Resistentes no ofício do corte e costura
Há 30 anos, a costureira Marlene dos Santos ensina o ofício em Campo Grande, para turmas cheias. A ex-aluna de escola tradicional de Corte e Costura, que funcionava na rua 13 de Junho na década de 70, passou um tempo atendendo a clientela, mas cansou e aos 42 anos passou a dar aulas.
Em tempos modernos, aprender corte e costura voltou a ser programa para donas-de-casa. Mas as diferenças são evidentes. Dona Marlene recebe a equipe do Lado B com a pergunta: “Vocês conhecem meu blog na internet? Tem tudo sobre o meu curso lá”.
Além da comunicação online, ela lembra que a forma de ensinar atual tem moldes mais modernos e as máquinas fazem de tudo, além de serem mais baratas.
“Hoje minhas alunas vem aqui para aprender a costurar para elas mesmas, ninguém mais quer trabalhar com isso”, explica sobre as turmas cheias de 14 às 19 horas, 3 vezes por semana.
Ela acha que a facilidade de encontrar o que se quer, pronto, nas lojas, afastou as clientes das tradicionais costureiras de bairros. Como esse tipo de profissional perdeu espaço, o jeito foi encontrar renda em outro tipo de serviço, avalia dona Marlene, hoje com 72 anos.
“Agora só ganha dinheiro quem faz reparos de roupas, a barra de uma calça. Isso virou mania na cidade” Sobre as alunas, ela explica que e “hoje elas fazem o curso para “se virar em casa”.
Cheia de Clientes - No bairro Tiradentes, a costureira Maria ainda é uma das resistentes na arte de “costurar para fora”. Em um quarto com tecidos espalhados e vários desenhos de roupas em papéis pelas paredes, difícil é entender como ela se orienta.
As clientes são fiéis, diz Maria Tereza Pillon, de 53 anos. “Tem gente que já é minha cliente há 25 anos. Outras vêm de Aquidauana, Dourados, só para fazer encomendas”.
As entregas demoraram em média 15 dias e algumas nem sequer precisam aparecer para experimentar a roupa. “Já conheço as medidas e algumas peças não precisam nem de prova”, diz.
Todos os dias ela tem roupas para cortar, montar, costurar e entregar. O que mais compensa, avalia, é investir na roupa de festa. “Fica mais barato que vestido de promoção”.
Em nome da clientela, a costureira diz que as mulheres ainda gostam de escolher o tecido, o modelo da revista e pagam menos em relação a roupa de grife. Mas a maior parte procura Maria porque não encontra a roupa do tamanho certo ou no estilo adequado. “Tenho muitas clientes de idade avançada e algumas gordinhas”.
Mesmo com poucas lojas de tecidos hoje em Campo Grande, a costureira garante que não falta opção e dá a dica: “Em Ponta Porã compensa muito comprar tecido, principalmente, renda”.