Ela abriu o Clube para dançar, mas agora, aos 79 anos, não encontra parceiro
Dona Maria já foi assunto de reportagem no Lado B pelas regras que criou para quem frequenta o Clube da Amizade em Campo Grande. Mas a mulher tem tantas histórias, que tudo não caberia em uma matéria só.
O marido sempre foi um verdadeiro pé de valsa, companheiro inseparável nos bailes da cidade, mas, de uma hora para outra, deu adeus à vida. Viúva, Maria de Almeida Metello guardou o luto por quase dois anos, até que um dia resolveu sair de casa para dançar.
O problema foi descobrir, na raça, que as “solitárias”, como costuma dizer, nunca eram convidadas pelos cavalheiros. Foi então que, num misto de revolta e indignação, resolveu abrir a própria casa.
Queria garantir a presença de dançarinos dispostos a remexer o esqueleto com quem quer que seja e sem qualquer tipo de preconceito. Nasce, então, o Clube da Amizade, um dos salões de bailes mais conhecidos de Campo Grande. Mais de 30 anos se passaram e a idealizadora e fundadora do espaço, volta a enfrentar o mesmo problema.
Aos 79 anos, prestes a completar 80, Maria se queixa da falta de parceiros que a chamem para dançar e reclama: “Eu estou em uma idade que os velhos não me tiram mais. Querem só meninas novas. Idosos não tiram idosas. Só tiram a meia idade para baixo”.
À época em que o Clube conquistou Campo Grande, as mulheres conseguiam se divertir à custa de viúvos, solteirões e “rapazolas”, mas a oferta sempre foi menor que a demanda. Na prática, muita mulher para pouco homem.
O jeito era apelar para os programas de televisão. “Uma vez fui pedir para os cavalheiros, viúvos, separados ou solteiros irem aos bailes”.
A escassez era tanta que ela e as amigas de dança, ávidas por diversão, saiam de porta em porta, a procura de parceiro. “Chegamos a ‘roubar’ homens de outros clubes”, relembra.
A revelação, que diz ser exclusiva, será relatada no livro que pretende lançar. A obra, que ainda não ficou pronta, vai apresentar um histórico do Clube.
O problema da falta de parceiro nos bailes continua. Entre as mulheres, em especial as idosas, a reclamação é recorrente. Muitas delas saem de casa, mas sem muita esperança de rodopiar pelo salão. Acabam ficando sentadas por horas, conversando com as amigas. O papo, às vezes, gira em torno disso.
Na outra ponta da "discussão", os cavalheiros, altivos, donos de si, argumentam que as coisas mudaram e agora o homem se dá ao luxo de escolher.
Maria Metello se pergunta: “Será que eu cheguei a idade de inventar um novo Clube da Amizade? De 80 anos?”