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Conversa de Arquiteto

Alternativa mais barata, a arquitetura de container tem mesmo qualidade?

Ângelo Arruda | 08/06/2016 06:25

Celsinho, como é conhecido, é o arquiteto e urbanista Celso Costa Filho, um ex-aluno, nascido em Campo Grande, formado na Uniderp e filho do famoso arquiteto Celso Costa, que tem muitos outros arquitetos na sua família, especialmente seus irmãos e tios.

Sempre foi inquieto, desde a graduação. Logo depois que se formou trabalhou no escritório da família. Depois mudou-se para São Paulo e trabalhou com arquitetura social. Construiu nove bairros populares, no sistema mutirão. “Vi muitas coisas erradas, muito desperdício (isso me desanimou um pouco). Depois trabalhei para uma grande empresa, a Telefônica 15. Era como estar em outro universo, o trabalho era totalmente diferente do que eu fazia com arquitetura social” diz ele.

Aprendeu muito atuando em programas de favela, e São Paulo lhe deu muitas oportunidades e ao retornar para sua cidade natal, anos depois, dá início a uma trajetória pioneira: fazer arquitetura usando containers. Celsinho nos concedeu essa entrevista semana passada. Leiam a trajetória desse profissional brilhante e seu pioneirismo.

Celso Costa Filho virou referência nesse tipo de arquitetura por aqui.
Celso Costa Filho virou referência nesse tipo de arquitetura por aqui.

Como a arquitetura do container surgiu em sua vida profissional?

Eu estava desanimado com a arquitetura e pensava em desistir da profissão de arquiteto. Eu não aguentava mais ver o enorme desperdício de materiais nos canteiros de obra, a falta de compromissos de alguns profissionais (pedreiros, serventes, marceneiros), e principalmente a falta de preocupação com o meio ambiente.

O sistema construtivo utilizado no Brasil é da época do império e, além de ineficiente, é caro demais. Foi então que decidi buscar uma alternativa que oferecesse projetos sustáveis e de rápida execução. Foi assim que cheguei aos containers. E durante quatro anos me dediquei intensamente a essa pesquisa.

Comecei pesquisando em sites e blogs, mas as informações eram incompletas. Por isso mudei para o Guarujá, para poder realizar minha pesquisa in loco, nos terminais de container. Foi assim que aprendi de verdade a construir com containers.

O que você já fez em termos de projetos e obras? Por onde começou?

O primeiro projeto fiz para uma amigo, Alexandre Abreu dono do Nasa Park, um condomínio fechado em Campo Grande. Ele queria um chalé de container para poder passar o final de semana com a esposa e o filho pequeno. E também para receber amigos. Tinha duas exigências: a primeira que a cozinha ficasse próxima da área da churrasqueira; a segunda, que o container fosse instalado o mais próximo possível da represa.

Esse projeto é interessante porque ele queria mostrar para os futuros moradores que é possível construir com estilo, qualidade, e sem gastar uma fortuna no empreendimento. Queria algo simples, sofisticado e integrado ao meio ambiente. E assim foi feito.

Ele tinha uma preocupação com relação à temperatura no interior do container. Assim como a maioria das pessoas, ele achava que ia ficar muito quente. Expliquei várias vezes para ele que não ficaria. Que o estudo de conforto ambiental que faço em todos os meus projetos garante o conforto térmico das unidades. Mesmo assim, ele pediu que deixássemos um ponto para a instalação do ar condicionado.

Se você for ao Nasa vai ver que o ar condicionado não foi instalado. Dois anos depois, ele está totalmente convencido de que o estudo que fazemos, aliado aos materiais que utilizamos no interior do container, são eficientes na questão do tratamento térmico. E está muito satisfeito, isso é o mais importante pra mim.

Projeto no Nasa Park, em Campo Grande.
Projeto no Nasa Park, em Campo Grande.

Comente sua atuação profissional nessa área? Quem mais atua no setor?

Sou o pioneiro em Mato Grosso do Sul e um dos primeiros no Brasil a construir com containers. De 2010 para cá outros profissionais também passaram a construir com containers, mas percebo são trabalhos esporádicos.

Eu direcionei o meu trabalho totalmente para o sistema construtivo por container, onde 100% dos meus projetos hoje são elaborados especificamente para construção com containers.

E acredito que no Brasil sou o único arquiteto a possuir um terminal próprio para a execução das obras. Eu mesmo executo as minhas obras. Tenho uma equipe treinada para fazer esse trabalho, e não raramente, eu mesmo participo da execução.

