Para taxistas, shopping é 1ª coisa que surge na cabeça quando assunto é turismo
Quem viaja sabe que chegar ao destino e encontrar gente bem informada é tudo. No aeroporto ou rodoviária, esse primeiro encontro muitas vezes acontece com um taxista. Ele é a impressão inicial da cidade. Como o Lado B anda interessado em vestir a camisa de quem vem de fora, o canal resolveu viver a experiência para saber como o taxista enxerga a cidade e o que isso pode representar para o turismo.
Já era esperado que houvesse o discurso que Campo Grande é uma cidade de passagem para outros municípios turísticos, mesmo assim, o mínimo esperado é divulgação de coisas boas e bacanas que a capital oferece. Mas não foi isso que ocorreu. Em trajetos diferentes, houve mais negativas sobre a cidade do que sugestões. Por fim, restou a má impressão pela falta de conhecimento sobre o que vale a pena em Campo Grande. A boa notícia é que, até nisso, o Uber é uma vantagem.
O primeira corrida partiu do Terminal Rodoviário com destino ao Centro. Perguntei ao taxista o que tinha para fazer em Campo Grande e a resposta veio como um balde de água fria. "Aqui só tem o shopping”, afirmou o homem ao volante. Questionado sobre o turismo, ele reforçou que o comércio é a única opção, "Se for passear essa hora lá, já está funcionando. Tem cinema, praça de alimentação e várias lojas", insistiu.
Para hospedagem, sugeriu hotéis em torno da antiga rodoviária e nenhum hostel, apesar da cidade ter 3, um deles na Chácara Cachoeira, com perfil bem distinto da hospedagem nos arreadores da rodoviária do Bairro Amambaí.
Em terra de sertanejo, questiono onde encontrar um bar de rock ou baladas mais alternativas. "Aqui tem vários bares, em tudo quanto é canto", resumiu o taxista. Ele chegou a descartar Campo Grande como uma cidade que também pode ser aproveitada pelo turista. "Aqui não tem nada demais, 90% de quem chega aqui é para ir a Bonito e Pantanal, só isso".
A corrida termina antes do esperado. Na hora do pagamento, a surpresa mais desagradável. O taxista se aproveita do título de turista e dá o preço dele. "Deu R$ 15 moça", diz enquanto o taxímetro mostra R$ 12,70. Questionei se há alguma taxa extra, ele justificou que esse é o preço e pronto. Sem nenhuma simpatia, ainda reclamou do dinheiro. "Não tenho troco e você ainda me dá uma nota de R$ 100?", resmungou, finalizando o pagamento em seguida.
Do outro lado da cidade, em um trajeto de 5 quilômetros do Aeroporto até a Morada dos Bais, a história começa do mesmo jeito. "Olha para ser bem franco, aqui em Campo Grande só o shopping", diz o taxista de 55 anos, que já trabalha no setor há 22 anos. Mas, talvez pelos anos de experiência, o homem resolveu não deixar em branco o que a cidade tem a oferecer. Sem muita variedade sugeriu passeios gratuitos que podem aproximar o turista das belezas e da natureza. "Tem o Lago do Amor que as pessoas gostam de observar os animais. O Parque das Nações Indígenas para tirar foto, o Mercadão Municipal e a Feira Central".
Para quem curte rock, um bar que reúne motociclistas na Avenida Bandeirantes e para fãs de sertanejo, as opções na Avenida Afonso Pena, sugeriu.
O Sindicato dos Taxistas de Mato Grosso do Sul afirma que há qualificação quando o assunto é turismo, mas admite que esse ano isso não aconteceu. “Tem preparação para todo iniciante que vai fazer o curso de taxista. Justamente para formar e melhorar a capacitação envolvendo as potencialidades da cidade. Mas neste, foi um ano difícil, mesmo assim a gente tenta trabalhar como um difusor do turismo”, diz o presidente do Sintaxi, Bernardo Quartin Barrios.
Mesmo com a falta de informação, para Bernardo, é a cidade que está adormecida no turismo e isso não depende da boa vontade de taxistas. “Nós temos que concordar que turisticamente faz mais de um ano que a cidade está adormecida em evento. Acabou o City Tour e quando tinha eventos em Campo Grande, a gente sabia e isso era bem mais difundido, mas as condições políticas da Capital não são favoráveis”, justifica, sem explicar porque os trabalhadores do setor nem sequer lembram dos pontos bacanas que a cidade tem, independente, de apoio púlbico.
Para continuar na experiência, resolvemos fazer o mesmo trajeto de Uber. O motorista logo questionou: "O que você gosta de fazer? Porque aqui tem de tudo um pouco."
Para turista com grana, ele indicou hotel de luxo e na região central acomodações mais simples para quem busca economizar. De atrativos, lembrou até dos corredores gastronômicos de Campo Grande. "Olha, aqui você pode aproveitar pagando pouco ou muito. Tem na Bom Pastor o corredor gastronômico. Mas tem também na Rua Brilhante com um preço mais em conta e comidas mais simples. Agora, se quiser algo mais chique tem restaurantes na Afonso Pena como Vermelho Grill, Casa Colonial...", sugeriu.
Ele disse que trabalha no Uber há duas semanas, mas já está acostumado com o interesse dos turistas. Apesar de não ter os mesmos atrativos como Bonito e Pantanal, na cidade não faltam passeios, garantiu. "Aqui dá pra conhecer de tudo um pouco, na verdade são passeios urbanos, sair pela cidade vendo os lugares históricos", recomendou.