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Diversão

Com liberdade até de madrugada, festival lotou com cultura ancestral

Em Dourados, 1º Festop fez o povo sair de casa durante três dias para assistir shows e produções artísticas

Jéssica Fernandes | 18/04/2023 08:05
Miliano e Parrésio movimentaram praça durante apresentação de sábado no Festop. (Foto: Jéssica Fernandes)
Miliano e Parrésio movimentaram praça durante apresentação de sábado no Festop. (Foto: Jéssica Fernandes)

Os moradores de Dourados prestigiaram com animação a 1ª edição do Festop (Festival de Todos os Povos). Durante três dias, a festa movimentou a Praça Antônio João com música, artesanato, literatura e gastronomia.

O festival cultural foi animado por artistas, grupos e orquestras da cidade. SoulRa, Miliano, Parrésio, Não Tem Hora, Made In 90S’s, Bro MC’s, Orquestra da Universidade Federal da Grande Dourados e Orquestra Indígena de Campo Grande foram algumas das atrações que movimentaram a cidade durante o dia e também de madrugada.

Ao contrário do que acontece nos eventos culturais de Campo Grande, os artistas tiveram a liberdade de seguirem cantando após às 23h acompanhados por uma plateia que também parecia não ter pressa em voltar para casa.

Veja o vídeo:

O Lado B acompanhou o festival que trouxe para a rua tradição e história que estão presentes em artesanatos ensinados há gerações de pais para filhos.

Um dos trabalhos que refletem a tradição é de Remicio Martins, de 62 anos. Para o Festop, ele levou arco e flecha feitos em tamanho grande e pequeno que sai a partir de R$25. Remicio fala como aprendeu a confeccionar o arco. “Desde criança com meu pai que veio do meu avô e passou pra mim. Nós vamos continuando o trabalho”, afirma.

Remicio diz que fazer o arco é fácil se a pessoa tiver costume. “Quando a pessoa tem prática em dez minutos termina um”, fala. Taquari, corda, penas compõem o material onde a técnica do trançado também se faz presente.

Com o pai, Remicio aprender produção de arco que é levado para as feiras. (Foto: Jéssica Fernandes)
Com o pai, Remicio aprender produção de arco que é levado para as feiras. (Foto: Jéssica Fernandes)
Arco e flecha é feita com penas, corda e muita habilidade de Remicio. (Foto: Jéssica Fernandes)
Arco e flecha é feita com penas, corda e muita habilidade de Remicio. (Foto: Jéssica Fernandes)

Amirele Porto Machado, de 25 anos, também participou do Festop com o artesanato que é legado da família. “Nós somos a mistura dos três povos que é terena, guarani e kaiowá. A minha mãe é filha de terena com kaiowá e meu pai de terena com guarani. Eu já sai terena-guarani-kaiowá. Temos a representação dos três povos, principalmente guarani por causa do trançado”, explica.

Colares, chaveiros, maracás, bolsas e quadros pintados com grafismos cheios de significado compõem a produção da jovem e da mãe Marines. Amirele fala que o grafismo pode ter mais de um significado dependendo do ponto de vista.

“Pro Kaiowá é o grafismo do acolhimento da alma onde você usa se tiver passando por uma situação difícil. A gente acredita que usando algo com esse grafismo ou passando ele na pele, porque a gente usa o jenipapo, ele vai acalmar sua alma. Numa ótica guarani ele significa respeito, sucesso e proteção”, comenta.

Amirele e a mãe levaram para o Festop artesanato que representa três povos. (Foto: Jéssica Fernandes)
Amirele e a mãe levaram para o Festop artesanato que representa três povos. (Foto: Jéssica Fernandes)
Grafismos feitos em bolsas apresentam mais de um significado. (Foto: Jéssica Fernandes)
Grafismos feitos em bolsas apresentam mais de um significado. (Foto: Jéssica Fernandes)

Amirele relata que participar do festival e mostrar ao público a cultura dos povos originários é uma forma de resistir devido ao contexto histórico do Estado.

