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Sabor

Abadio se foi, mas deixou receita que faz até hoje família comer cabeça de boi

Thailla Torres | 24/08/2018 08:19
Sinval é quem se encarrega de manter a tradição e assar a cabeça de boi em família. (Foto: Kimberly Teodoro)
Sinval é quem se encarrega de manter a tradição e assar a cabeça de boi em família. (Foto: Kimberly Teodoro)

Quem já experimentou garante: a melhor parte do churrasco é a cabeça de boi servida bem passada e temperada com molho de família. Na casa de algum parente, o pedreiro Sinval de Souza Vieira, de 69 anos é o responsável por ensinar como se faz esse um churrasco inusitado.

Mas o almoço também serve para manter viva uma tradição deixada pelo pai, Abadio Vieira, que partiu há anos. "Essa tradição veio de fazenda, é muito antiga. Quando meu pai vendeu a fazenda e viemos pra cá (Rio Verde), ele sempre fazia uma cabeça de boi", lembra Sinval.

Na infância, o filho mais velho entre os três homens admite que não gostava muito do prato típico em família. "Eu olhava e achava estranho. Mas todos os filhos tinham que comer".

Após 24 horas, é só tirar a pele e a carne está macia, garante Sinval. (Foto: Kimberly Teodoro)
Após 24 horas, é só tirar a pele e a carne está macia, garante Sinval. (Foto: Kimberly Teodoro)

Abadio era um homem festeiro, carismático, do tipo que amava ter a família por perto. "Cada filho sempre teve o seu canto, mas fim de semana, ele fazia questão de reunir todo mundo. Em dia de festa, ele não abria mão de assar a cabeça".

O pai tinha várias formas de preparo, mas o segredo estava no tempo do fogo. "Ele assava no fogão a lenha ou na churrasqueira. Mas o jeito mais tradicional era no chão, com a brasa. Ali ele deixava horas, comia só no outro dia e a carne desmanchava. Eu deixo quase 24 horas".

A simplicidade do sabor está no tempero do molho, não da carne, orienta o filho. "A cabeça você não tempera. Corta apenas o chifre, a orelha e costura a parte que liga ao corpo para não entrar terra. Depois é só deixar no fogo. O gosto diferente vem do molho que meu pai também ensinou".

A receita a seguir é com ingredientes que muita gente tem em casa. "Basta espremer um limão, bater com alho, cebola, cheiro verde, tomate, molho de tomate, pimenta e sal. Mas veja só, o molho de tomate também tem que ser natural", explica.

Quando a carne finalmente fica pronta, a cabeça de boi leva mais que sabor ao prato. "A gente lembra muito do pai. Porque se ele tivesse aqui ninguém mexeria na cabeça dela, ele amava fazer isso, servir todo mundo. Depois a festa continuava com catira, ele era um cuiabano que gostava de bater os pés no chão".

As festas em família resumem o amor e a união que seu Abadio soube ensinar aos filhos desde a infância. "Ele foi um exemplo e sempre ensinou que família é o mais importante. Aqui todo mundo se reúne no fim de semana. Nossa mãe já está com 100 anos e mesmo assim continua aquela festa".

Dia desses a esposa de Abadio, dona Olípia, comemorou seu centenário de vida. Para festejar, Sinval com ajuda de outros filhos preparam a cabeça de boi para alegrar seu dia. "Não deu pra quem quis. Todo mundo amou. Ainda tem gente que olha torto, acha estranho, mas eu garanto que é boa".

Para quem nunca experimentou, Sinval dá dicas. "Come a carne primeiro, depois experimenta a língua, é a parte mais disputada", brinca.

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