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Consumo

Orquídeas vendidas em feira são resultado de 62 anos de dedicação de Francisco

No meio da feira da Orla Morena, as flores se destacam pela delicadeza, perfume, beleza exótica e com preços que agradam a todos os bolsos.

Kimberly Teodoro | 09/03/2019 07:47
Encantado pela delicadeza das orquídeas desde os 8 anos, hoje Francisco vende as plantas que ele mesmo cultiva (Foto: Paulo Francis)
Encantado pela delicadeza das orquídeas desde os 8 anos, hoje Francisco vende as plantas que ele mesmo cultiva (Foto: Paulo Francis)

Resultado de uma vida inteira de dedicação às plantas, as orquídeas de Francisco se destacam dos outros estandes na feira da Orla Morena, que acontece todas às quintas-feiras. Em meio a tantos outros produtos expostos, elas são delicadeza, perfume e beleza exótica.

Nascido em Dracena, interior de São Paulo, o botânico Francisco Aparecido Desmundo, cultiva orquídeas há 62 anos. Um amor que começou, por pura sorte ou destino, ainda na infância quando estudou com a filha de Noboru Suzuki, descrito por ele como “um dos maiores orquidários de São Paulo”. Todos os dias, após o almoço ele ia até a casa da amiga, onde faziam juntos as tarefas da escola, coisa rápida, mas que rendiam longas tardes na companhia de Suzuki aprendendo sobre as plantas.

Para o vendedor de flores, apreciar as orquídeas é uma questão de sensibilidade (Foto: Paulo Francis)
Para o vendedor de flores, apreciar as orquídeas é uma questão de sensibilidade (Foto: Paulo Francis)
Todas as quintas-feiras, Francisco monta o estande de flores na Orla Morena (Foto: Paulo Francis)
Todas as quintas-feiras, Francisco monta o estande de flores na Orla Morena (Foto: Paulo Francis)

“Eu ajudava ele a plantar as mudinhas, eram uns vasinhos bem pequenos e nós ficávamos a tarde inteira plantando. Aí, chegava a hora de eu ir para casa, e ele dizia assim: Leva, é presente, coloca na beirada da janela”, instruções que Francisco seguiu até que não houvesse mais espaço, assim ainda criança, ele fez com que o pai cortasse um pé de abacate no fundo do quintal, que serviu como o primeiro orquidário da vida do botânico.

Segurando uma muda de Cattleya Nobilior, típica do cerrado, ele conta porque ela é a favorita entre as outras. “É uma paixão, porque depois de tanto tempo estudando as plantas, você na mata e encontra ela florida na árvore, em uma variedade de cores e com um perfume que enche o ambiente em volta. Tudo sem a interferência de ninguém”.

Francisco relaciona o amor pelas orquídeas com a capacidade de se sensibilizar que cada um carrega para entender que pela natureza na espécie, é necessário paciência para contemplar a beleza delicada das flores. Ainda com a Cattleya, de folhas que não são maiores que um polegar, em mãos ele explica que o processo de desenvolvimento para que ela atingisse aquele tamanho levou 3 anos.

“Depois de adulta ela dará um flor azul, mas para conseguir a muda, você precisa fazer o cruzamento de uma flor com a outra, quando ela der a semente ainda leva um ano para que ela possa ser semeada. A semente da orquídea não é diferente das outras, ela não tem núcleo. É necessário um meio de cultura rico em proteína para fazer ela germinar, precisa ser feito em laboratório com assepsia total, aí você faz a semeadura dentro de um vidro hermeticamente fechado e em um ou dois anos ela estará pronta para sair do frasco. Leva em torno de mais dois anos para a primeira floração e é um desenvolvimento que não se pode apressar”, explica.

A orquídea favorita de Francisco é a Cattleya Nobilior, uma espécie típica do cerrado brasileiro (Foto: Paulo Francis)
A orquídea favorita de Francisco é a Cattleya Nobilior, uma espécie típica do cerrado brasileiro (Foto: Paulo Francis)

Ainda hoje, aos 70 anos, o orquidário trás de volta a sensação da infância, uma época em que as flores eram plantadas em vasos de xaxim, onde o excesso da umidade intensificava o perfume natural da planta, aroma que envolveu as tardes de Francisco durante muitos anos e guiou a decisão de de estudar Botânica, mesmo sendo um jovem de família de fazendeiros com vocação para agropecuária.

O primeiro orquidário de Francisco acabou morrendo na casa dos pais, quando ele se afastou para cursar a faculdade, mas não foi o fim da dedicação dele às plantas. Essa história de amor recomeçou aqui em Mato Grosso do Sul, há cerca de 40 anos, com a floricultura Flor do Campo, que ainda existe sob nova administração, mas que ele deixou para trás depois de ver os filhos já criados e independentes.

Atualmente a rotina de Francisco é mais tranquila, longe da correria do comércio e morando na fazenda onde produz as orquídeas, ele tem tempo de sobra para cultivar as próprias sementes e vê-las crescendo, acompanhando de perto cada etapa até que floresçam. “Diferente da loja, eu tenho mais liberdade para vender minhas flores trabalhando na feira. Se algum dia eu precisar ficar em casa e dedicar a produção, eu posso não vir à feira”.

Casado por duas vezes e viúvo da última esposa, o único compromisso de Francisco é com as orquídeas. Nenhum dos filhos seguiu a profissão ou compartilha o mesmo amor do pai pela espécie. “Quando eu me for, ninguém vai dar continuidade ao meu trabalho. Talvez os meus netos, o primeiro já está para chegar e quem sabe ele se interesse por isso tudo”, diz.

“Eu vendo o amor, vendo a alegria, eu faço as pessoas felizes. Hoje veio um senhor e comprou uma orquídea com um cacho enorme de presente para a esposa, é isso o que eu vendo e é o que mais me gratifica: a reação das pessoas que recebem as minhas flores”.

Além das orquídeas, tanto mudas como plantas já adultas, com preços a partir de R$ 30,00, Francisco também vende temperos e ervas medicinais a partir de R$ 3,00. Para encontrá-lo basta passar pela feira da Orla Morena às quintas-feiras no fim da tarde. Ele também leva as flores para a feira da Vila Planalto, às quartas-feiras pela manhã, ao Bairro Coophasul, aos sábados e ao Bairro Guanandi aos domingos.

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