A Baleia Branca nos games; Troca de Cartuchos episódio 3
Não existe almoço grátis.
Essa é uma máxima aplicada aos negócios e o comércio em geral. Significa que não existe gratuidade, a empresa sempre tem uma vantagem em algum momento.
Mas essa máxima enfrenta a questão dos jogos, principalmente no mercado mobile (ainda que não seja só nele), onde milhares de títulos, feitos por dezenas de pessoas são oferecidos gratuitamente para os jogadores. A conta parece não fechar, como que todo esse custo de desenvolvimento, propaganda, servidores e manutenção pode ser pago se serviço é gratuito?
A resposta é: as Baleias Brancas pagam.
Primeiro esqueça aquela viagem da “baleia azul”, uma mistura de lenda urbana com fake news que apavorou pais que achavam que os filhos estavam vulneráveis a uma seita de internet. “Baleia Branca” é um termo gringo para definir o jogador hardcore, é o cara que vai sustentar o jogo financeiramente.
Com a dinâmica de temporização das jogadas, com fichas, gemas, e outros nomes acabam convergindo na mesma coisa, o jogador para de jogar e progredir em algum momento do dia. Para continuar jogando, ele precisa gastar recursos do jogo, ou colocar dinheiro de verdade na parada, e é aí que toda economia do game gira.
Para valer a pena para o jogador hardcore gastar, ele precisa de uma comunidade ativa, e que seja minimamente competitiva, gerar isso com tamanha oferta das plataformas como Google Play, PSN, Xbox Live e outros é muito complexo, então a empresa foca em oferecer o jogo gratuitamente e investe em propaganda. Parte dessa propaganda consiste, inclusive, em chamar outros jogadores, é aí que o almoço grátis passa a ser pago. Aquele que joga gratuitamente precisa do recurso, e para isso convida mais e mais jogadores, uma hora essa tarrafa volta com mais peixes e também alguma “baleia branca”.
Muita gente pode não acreditar de cara nesse organismo econômico, porque pode parecer loucura gastar com algo que é oferecido sem custo, mas dando uma boa olhada na internet não é difícil de achar pessoas que pagam centenas de reais todos os meses, isso independente do título e de sua qualidade.
Mesmo aquele game simples de celular tem milhares de pessoas jogando, e vários jogadores que investem pesado seu dinheiro para ter poder e controlar esse micro-universo.
Esses gastões acabam empurrando muita gente para consumos esporádicos, pessoas que por questão de tempo, investem algumas dezenas de reais de vez em quando para ter algum equilíbrio e continuar competitivo. Ainda que em todos esses casos os jogadores se dividem em poucos grupos, como os que jogam gratuitamente e são casuais, os gratuitos que investem muito tempo, os casuais que investem pouco, e aqueles que são o tema dessa coluna, os que jogam muito e investem muito.
E é assim que seu jogo favorito permite que você jogue sem colocar a mão na carteira, e que mesmo assim todo mundo paga as contas e fica feliz. É um ciclo que funciona, tem seus defeitos e qualidades, mas antes de tudo, funciona.
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