“É muito importante porque Mato Grosso do Sul é um Estado que mata, oprime, que retira direitos, terra, identidade e tenta diminuir. Mesmo que esses espaços não sejam tão amplos pra gente é uma conquista muito grande poder estar aqui e trazer o artesanato. Estar aqui é uma forma de resistência”, destaca.

A feira ao ar livre, que ocupou parte da Avenida Presidente Vargas, também reuniu expositores que trabalham com brechós, livrarias itinerantes e moda.

Marca Ruptura traz arte de gatinha como protagonista, (Foto: Jéssica Fernandes)
Marca Ruptura traz arte de gatinha como protagonista, (Foto: Jéssica Fernandes)

Júlia Teruel, de 25 anos, atua no ramo da moda com a marca autoral. A Ruptura nasceu há quase 1 ano com uma coleção de camisas, shorts, ecobags, blusas,  saias, bonés e buckets que trazem estampadas a arte inspirada na gata de Júlia.

A empreendedora fala como começou o trabalho e qual a proposta dele. “Eu terminei a faculdade, não sabia o que fazer e comecei a desenhar. Meu intuito não era criar uma marca e depois vi que tinha potencial. Eu faço em casa e minha ideia é fazer algo slow fashion com produtos novos, usados e dar uma personalizada com a minha arte”, relata.

A produção literária de Mato Grosso do Sul também teve lugar de destaque no Festop. Na praça, a Tenda da Literatura reuniu trabalhos que refletem uma vida de pesquisa e dedicação.

Brechós participaram da feira ao ar livre organizada pelo festival. (Foto: Jéssica Fernandes)
Brechós participaram da feira ao ar livre organizada pelo festival. (Foto: Jéssica Fernandes)

Mara Calvis saiu de Campo Grande e levou para Dourados acervo com 30 obras. Alguns dos livros foram escritos por ela e outros por professores que convidou para realizar o trabalho através da editora que fundou.

“Eu trouxe a coleção de Mato Grosso do Sul que são livros sobre Mato Grosso do Sul porque eu lancei o clube Leitura e Literatura Mais Um Saber”, conta a professora de geografia.

Entre os trabalhos publicados está ‘Resíduo no Lugar Certo, Planeta e Vivo e Esperto’. “Meu primeiro livro foi sobre resíduos que eu estudo há 15 anos, então aqui tem 35 anos de pesquisa. Tudo tem pesquisa, porque a leitura tem que ser divertida e de fácil acesso”, afirma.

Festop reuniu produção literária regional na Tenda da Literatura. (Foto: Jéssica Fernandes)
Festop reuniu produção literária regional na Tenda da Literatura. (Foto: Jéssica Fernandes)

Em relação ao festival cultural e visita a Dourados, a escritora expõe que muitos moradores tiveram interesse em visitar a Tenda Literária. “Eu amei a receptividade, o atendimento, a família trazendo a crianças e prestigiando o escritor local. O trabalho ser valorizado dá um gás”, diz.

Quem acompanhou todos os shows na praça gostou do repertório eclético que cada apresentação proporcionou. Thais Gimenes Bachega, de 24 anos, achou o festival diferente e gostou que a praça foi o local escolhido para o evento.

"Eu achei bem diferenciado para Dourados porque mesmo tendo tantas possibilidades culturais distintas quase nada é divulgado ou apresentado pra cidade toda. Ter sido na praça também foi muito daora por ficar acessível a todos e não tão longe assim como os eventos que as universidades aqui disponibilizam apenas nos campus. Achei muito gostoso curtir vários gêneros musicais em um só lugar com gente de todas as idades”, destaca.

O Festival de Todos os Povos também com a participação de artistas que através do grafite coloriram parte da praça que recebeu, além de cantores e grupos musicais, apresentações de dança e artes cênicas.

Moradores de Dourados marcaram presença nas apresentações de sábado. (Foto: Jéssica Fernandes)
Moradores de Dourados marcaram presença nas apresentações de sábado. (Foto: Jéssica Fernandes)

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