Você tem coragem de ignorar a moda e dar um chega pra lá nas tendências?
No geral, desfiles de moda são situações propícias à gente que quer parecer original, criativa ou só chamar atenção. Para os vanguardistas, fashionistas e os que se dizem mais antenados, é pura questão de estilo. Aos olhos dos tradicionalistas, não passa de exposição e exagero.
Afinal de contas, o que leva alguém a se produzir pensando em se tornar o centro das atenções? E quais motivos levam uma pessoa a ignorar a moda e viver sob o conceito único de "vestir o que gosta para sentir-se bem"?
O Lado B foi em busca de respostas e encontrou, parte delas, no desfile promovido pelo estilista Luiz Gugliato, na antiga rodoviária de Campo Grande, durante esse final de semana.
Campo Grande não tem a cultura do lançamento de coleções em desfiles, como nos principais centros de moda, mas não foi surpresa se deparar com produções que pareciam ter saído diretamente da passarela, onde a liberdade artística tem espaço e é ainda mais latente. Na platéia, maquiagem pesada, brilhos e looks pensados para impressionar.
Do casal que chegou totalmente "de social" - ele de terno e gravata e ela de vestido na altura do joelho - às madames superproduzidas, passando pelas crianças incomodadas com as roupas escolhidas pelos pais, o que mais se notava era a tentativa de parecer diferente.
De tubinho preto fosco tomara-que-caia, sapatos peep toe e acessórios dourados dos pés à cabeça - a começar pela maquiagem e cor do esmalte, a acadêmica de moda Gabriele Rayane Correa, de 22 anos, sabe que chama a atenção, mas é justamente por isso que se produz com tanto empenho.
“Me sinto super bem de passar na rua e o pessoal buzinar”, revelou. Para sair de casa, a “passadinha” em frente ao espelho demora, no mínimo, 1 hora. “Eu gosto de coisas grandes, exageradas, com muito brilho”, disse.
E nada de sair com a “cara lavada”. Maquiagem é item obrigatório para não ficar se sentindo feia. “É constrangedor”, exagera. Para a acadêmica, que quer trabalhar com o “estilo sexy”, a moda é liberdade, mas não tem nada de democrática. “Acaba impondo”, resumiu.
É o que pensa, com algumas ressalvas, a amiga, Nicolle Nalim, de 21 anos, que abandonou os cursos de psicopedagogia e biologia para “fazer o que sempre quis”: moda.
“Impõe, claro, mas você não é obrigado a seguir sempre, independente se você está no mundo da moda ou não”, destacou. E existe a “questão do estilo”, explicou a estudante. “Tem pessoas que são fashion, que seguem à risca tudo o que vê na passarela, e tem os vanguardistas que estão sempre à frente daquilo que foi lançado”.
Segundo a acadêmica, a passarela mostra tendência e não conceito. Vem daí, talvez, o motivo que faz muita gente exagerar na hora da produção.
“Alguém vê em um desfile a transparência de uma camisa, mostrando os seios, e as pessoas querem aplicar aquilo nas ruas”, disse, ao explicar que nem tudo o que se vê nas passarelas ou nos outdoors podem ser levados ao closet.
Para a balconista Maria Elena da Silva, de 52 anos, “muita gente exagera”, mas o importante é sentir-se bem. Ela, por exemplo, assiste, uma vez ou outra, programas televisivos que abordam o tema, mas não costuma aplicar tudo o que vê no dia-a-dia.
“Cada um veste de acordo com seu estilo de ser e sua idade”, afirmou. Para o desfile na rodoviária ela preferiu apostar no preto e vermelho porque acha “mais elegante”. “Foi um evento especial, por isso eu me vesti melhor”, contou.
Para dona Maria, a moda hoje está mais escandalosa. “Sempre tem alguém exagerado”, finalizou.
Na última São Paulo Fashion Week, o Lado B teve uma conversa dessas com o estilista Alexandre Herchcovitch, sobre reproduções e estilo. "Não sei fazer o padrão. Vivemos no Brasil, não existe isso de padronização da moda porque são muitos gostos dentro de um só País".
Na coleção Primavera/Verão, as modelos com turbantes estilo anos 80, totalmente Boy George, pareciam bem distantes das ruas atuais, mas no dia seguinte, por todos os lados, já apareciam seguidores do estilista reproduzindo o mesmo estilo. "É assim, não porque as pessoas copiam, mas porque faltava coragem talvez para se apresentar na rua", resumiu.