Na vontade de melhorar de vida, moradores querem mudar nome da “Rua Pindaíba”
A Rua Pindaíba no bairro Silvia Regina tem apenas quatro quadras, mas são suficientes para reunir um motel em promoção, uma banca do Jogo do Bicho e dezenas de famílias dividindo, muitas vezes, o mesmo terreno.
A casa onde Maria Honorato vive com dois filhos, a neta, uma enteada e mais 2 pessoas é emprestada da cunhada. Na garagem, um fusca com os quatro pneus furados exibe o anúncio: “Vende-se por R$ 70,00”.
Com pensão de um salário mínimo e uma dúzia de remédios para comprar, viver na Rua Pindaíba acaba com qualquer restinho de autoestima, comenta. “A gente já não anda nada bem, ainda se muda para a Rua Pindaíba...É de matar”, diz em tom desanimado.
A neta de 9 anos abraça Maria e lembra que apesar dos pesares, “quando tem dinheirinho para o churrasco, o quintal lota”. A menina é criada pelo pai e a avó. Também divide a casa com o tio de 21 anos. Nos fundos, a enteada de Maria mora com a filha e o marido.
A casa ainda esta no reboco, mas como todos estão empregados, ainda há esperança de melhorar a vida. “Fui doméstica a vida toda, mas naquele tempo ninguém respeitava a lei e registrava a gente na carteira, Agora é diferente. Quem sabe as coisas não melhoram, né?”
Maria diz que vive sim na Pindaíba, mas tem carinho para dar e recebe todos os dias a recompensa da neta. “Ela é minha mãezinha”, conta a menina.
A vizinha Débora Barbosa da Silva reclama da dificuldade em mudar o nome da rua. “A gente já está se mobilizando para trocar. Podia muito bem ser uma coisa melhor como Rua da Sorte, ou Rua da Fartura”, sugere.
Há dois anos morando na Pindaíba, a zeladora ainda tem a porta de ferro encostada em um dos muros da casa. “Não deu para instalar. Nunca sobra dinheiro. A casa ainda está pela metade”, explica.
No imóvel de cinco cômodos, herdados do pai falecido, ela mora com os 4 irmãos, o marido, 3 filhos e 1 sobrinho. “O mais complicado é pagar a conta de luz, são 120 reais todo mês”.
Mas para frente, a comerciante Neuza Aguiar também engrossa a turma pela mudança nome. Tem dias que não vende nada na loja de presentes. Depois de passar por pontos bem mais movimentados, como rua Maracaju e Júlio de Castilhos, parar na Pindaíba não trouxe boa sorte. “É muito parado. Mas o pior mesmo é quando cliente pergunta onde fica a loja e eu tenho de responder: na Pindaíba”.
Na esquina, uma banca do Jogo do Bicho é o ponto mais animado da rua. Sem se apresentar, por motivos óbvios, o apontador da banca garante que muita gente da Pindaíba já ganhou dinheiro fazendo as apostas. “Mas depois perdeu. É assim que as coisas são na vida”, filosofa.