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Diversão

Centro cultural ganha cores com desfile de orixás, música e polêmica

Ontem (3), evento falou de fé pela arte e levantou polêmica sobre a presença mínima de negros.

Thailla Torres | 04/05/2019 08:46
Centro Cultural José Octávio Guizzo, ganhou novas cores com desfile inspirado nos Orixás. (Foto: Amanda de Marchi)
Centro Cultural José Octávio Guizzo, ganhou novas cores com desfile inspirado nos Orixás. (Foto: Amanda de Marchi)

Campo Grande não tem a cultura do lançamento de coleções em desfiles, como nos principais centros de moda, mas quando tem, prova o quanto este cenário precisa de força e apoio. Na noite ontem (3), o Centro Cultural José Octávio Guizzo, outro canto da cidade sem olhares, ganhou novas cores com desfile inspirado nos Orixás.

Na passarela, 17 mulheres desfilaram com produções feitas pelo designer de moda sul-mato-grossense Fábio Maurício, onde a liberdade artística abriu espaço para unir estilo e fé, apostando na maquiagem pesada, brilhos e looks pensados para impressionar. 

Cada modelo representava um recorte da cultura afro-brasileira no evento chamado “Iorubá”. Iemanjá surgiu vestida com a espuma do mar a Oxum que se cobriu de ouro e trazia nos cabelos as águas verdes dos rios.

Algumas das modelos que participaram do desfile.  (Foto: Thailla Torres)
Algumas das modelos que participaram do desfile. (Foto: Thailla Torres)

“Os Orixás são a representação da natureza, eu também sou espírita e isso foi um prato cheio para criar. Os tecidos foram comprados há três anos quando passei a confeccionar as peças para homenagear os orixás sem deixar de lado a modelagem sexy, com clima noturno que faz parte do meu trabalho. Por isso, teve decote e transparência”, explicou Fabio.

Para criar a coleção, Fábio se inspirou no livro “A Mitologia dos Orixás”, do professor Reginaldo Prandi. A obra retrata a grande reunião no palácio do grande Deus, à qual os orixás compareceram muito bem vestidos, para receberem as riquezas do mundo. Foi seguindo esses relatos que, tanto o designer, quanto seu irmão e artista plástico Ghva, pintaram telas durante todo o mês de maio, no Centro Cultural, e tiveram inspiração.

Antes do desfile, mulheres deram um show de percussão com movimentos, danças e sons africanos. Após o brilho das modelos a festa continuou até às 22h com discotecagem. “Eu fiquei muito feliz porque as peças foram confeccionadas para este desfile e não serão vendidas, nossa ideia é rodar o país com este evento”, destacou o designer que comemorou 34 anos na noite de ontem.

Glauber demonstrou preocupação com a presença mínima de negros no evento.  (Foto: Thailla Torres)
Glauber demonstrou preocupação com a presença mínima de negros no evento. (Foto: Thailla Torres)

Polêmica – O evento não só reforçou a necessidade de cultura na cidade, como fez parte do público questionar sobre a presença de negros em um evento que tanto fala deles, mas ganhou presença mesmo de gente branca.

Dias antes do desfile, que começou ontem e segue até o dia 25 de maio, a polêmica foi lançada nas redes sociais. Ontem, quem mais bateu em cima do assunto e fez questão de estar presente foi o artista visual e performer Glauber Portman, de 24 anos, que diz que chegou a ser ameaçado após expor sua ideia no Facebook.

“Falar de negro sempre é importante, porém a gente vive numa cidade com formações artísticas negras muito grande e elas pouco estão presentes nesses espaços, infelizmente porque a arte ainda é celetista, elitista e racista. E esse acesso nunca é respeitado. Então o que me preocupou foi uma temática que fala do próprio preto e que também deveria ser falada por ele, mas quase não tem negro”, comentou o artista.

E se tratando da moda, Glauber lembra que o espaço é ainda menor. “Nossos corpos são marginalizados e não tidos como padrões para as passarelas. Então ao ver um evento com tão poucos negros tanto na passarela quanto na plateia me deixa muito triste. Até porque eu poderia citar inúmeros artistas negros da nossa cidade e que se mantém querendo ter o seu espaço”.

Ao Lado B, Fabio respondeu sobre as polêmicas e disse o porquê de poucas modelos negras no desfile. “Em nenhum momento eu quis usar a cultura negra para ter um benefício. Pelo contrário, na minha opinião a maior forma de debater o assunto e o preconceito é levar a cultura para o centro onde isso não é presente. E meu desfile não é foi desfile afro, mas sim inspirado nos Orixás. Esse era o meu objetivo. E só não chamei mais modelos negras porque foi difícil encontrar, algumas, por exemplo, não sabiam andar de salto e isso é uma estética minha, do meu desfile”, afirmou.

Apresentação musical antes do desfile.  (Foto: Thailla Torres)
Apresentação musical antes do desfile. (Foto: Thailla Torres)

De acordo com a chamada do evento, o objetivo do evento é fomentar a cultura e arte moderna, através da moda, música e comportamento, com ênfase na cultura afro-brasileira.

Programação – Mas com ou sem polêmica, a programação é gratuita e aberta ao público. Confira abaixo as datas e horários:

Dia 11 de maio, às 16h: Bazar de Inverno, Cine Café com exibição do filme “França: Chaos e Cration” e discotecagem com DJs convidados

Dia 16 de maio, às 16h: Editorial de moda fotografado no Centro Cultural

Dia 18 de maio, às 16h: Bazar de Inverno, Cine Café com exibição do filme “Blow up”

Dia 25 de maio, às 19h: Encerramento com Cine Fantasy (festa à fantasia do Cine Café com premiação da melhor fantasia) e discotecagem com a DJ Bibiana Vargas. 

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Desfile de moda foi inspirado nos orixás. (Foto: Thailla Torres)
Desfile de moda foi inspirado nos orixás. (Foto: Thailla Torres)
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