Interior do container na Casa Cor 2014.
Interior do container na Casa Cor 2014.

Os containers. De onde vem, o que você faz com eles quando recebe?

São comprados em Santos. Tenho parceiros que fazem a seleção e compra dos containers para mim. Não trabalho com qualquer container, não compro de qualquer pessoa.

Só adquiro containers mediante laudos que comprovam que estão livres de contaminação.

Os containers chegam para mim em até três dias úteis, totalmente limpos e prontos para serem transformados.

Container em processo de fabricação.
Container em processo de fabricação.
Casa em obras.
Casa em obras.

As tendências da área. Quais são?

A tendência é vermos cada vez mais obras de container por ai. Os containers podem ser agrupados, empilhados, colocados em paralelo e podemos criar grandes balanços utilizando o sistema de travamento. Enfim, eles se adaptam aos mais variados projetos, desde simples unidades habitacionais até um shopping.

Cite alguns trabalhos, localização e, especialmente, os custos.

No final do ano de 2013 fiz o Projeto do Nasa Park. O empreendimento custou R$ 95 mil. Em 2014 fiz vários projetos, a maioria para São Paulo. Em Campo Grande, executei um projeto para a Casa Cor, que custou R$ 45 mil e um sobrado que foi instalado no Jardim Noroeste, a um custo de R$ 204 mil.

Em 2015 trabalhei simultaneamente em vários projetos e executei algumas obras. Em São Paulo foram três: um sobrado com dois containers em Mogi das Cruzes, uma escola de inglês com cinco containers em Sorocaba, uma casa com cinco containers em Cotia. Os custos ficaram entre R$ 1.300,00/m2 e 1.900,00/m².

Em Brasília, uma casa com dois containers, que custou R$ 105 mil. Em Campo Grande/MS, além de uma casa container para fazenda (custou R$ 85 mil), executei outros dois grandes projetos a loja da Green Co, ao custo de R$ 2.500/m² e o projeto Rede Solidária, para o Governo do Estado de MS, um empreendimento com cinco containers onde construimos uma biblioteca, sala de leitura, sala para oficinas, salão de dança, camarim/closet e uma sala multimídia. O custo desse projeto foi de R$ 315.000,00.

Sobre os custos, é importante dizer o seguinte: o custo de execução das obras vai depender do que o cliente quer. Para casas de container, em geral, trabalhamos com uma estimativa de R$ 1.900,00/m² para entregar a casa pronta. Nós temos condições de entregar a casa completa, até com os cabides nos armários, e nesse caso, o preço não é a principal vantagem. O principal diferencial mesmo é o prazo de entrega que hoje é de apenas 03 meses para empreendimentos de até 100 m². Este ano (2016) estou executando dois sobrados de containers em Campo Grande, e outros cinco projetos, dentre eles um salão para noivas, que será instalado no Paraná.

Uma ideia em elaboração: um sobrado em Dourados
Uma ideia em elaboração: um sobrado em Dourados

Finalize comentando as tendências e o que você está esperando. Afinal, a arquitetura gerada pelo container tem qualidade?

Vejo que nossos colegas não se atentaram a esse tema. E o principal desse tema, a sustentabilidade, não é sair em busca de uma casa com selos sustentáveis ou até mesmo usar materiais ecologicamente corretos.

Ser sustentável é respeitar o terreno com sua preservação natural, é fazer uma casa do tamanho necessário pra viver, é saber que essa casa ou empreendimento comercial não pode gerar esgoto sem seu tratamento, é tentar manter o terreno permeável, e usar materiais que não causam danos ao planeta na sua fabricação.

Acredito que teremos mais obras utilizando esse sistema construtivo basicamente por dois motivos. Ou somos contratados pra desenvolver uma casa ecológica e sustentável, ou somos contratados pra entregar uma casa cuja obra seja rápida. Quem entrar nesse ramo, que seja pela sua essência, que é o que nossa profissão permite.

Para o arquiteto ou engenheiro fazer sua parte para o meio ambiente, não é o suficiente separar o lixo de sua casa, mas ir além. É criar um projeto e fazer uma obra responsável, sustentável e ecológica como matriz para a sua criação.

Um de seus últimos projetos, na Rua 7 de Setembro.
Um de seus últimos projetos, na Rua 7 de Setembro.
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