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Conversa de Arquiteto

A história de Sebastião Caneca, o homem que criou as Coophas em Campo Grande

Angelo Arruda | 17/02/2016 15:57
Caneca ao lado do Antônio Mendes Canale, prefeito de Campo Grande. (Foto: Acervo da família)
Caneca ao lado do Antônio Mendes Canale, prefeito de Campo Grande. (Foto: Acervo da família)

Essa semana vou falar de uma pessoa que foi muito especial para Campo Grande: Sebastião da Silva Caneca (1930-2008). Pernambucano, nascido no bairro de São José em Recife, Caneca veio para Campo Grande em 1969 e foi trabalhar com os irmãos Petengil na urbanização da Vila Alba.

Segundo Meyre Fontes, sua terceira esposa, Caneca era um homem visionário e empreendedor na área habitacional. “Na realidade era uma pessoa inquieta, cheia de planos que enxergava além do seu tempo, tanto que construiu na época, mais de 15 mil unidades habitacionais no antigo Mato Grosso”, diz ela.

A sua empresa, Planoeste – Planejamento de Projetos Habitacionais, atuava no campo das construções de cooperativas habitacionais – as conhecidas Coophas, espalhadas pela cidade – como a Coophabanco, a Coofermat, a Coophasul, a Vila Sargento Amaral, a Coophamat, a Coophavila II, essa a sua mais conhecida obra de 1977 em Campo Grande.

Caneca era um homem cortejado pelo empresariado e pela economia de nossa cidade, especialmente gerentes de bancos e donos de construtoras, pois ele trouxe para Campo Grande os investimentos do Banco Nacional de Habitação, o famoso BNH. Era um empresário credenciado pelo BNH e isso lhe dava prestígio e sua atuação, permitiu que nossa cidade recebesse muitos investimentos nos anos 1970.

Bairro Coophavila 2. (Fonte Google Maps)
Bairro Coophavila 2. (Fonte Google Maps)

Amigo da Construmat por meio de Gianino Camillo, da INCCO à conta de Arnaldino da Silva ou da Construtora Saad, de Anees Salim Saad, ele trazia negócios para a cidade, especialmente os conjuntos habitacionais que marcam o tecido urbano de Campo Grande.

Foi em 1970 que ele deu início ao projeto de uma de suas obras que não leva o nome Coopha: a Vila Sargento Amaral, depois veio a Coophabanco, bem localizada hoje, nos arredores da Av. Mato Grosso ou a Coophafé, erguida pela Construmat Engenharia.

Ao todo foram, segundos dados do BNH, 39 conjuntos habitacionais com 14.600 casas, sendo mais da metade apenas em Campo Grande e as demais em Cuiabá, Ponta Porã, Camapuã, Bonito, Rondonópolis, etc. De 1970 a 1970, Caneca fez de Campo Grande seu lugar de investimentos e a cidade, que teve seus empreendimentos iniciais mais na área central, foi tendo obras distantes do centro, como a Coophavila II.

Bairro Coophasul inaugurando. Acervo de família
Bairro Coophasul inaugurando. Acervo de família

Sebastião Caneca casou-se três vezes e teve treze filhos e um deles Lucas Caneca é meu aluno no curso de Arquitetura e Urbanismo da UMFS. Esse feito me impulsionou a escrever esse material, pois, apesar de não o ter conhecido, sempre ouvi falar da “lenda Caneca” assim que cheguei por aqui em 1980.

Heitor Freire escrevendo sobre ele diz: “Aqui em nosso estado nós tínhamos um empresário criativo e ousado – Sebastião Caneca – que, antevendo o que poderia obter de recursos para implementar programas habitacionais voltados para a população mais carente, criou a Planoeste, empresa de planejamento que se credenciou ao BNH para essa finalidade. E, secundado pelas construtoras da cidade, lançou então essas cooperativas habitacionais – aqui conhecidas como Coophas – que proporcionaram ao trabalhador de pouca renda realizar o sonho da casa própria. Essas cooperativas assim constituídas sob a administração da Planoeste adquiriam as glebas que eram divididas em terrenos. Os terrenos tinham um tamanho adequado como se pode observar pelas Coophas existentes em nossa cidade.”.

Outro amigo, Osvaldo Barbosa de Almeida, em seu livro “Memórias e outras histórias”, escrevendo sobre Caneca nos diz que a empresa Planoeste tinha sede na Rua Ricardo Franco na Vila Sobrinho depois se mudou para a Vila Planalto onde funcionou durante muito tempo a sede do Tribunal de Contas de MS. A empresa tinha como sócios seu irmão Fernando Caneca, Nelson Soares do Nascimento e Evaristo Vicenzo que era engenheiro civil.

Casa na Coophafé. Um modelo de projeto.
Casa na Coophafé. Um modelo de projeto.

Entre 1976 e 1977, a Planoeste do Caneca inundou Campo Grande com suas Coophas – Coophabanco, Coophasul, Coophavila I e II, Coohafama, Coophamil, Coophatrabalho, Coophafé, colocando a sua empresa em primeiro lugar no Brasil entre todos os órgãos assessores do sistema de cooperativas habitacionais e com isso, Campo Grande ganhou prestígio, ao ponto de que uma sede do BNH foi por aqui inaugurada na Rua 14 de Julho em 1979.

A arquitetura das unidades construídas pelo Caneca e pelas empresas parceiras geravam muita discussão no ambiente técnico e acadêmico, com o uso de telhas de cimento amianto na cobertura e compactas e vários dos conjuntos, localizados muito distantes do centro de Campo Grande de 1977.

Hoje esses conjuntos, cercados pela urbanização, marcam o território da cidade, possuem vasta história de suas ocupações e lutas e assim, Caneca, quase 40 anos depois de ter sido um empresário que nos deixou essas marcas, merece de minha parte, essa homenagem, no fim de 2016, ano que ele completaria 86 anos de estivesse vivo entre nós.

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