"Ver para crer" dita as atitudes nada preocupadas em torno do vírus
A falta de contato com casos pode ser um dos principais fatores da despreocupação das pessoas em MS, diz filósofo
Vá durante o dia ao Centro de Campo Grande, é surreal o que está rolando; um monte de gente na rua, aglomerada, sem máscara, fazendo coisas que não precisava.
Não à toa Mato Grosso do Sul tem uma das piores taxas de isolamento do Brasil, com percentual de 56,1%, o terceiro índice mais baixo do país, tendo a Capital entre as quatro piores cidades do Estado, com média de 53% de isolamento social.
Mas de onde vem essa aparente falta de preocupação com o coronavírus? Por que essa diferença de comportamento tão grande entre nós e outros estados? O Lado B foi saber e parece que descobriu um fator muito importante: a falta de contato com casos.
O professor do curso de Direito e Filosofia da Universidade Católica Dom Bosco, Clacir José Bernardi, explica que o ser humano é eminentemente sociável e se constrói a partir da relação com o outro. A imposição do isolamento seria uma ruptura nessa lógica, o que causa uma reação natural das pessoas.
“A gente acaba não aceitando aquilo que, de certa forma, limita nossa possibilidade de andarmos, de sermos, e o vírus como um inimigo “invisível” traz uma dificuldade maior de crer em sua efetividade”.
Basta perguntar pra algumas pessoas na rua. Claudinei da Silva, de 44 anos, professor de Biologia, diz estar acompanhando as notícias, mas tem tomado poucas medidas para evitar o contágio.
Ele não conhece ninguém que tenha sido infectado, e questionado se esse seria o motivo da despreocupação, titubeia. “Pode ser que sim, mas não é que estou completamente despreocupado, só não vejo essa loucura toda que estão falando”.
A operadora de caixa, Analise Souza, de 30 anos, estava sem máscara na Rua 14 de Julho, umas das mais movimentadas da cidade. Também sem contato com pessoas contagiadas, ela acha que não é pra tanto. “Eu até acredito que o vírus exista, mas não é assim como estão mostrando”.
“Não é essa loucura toda que estão falando”, “não é assim como estão mostrando”, são todas frases que transferem a responsabilidade para outras pessoas ou instituições que estariam retratando um cenário inexistente.
O professor de teatro e produtor cultural, André Tristão, sabe muito bem quão perigoso é o coronavírus. Ele, que é de São Paulo, perdeu um tio e dois amigos por conta da doença. São casos fora de Mato Grosso do Sul, mas próximos a ele.
“Apesar de já saber da gravidade, ver assim tão de perto, é sempre muito doloroso, por isso levo a covid-19 tão a sério. É higienização o tempo todo, vou sair uso máscara, luva”.
André também está preocupado com o comportamento das pessoas em Campo Grande. “Às vezes precisamos sair e vemos as pessoas sem proteção, no mercado todo mundo encostando no balcão e isso é ruim, eu sei como é perigoso”.
Professor Clacir arremata afirmando que outra característica do ser humano, o egoísmo, o faz aceitar algumas situações só depois que sofre com ela.
“Esse ser que se constrói nas relações, e que também é egoísta, acaba aceitando algumas situações da maneira mais dolorida possível, que é quando efetivamente acontece com ele, com os seus, com pessoas próximas, mas é mais difícil ter a paciência de aceitar antes da coisa acontecer”.
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