Aos 83 anos, Cerise une a família e mantém tradição de fazer docinhos de festa
Banqueteira de mão cheia, é assim que dona Cerise é chamada na família pelo dom de fazer doces especiais
A praticidade em encomendar docinhos de alguma confeitaria para as festas da família até poderia fazer parte da rotina de dona Cerise Delfina de Campo Barros. Mas, aos 83 anos, isso não faria sentido. Ainda hoje ela mantém a tradição de fazer todos os doces de casamentos, aniversários e batizados da família. E isso tem um valor ainda maior ao conseguir levar todo mundo para a cozinha.
Tudo começou quando os filhos ainda eram pequenos. Cerise conta que amava cozinhar, mas tinha o desejo de aprender mais sobre a confeitaria, foi então fazer cursos no Rio de Janeiro e aprendeu como ninguém fazer docinhos que encantavam a família. “Aprendi fazer bolos, tortas e muitos doces. Era um prazer ir para a cozinha e fazer um prato saboroso para minha família”.
Cerise nunca vendeu um bolo e nem atuou como confeiteira, tudo o que produzia era para os filhos e assim nasceu a tradição de fazer os doces de todos os eventos. “Comecei com os batizados, depois vieram os aniversários e os casamentos. Ah os casamentos, eles sempre foram os mais especiais”, diz com alegria.
Hoje, ela vive em Corumbá e diz que sua maior alegria é se reunir com as filhas e as netas no preparo dos doces de casamentos. “Eu consegui um feito, levar todo mundo para cozinha. E ainda dizem que o melhor bombom de uva é o meu”.
Entre as receitas estão docinhos de morango, uva e tâmaras recheadas, mas ao longo dos anos e das festas ela sempre vai acrescentando uma receita nova. “Nunca me importei de fazer, faço porque amo. Algumas pessoas sugerem de encomendar os doces, mas não seria a mesma coisa, não teria o mesmo encanto de passar horas na cozinha preparando cada docinho”.
Foi esse sentimento que um dia fez Cerise largar tudo em Corumbá e viajar 427 até Campo Grande para salvar um sobrinho às vésperas do casamento. “A empresa que que os noivos haviam contratado não fez os docinhos, na hora em que fiquei sabendo jamais pensei em deixá-los sozinhas, fiz questão de produzir todos os docinhos”.
Para Silvia Maria Widal de Barros,mãe do noivo que teve privilégio de casar e saborear dos doces de dona Cerise, o socorro é inesquecível. “Foi mais do que socorro, foi uma benção tê-la com a gente. Receber esse cuidado e esse amor que ela dedica, foi muito importante e muito gostoso para todas nós. Porque o doce dela não tem só saber, mas tem amor”.
Para a neta Carolina Barros de Lacerda, de 41 anos, a tradição marcou desde à infância. “Me lembro desde criança da tradição, nós nos reuníamos dois dias antes dependendo do evento. E tudo gira em torno do enrolar dos docinhos, com aquela conversa e papo de família. A gente começa a colocar as crianças para também enrolar os docinhos e elas estão sempre ao nosso lado ouvindo as histórias. Isso tudo é definido como uma reunião de amor e muito companheirismo”, descreve.
Para Cerise, sem a tradição, as festas não teriam sentido. “É como dizem por aí, isso é algo que não tem preço. Pra mim nunca foi uma obrigação, mas uma satisfação cozinhar e aquele momento ao lado da família é algo que fica no coração da gente, tanto que temos pouquíssimas fotos. É tanto doce que a gente nem lembra de fotografia”, diz.