Nos bastidores, dedicação dos integrantes faz magia acontecer na avenida
É preciso muito empenho de quem fica nos bastidores até que os últimos detalhes estejam perfeitos, garantindo que a magia aconteça até o último minuto do desfile.
O trabalho de um ano inteiro é colocado a prova nos poucos minutos em que as escolas de samba ocupam a avenida, trazendo cores e ritmo para contar histórias através da música e da energia de cada integrante. Tudo assistido de perto pelo público que lota as arquibancadas e vê de perto a magia acontecer, mas que na maioria das vezes nem imagina a dedicação de quem fica nos bastidores até que os últimos detalhes estejam perfeitos e garantir que a magia aconteça até o último minuto do desfile.
Acompanhado cada ala, os diretores quase passam despercebidos por quem não mantiver o olhar atento, mas é o empenho deles que orquestra toda a apresentação. Organizados, são eles os primeiros a chegar na concentração e os últimos a sair. Paulo Vanderlei, de 50 anos, está há 23 anos na escola e conta tirar as férias sempre entre fevereiro e março, para que os últimos dias antes do Carnaval possam ser inteiros da Unidos da Cruzeiro, a primeira a entrar na avenida ontem (5), última noite de desfiles.
“Nós começamos a trazer as coisas às 15h, trouxemos nossos carros e um furgão trouxe o resto das fantasias para nós. O povo estava muito desacreditado no Carnaval, principalmente na nossa escola, porque a gente não compra as fantasias. Você pode ver que é tudo confeccionado, estou todo queimado de cola quente, fomos dormir às 5h30 da manhã e 7h30 estávamos acordados para terminar tudo, é noite e dia”, diz Paulo, que depois que o último integrante passa pela linha branca que marca o fim da passarela, ainda fica de guarda ao lado das fantasias devolvidas assim que acaba o desfile.
Entre a entrada de uma escola e outra, a correria é grande. Quem já passou pela avenida tira as fantasias e vai deixando pelos cantos da calçada sob os cuidados dos diretores de ala, depois grande parte ainda volta para a concentração e se prepara para voltar para o desfile. A professora Zezé da Silva, está entre os “guardiões dos figurinos”. “Reunimos aqui as fantasias e ficamos cuidando até o desfile acabar e passar o carro para pegar todas as fantasias. Levamos tudo para o barracão e utilizamos o material para as fantasias do ano seguinte”.
Enquanto isso, a Catedráticos do Samba já se posiciona para entrar em cena, no tempo que a equipe de reportagem levou para percorrer o fim da passarela até a área de concentração, os integrantes já estavam em formação e cada participante bem ciente do próprio papel. Para que tudo funcione perfeitamente, os colaboradores de cada ala, como Ney Pretinho, de 50 anos, conferem as fantasias, fazem as bainhas e prendem os acessórios nos carros alegóricos. “Cada um de nós é o apoiador de cada ala, a minha é a das baianas, aqui faltava apenas ajustar uma lâmpada no carro, os últimos ajustes, mas já estamos com tudo pronto para entrar.”
Depois da Catedráticos, a Deixa Falar também já começava a se organizar. Com linha e agulha na mão, Rosângela Ferreira, de 65 anos se divide entre os foliões, trabalhando quase na escuridão total, com parte das roupas e adereços ainda nas caixas, outra parte depositada na grama e fazendo o que dá para que as peças caibam em todo mundo.
“Nós chegamos aqui 19h30 e estamos fazendo os ajustes para as pessoas desfilarem confortáveis, fazendo apenas os retoques nas fantasias, porque as vezes fica frouxo em um ou outro, então precisamos cuidar disso. Isso aqui tudo hoje ficou em casa, quem passou para pegar mais cedo, nós conseguimos já arrumar lá mesmo, mas quem deixou para a última hora já é mais complicado, mas mesmo assim estou tentando ajudar todo mundo para todo mundo entrar bonito”, explica.
Só depois é que ela vai vestir a própria fantasia e se preparar para o desfile, com o tempo curto a agitação e a adrenalina são grandes, mas quando questionada sobre a disposição necessária para fazer essa verdadeira maratona, a resposta é pura animação e samba no pé de quem, depois de tudo isso, ainda vai voltar para desfilar com as outras escolas.
Com o coração “a mil” para tentar trazer o título para a Igrejinha, o diretor de harmonia Adaelton Jardi, de 39 anos, entra com a escola pela primeira vez na avenida depois de 7 anos na Deixa Falar. Para ele, o desafio é emocionante e carrega todo o amor pelo Carnaval e a dedicação de um ano inteiro trabalhando com as pessoas responsáveis por tornar os desfiles possíveis.
“É cansativo, nosso trabalho começou às 8h da manhã com a montagem dos carros e depois pegamos as fantasias no barracão e trazemos para cá. O mais estressante é isso aqui agora, chamamos gente por gente, os diretores de cada ala, distribuímos as fantasias, trocamos as sapatilhas. Tem gente desfilando que ainda vai desfilar depois, isso aqui só acaba às 4h da manhã. Quando estiver tudo pronto, eu faço uma reunião e coloco todo mundo em ordem na avenida, fica a postos e aí é minha vez de me arrumar. Diretor de harmonia”, conta.
Por último e com os integrantes ainda chegando, a Vila Carvalho se prepara para encerrar o Carnaval de 2019. Com o coração na boca, a passista Joyce Caroline, de 22 anos vai desfilar pela primeira vez. Responsável pela própria fantasia, ela já chegou pronta ao local e espera para colocar os adereços fornecidos pela escola como complemento para a roupa, a cada minuto que aproxima Joyce do grande momento, o nervosismo cresce e só é quebrado quando o samba toma conta do ambiente.
Diferente dela, parte da harmonia da Vila Carvalho, Vanessa Brito, de 37 anos, carrega a experiência de várias desfiles e é calma pura, com cuidado e profissionalismo, ela separa cada item das fantasias que ainda não foi entregue e distribui por alas para quem já chegou. “Tudo o que a gente vem fazendo no decorrer das atividades durante o ano todo resulta nesse momento. Tem algumas alegorias que entregamos na hora, até para não danificar, fica sob os nossos cuidados até a hora da formação para entrar na avenida. Nossa função é animar o pessoal e organizar a entrada da escola, vamos auxiliando cada ala pela lateral da passarela e prestar atenção nos detalhes como partes da fantasia que podem soltar, o ritmo com que cada um atravessa a avenida. Só voltamos a respirar quando o último integrante pisa no fim da passarela. Depois nos preparamos para começar tudo de novo para o próximo ano”.