Falar, a escola da vez.
“Eu amo, eu adoro”, justifica. A paixão se divide entre o Carnaval e a Bahia. Sem nunca ter conhecido o estado nordestino, a mulher se diz doida por baianas. Tanto é que, desde que desfila, só sai se for de vestido branco rodado e colares. “Não sei se é pelas cores, já me falaram, veste outra roupa. Não. Eu tenho um monte de foto de baiana em casa. Sempre assim”, conta. Da Bahia, Maria do Carmo só tem mesmo a vontade de conhecer, porque nasceu em Miranda e vive há décadas na Capital.
Aos 65 anos, Nirce Ortega de Oliveira, vai acumular três experiências neste Carnaval. Domingo foi a vez do desfile de blocos, segunda, da Unidos do São Francisco e terça é dia de Igrejinha. “E me pergunta se está doendo alguma coisa? Está não. É muito gratificante e eu adoro Carnaval. Aqui, eles que me caçaram, eu sempre saí na Igrejinha, mas tinha medo de sair em outra e não dar conta”.
Nirce entra na avenida novamente nesta terça, data em que as escolas do grupo especial entram em cena, na Praça do Papa, a partir das 19h30.
Ordem - A Igrejinha, que vai homenagear o carnavalesco Valdir Gomes (“Quando se iluminam as avenidas e resplandecem os salões, o luxo, o brilho e as cores desfilam na genialidade de Valdir Gomes, ícone dos carnavais”), é a primeira. Seguida da Unidos do Aero Rancho com o enredo “Do barro e da tela para a passarela – o Aero Rancho vive o sonho do artista” - uma releitura do desfile de 2004 e uma homenagem ao artista plástico Levi Dias.
Os Catedráticos do Samba, terceira escola a desfilar, promovem “Uma viagem ao mundo dos contos e fábulas da literatura infantil”. A Unidos do Cruzeiro é a quarta, com o tema “A mitologia grega à passarela do samba – os deuses gregos no carnaval brasileiro. A Deixa Falar, comandada por Salvador Dódero, vai levar alegria e cor à passarela do samba, com “Aquarela Pantaneira – uma viagem a céu aberto”. É a quinta na ordem do desfile.
A Vila Carvalho é a última, com homenagem à Mangueira, escola de samba do Rio de Janeiro, o enredo da campeã 2013 é “Minha madrinha mangueira. Sou verde e rosa de corpo, alma e coração – Carvalho e Mangueira uma só nação”. O desfile também acontece a partir das 19h30.