Última no estilo tradicional, livraria Le Parole fecha as portas dia 28
As vendas que minguaram e baixa leitura contribuíram para o fechamento da livraria
O lugar tem o clima das livrarias tradicionais, sem comércio de papelaria ou eletrônicos, é exclusivamente da literatura. Mas as vendas minguaram e os índices baixos de leitura no Brasil contribuíram para o desânimo na última livraria de rua nesse modelo em Campo Grande. Após 9 anos de persistência na Rua Euclides da Cunha, a Le Parole fecha as portas no dia 28 de setembro.
Uma publicação nas redes sociais, divulgada ontem (4), foi a maneira que Luciana Rondon, 46 anos, psicóloga e proprietária da livraria, encontrou para anunciar o fechamento em decorrência da “mudança significativa no mercado”.
Hoje, ao Lado B, ela falou sobre a influência do comportamento da cidade no fechamento. “Manter uma livraria de rua numa área que as pessoas não caminham é difícil. As pessoas caminham lá na Rua 14 de Julho e shoppings”.
Na opinião de Luciana, deve haver uma mudança no olhar da região para as livrarias. “Aqui há uma falta de hábito de ir às livrarias, como acontece em outros lugares do País, onde ela é vista como um ponto turístico, um passeio cultural na cidade”.
Ela acredita que a internet também tirou a coragem de clientes de ir até a livraria. “Com a facilidade da internet muita gente lê ou compra online”.
A livraria também nunca vendeu livros técnicos, o que reforça uma relação distante das pessoas com a literatura. “A livraria sempre teve um acervo bem interessante, até um pouco diferenciado, os nossos escritores sempre estiveram ali com seus livros, mas a leitura lá dentro era mínima. As pessoas, nos últimos anos, davam uma passadinha no intervalo do trabalho, passavam para tomar um café e levavam algum livro, mas poucos voltavam”, conta.
Nos últimos meses, ela diz ter visto as vendas caírem, o que dificultou manter os gastos com a casa. “Sem as vendas ficou difícil sustentar. Algumas mudanças e estratégias são necessárias, mas precisaria tirar do próprio bolso e no momento não há condições”, lamenta.
Mas para Luciana, que comprou a livraria das antigas proprietárias, há dois anos, os clientes fieis e os eventos ao longo dos meses contribuíram para os bons momentos, apesar da crise. Por isso, o nome da livraria permanecerá “vivo” para surpreender o público. “Meu intuito é formar um grupo e atuar na área da cultura, não só como livraria, mas com eventos, fortalecendo a literatura e a proximidade das pessoas com os livros”.
Além dos clássicos da literatura brasileira, regional e os best sellers, a casa era destaque por estar sempre colorida. No balcão de atendimento, fitas que lembram as do senhor do Bonfim carregam o nome “Leparole”, mas em breve serão retirados e a residência será ocupada por um grupo de psicólogos.
Quem quiser aproveitar os últimos dias de portas abertas, qualquer livro está com 20% de desconto. A livraria fica na Euclides da Cunha, 1126 - Jardim dos Estados.
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