A trapaça mais arriscada dos games: Troca de Carts 01
Em um passado não tão distante os videogames eram realmente difíceis, tanto que qualquer Dark Souls seria considerado fácil para um devorador de jogos da geração dos 8bit (Master System e Nintendinho). As razões para essa dificuldade são várias, desde a falta de tecnologia e componentes que obrigavam o jogo a ter um desafio curto, e por isso mesmo beirando o ridículo de difícil para não enjoar quem gastou seu rico dinheirinho, e também alguma referência dos fliperamas, onde a dificuldade significava mais dinheiro no bolso do dono da máquina, já que para continuar jogando era necessário gastar mais em fichas. Então para vencer o game e posar para os amigos no recreio, só haviam dois caminhos: jogar até ficar realmente bom no jogo, decorando movimentos dos inimigos e cada desafio no caminho, e o caminho sombrio dos truques e trapaças.
A maioria envolvia só uma sequência de comandos em um determinado momento do jogo para conseguir vantagens como vidas infinitas, munição extra ou seleção de fases, e em alguns outros era a única forma de uma pessoa comum chegar ao final, caso de Contra do Nintendinho que parecia impossível sem a clássica trapaça dos jogos da Konami. Mas existia um método ainda mais arriscado de conseguir essas vantagens nos jogos, uma maneira que podia estragar definitivamente seu videogame ou os jogos envolvidos no macete. Era arriscado o bastante para as revistas da época ensinarem, mas ao mesmo tempo deixando avisos de que era de inteira responsabilidade do leitor fazer qualquer um daqueles truques. O processo era relativamente simples: exigia que o jogador retirasse o cartucho de um jogo específico com o videogame ligado e funcionando, e colocasse em seguida de outro jogo, onde conseguiria destravar o truque. O nascimento desse tipo de procedimento remete o avô dos consoles domésticos Atari 2600, que tinha cartuchos multi jogos, onde o game era escolhido em uma sequência de chaves no próprio cartucho.
Jogadores perceberam que mexer nas chaves durante o funcionamento, poderia permitir vantagens únicas. Já a versão mais arriscada, de retirar o cartucho do console, começa a aparecer com frequência nos 8bit, e fica popular com o Sega Mega Drive. Obviamente que para descobrir esse tipo de coisa, o jogador precisava ter uma centena de títulos, e pouco amor pelos itens e pelo console. Depois de energizado o cartucho, interromper o contato dele com o console podia causar danos sérios ao aparelho, o que não era um risco pequeno considerando que nos valores da época, um videogame custava entre quatro e cinco salários mínimos, e um cartucho original pelo menos metade do salário de um mês trabalhado.
Desses truques bizarros, os mais famosos envolviam Altered Beast do Mega Drive, que se substituído por Strider concedia vidas infinitas ao ninja da Capcom, o inverso era possível se jogador arriscasse um cartucho de Golden Axe e trocasse para Altered Beast. Com o Streets of Rage o truque era mais simples, já que envolvia retirar e colocar o mesmo cartucho com o videogame ligado, o que te garantia um continue com 14 vidas extras, o que não faz sentido nenhum já que um jogador com poucas habilidades consegue vencer a aventura no modo normal sem perder uma vida sequer. Para donos de outros consoles da época, esse tipo de truque era mais uma lenda urbana que uma realidade, já que eram poucas as pessoas com sangue frio o suficiente para tentar algo que sabidamente só funcionava no Mega Drive. Além disso, o hábito de usar trapaças nos jogos não era muito bem visto pela comunidade gamer, já que dominar certo jogo era até um símbolo de status.
Havia diferença entre ser o cara que só consegue jogar Sonic com truques, com o cara que zerava Rockman 3 em menos de uma hora. Sonic, inclusive, é outro exemplo de como esse tipo de truque era desnecessário, retirar o cartucho do jogo no momento certo, permitia o jogador a usar o modo debug do ouriço azul, que deixa o jogador montar um monte de coisa no cenário e passar de fase sem encontrar inimigos. Só que esse mesmo truque era acessível dentro do jogo, se segurar o botão C enquanto Sonic balança seu dedo na tela de apresentação, e fazendo a sequência: cima, embaixo, esquerda, direita, A+Start. Só pode ser perdoado quem recorria ao cheat do debug se foi antes da descoberta do truque, que acreditem em mim: foi capa de revista na época.
E você? Conhece algum outro truque maluco? Já estragou algum jogo fazendo isso? Seu primo estragou seu videogame na época desse jeito? Conta aqui nos comentários!
Conheça o Video Game Data Base, o museu virtual brasileiro dos videogames. Pensou videogame, pensou VGDB.
