"BBW", sigla das gordinhas sensuais que ganham música e representante pornô
Se você não gosta de gordinha (ou gordinho), não gosta de falar de sexo, ou não acredita em nichos de mercado nem leia esse texto. Caso tenha uma mente que pode receber algumas informações, sem emitir xingamentos e afins, continue.
A primeira vez que eu percebi que há homens que gostam exclusivamente de mulheres gordinhas, eu acredito que tinha uns 14 anos. Claro, que parecia ter muito mais que isso. Tinha as pernas grossas e os seios grandes. Logo, chamava atenção e descobri isso com um cara que não conseguia disfarçar. E claro, minha mãe entrou no meio, afinal eu só tinha 14 anos. Mas ainda assim, eu gostei de saber que poderia chamar atenção dos homens. Desde que me entendo por gente, sempre, sempre usei roupas decotadas, e sempre me senti uma mulher atraente.
Então veio Roberto Carlos, com seu romantismo cantando “coisa bonita, coisa gostosa”. Já ouvi essa música como cantada um zilhão de vezes na minha vida. Aos 18 anos, tive um namorado lindo, mas pensa num homem lindo. Só tinha um defeito, ele era casado e apaixonado por gordas. E ele se apaixonou por mim e depois de mim vieram outras gordinhas e a vida seguiu. Até que um dia, já adulta, eu trabalhava num call center e um colega de trabalho simplesmente pegou meu endereço e foi até a minha casa me conhecer. Ele só tinha me visto de longe.
Você deve estar se perguntando: “Que raios essa gordinha está cheia de querer contando as conquistas dela?” Pois é, é aí o ponto que chegamos. Acreditem. Há pessoas que são apaixonadas por gordinhas e gordinhos. E no caso mais específicos de homens que tem em mulheres gordinhas seu alvo de admiração, há um termo, BBW que abre um espaço amplo tanto de fetiche quanto de mercado. E com isso, fui percebendo que a gordinha tem “seu espaço” no campo da admiração, do tesão e do fetiche.
BBW é a sigla para “Big Beautiful Woman”, que na tradução literal significa “grande e maravilhosas mulheres”, mas também é um termo – ainda que controverso, usado no contexto ou na afirmação da atração sexual por mulheres obesas. Criado em 1979 por Carole Shaw em 1979, quando ela lançou a BBW Magazine, uma revista de moda e estilo direcionada ao público feminino acima do peso corporal médio, ou seja, além do padrão da moda, que ainda é padrão atual.
E erroneamente, coloca mulheres gordas como objeto de fetiche sexual, fazendo com que várias mulheres ao redor do mundo – em especial nos Estados Unidos, país com alto índice de população obesa. E esse mercado está cada vez mais se expandido no Brasil, ainda mais com o atual “grito de liberdade” de gordinhos e gordinhas brasileiros.
Duvida? É só ouvir o número de músicas no mercado que fala disso abertamente, como é o caso de Henrique e Juliano que tem duas músicas na parada de sucesso falando de “Ser gordinho” com muito bom humor e duplo sentido. Ou a música “Turbinada”, de Zé Henrique e Thiago ou mesmo “Tem que ser Gordinha” do desconhecido Marcello Teodoro. E o Sorriso Maroto que em pleno horário nobre cantou que “Gordinha linda, olha que doçura, ela é puro excesso de gostosura […] esses quilos a mais é o que me atrai, poderosa, gostosa, mais que demais”.
E se isso ganhou o mercado, não há como negar que BBW e Plus Size hoje são termos do momento. De acordo com o Sebrae, o percentual da população brasileira acima do peso está crescendo: em 2012 chegou a 51%, enquanto em 2006 girava em torno de 43%. Com isso, a chamada “moda Plus Size”, que atende o público gordinho, faz sucesso no país. Um mercado que já movimentou R$ 45 bilhões, só no Brasil. Os concursos de Miss Gordinha movimentam cidades de todo o país há anos. Eu mesma já ganhei concursos do gênero em 2004, quando o termo nem era sucesso.
E no campo do sexo, há muita, mas muita coisa que remete ao fetiche. E o mercado pornográfico – crianças fechem o computador - também fatura, e muito com isso. O Brasil já tem sua primeira atriz pornô plus size. Mica Andrade está lucrando no entretenimento adulto e nem liga para as críticas, afinal, ela sabe que tem seu público, e acreditem, é um público cativo e fiel. Ah, caso for pesquisar o nome dela, cuide-se com as imagens, é um conselho de amiga (risos).
No Facebook, grupos e mais grupos de admiradores de “gordinhas” se proliferam, com mulheres postando fotos – sensuais ou não, e ali, recebem elogios e pessoas acabam se conhecendo. E isso mostra, que há um número imenso de pessoas que estão provando cada dia mais, que o padrão imposto pela “moda”, está sendo quebrado e cada dia mais mulheres e homens estão buscando a auto-aceitação abrindo espaço inclusive para a discussão do tema.
E com a possibilidade de anonimato da internet, se há os que abusam disso para ofender mulheres gordas, também há espaço para aqueles que podem assumir o desejo por gordinhas, sem ser rechaçado pelos amigos ou vítimas de preconceito por parte da sociedade, que com açúcar e gordurinhas, estão tendo que “engolir” cada dia mais as gordelícias!
Eu particularmente fico um pouco dividida entre meu lado que não gosta desse fetiche que coloca a mulher como objeto, seja ela magra ou gorda. Por outro lado, confesso que adoro quando recebo presentes dos meus fãs – sim, eles existem, e dei uma parada só por causa de ciúmes do namorido, e que cada recadinho é muito bom para o ego. E sim, me considero gordelícia e me acho sexy, sensual e sexual. Quem quiser me julgar, que julgue.
Sem querer levantar a bandeira da obesidade ou do movimento “Fat Power”, até porque eu estou em buscar de emagrecer, eu confesso que hoje, me sinto muito mais “leve” em poder assumir meu corpo, meus desejos e inclusive que sim, fazemos sexo, fazemos parte de uma sociedade de consumo e podemos ser cada dia mais desejadas.
Afinal, o que seria do vermelho se todo mundo se todo mundo só gostasse do azul?