As primeiras aulas de direção, após anos com medo e muita terapia para ajudar
Tem coisas que são tão comuns para algumas pessoas, mas para mim sempre foram complicadas. Quero não crer que era por causa da obesidade ou daquela capa que eu usava para me esconder. Vou fazer 35 anos em setembro. Sou independente desde “mocinha”, sempre trabalhei, sempre corri muito pelos meus objetivos. Sei as regras da ABNT decoradas, sei também as regras de Vancouver. Já consegui ler vários livros em uma semana, já consegui dançar mesmo pesando muito, aprendi a fazer crochê, aprendi a pregar botões e um dia inventei que queria costurar.
Também resolvi fazer outra faculdade, enfim, várias coisas, e todas elas a pé, de táxi, de carona, com a mãe levando, o noivo buscando, a irmã, o cunhado e até a sobrinha. De ônibus ou moto-taxi não era possível, por causa do peso a catraca era um desafio e de moto nem vou comentar que faziam cara feia para levar né?
Pois bem, quem me acompanha aqui no Lado B lembra que lá atrás, quando eu fiz a cirurgia no dia 14 de janeiro, fui para UTI, apesar de ser um procedimento padrão acabei sofrendo picos de pressão e por vezes pensei até que iria morrer. Foi o meu martírio breve, mas lá muita coisa passou pela minha cabeça. E a cirurgia me motivou a continuar o tratamento psicológico tão necessário para quem faz bariátrica. Comecei então a traçar um plano de colocar “rodinha nas pernas”.
A obesidade me atrapalhava nisso? Não sei, não consigo diferenciar dessa forma, porque sempre fui gorda e sempre tive medo de dirigir. Mas sei que passar pela cirurgia e por todas as transformações que ela traz, me deu um impulso enorme para fazer muitas coisas que eu protelava e corria. Durante os últimos seis meses, juntamente com minha psicóloga, Eliane Nichikuma, e com meu noivo Josiel fiz um trabalho de auto-análise e até de convencimento sobre a necessidade de dirigir.
Tenho uma vida super ativa, como todos sabem e às vezes perco oportunidades melhores por isso. Nesse tempo, cheguei a ir a uma auto-escola e lá mesmo passei mal e fui embora. Até que na última sexta-feira (24), eu estava em consulta com minha nutricionista Mariana Corradi Gouvea, que participa ativamente de todo esse processo de transformação, e ela me perguntou:
- Mas você não dirige ainda? Qual era sua promessa?
Eu nem respondi, meu sobrinho Pedro quem falou:
- Não, ela fica com medo, mas ela vai dirigir!
Eu ali criei coragem, uma criança de cinco anos me dizendo que eu poderia. De lá mesmo liguei para um instrutor e pedi para conversar com ele. No sábado de manhã, eu cheguei a tremer um pouco, mas estava determinada. Eu não iria desistir!
Encontrei o Dênis na casa da minha irmã e ele me disse: “Com paciência você vai conseguir”.
E lá fui eu, no dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas, fui para a minha primeira “aula”. Claro que eu já tenho noções de direção, que sei as regras de trânsito e tudo foi feito de forma a me ajudar a tirar o medo. E lá, num lugar específico para isso, eu dirigi.
Fiquei ansiosa para no domingo ter mais três aulas. E ali, eu tive a certeza que eu vou conseguir. E falei para ele: “Me deixa ir dirigindo até minha casa?”
Sinceramente, não sei onde consegui tanta confiança e fé, mas eu consegui. O carro afogou duas vezes, eu senti medo do caminhão e de não dar conta. Mas eu consegui! E como cada vitória eu dedico a vocês que torcem por mim, eu que já tinha coluna pronta, tive que mudar o tema.
Para muitos é algo tão pequeno, tão bobo e tão normal, mas para mim foi um grande passo e uma conquista que me fez chorar de alegria. Mostrando, mais uma vez, que nós podemos tudo aquilo que queremos.
PS: O vídeo é para dividir com meu noivo Josiel que estava longe, e com vocês, a emoção que é uma vitória.