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Sabor

Calulu de carne seca faz engenheiro matar saudade da Angola pelo prato

Sabores fizeram Bruno Bortolás relembrar os 2 anos em que morou na Angola e, coincidentemente, receita foi feita no Dia da África

Paula Maciulevicius Brasil | 30/05/2020 07:22
Bruno com crianças ao fundo no Morro do Tchizo, na Província de Cabinda, ao norte da Angola. (Foto: Arquivo Pessoal)
Bruno com crianças ao fundo no Morro do Tchizo, na Província de Cabinda, ao norte da Angola. (Foto: Arquivo Pessoal)

O calendário marcava 25 de Maio, "Dia da África", mas não foi pela data que o engenheiro ambiental Bruno Bortolás se lembrou do tempo vivido lá, e sim pelo sabor. Coincidentemente, a quarentena despertou saudades da Angola e, no dia ele levou o sentimento para a cozinha, de onde saiu o calulu.

"Pode ser de peixe seco, existe um típico lá, peixe fresco ou de carne seca. Vai óleo de palma, que é o azeite de dendê, berinjela sem casca, tomate, quiabo e jimboa, que em Mato Grosso do Sul não tem", descreve o engenheiro sobre a receita.

Bruno tem 29 anos, e deixou Campo Grande pela primeira vez rumo à África em março de 2017 para trabalhar como engenheiro sanitário e ambiental na Angola. Foram quatro meses lá, depois oito meses aqui no Brasil, até ele voltar em março de 2018 e permanecer até dezembro do ano seguinte.

"Na primeira vez não tive muito contato, era mais mesmo com brasileiros, mas na segunda vez, fiquei em uma província chamada Cabinda, ao Norte da Angola", conta. Lá que ele morou com angolanos e viveu a cultura deles. "Morei praticamente oito meses na condição de uma pessoa angolana. Eu tinha contato com a família de quem trabalhava lá, sabia a realidade deles, a forma que pensavam, o que achavam de nós", recorda.

Na lida, no Morro do Liombe, em Cabinda. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na lida, no Morro do Liombe, em Cabinda. (Foto: Arquivo Pessoal)

O trabalho que o levou para a África foi o de saneamento. Bruno fazia parte de um escritório que realizava projetos de abastecimento de água e estação de tratamento. "Eu sempre tive o desejo de viajar, ir para outro lugar e desenvolver o trabalho que preciasse. Não fui com o intuito de dinheiro, fui para conhcer a cultura de lá, até porque a gente sabe muito pouco. A maioria das pessoas para quem eu falo que fui pra lá não tem a menor ideia de como é, acha que as pessoas vivem pedindo comida na rua, moram em uma espécie de oca, não conhecem as belezas e o desenvolvimento", comenta.

E foi com os angolanos com quem dividia casa que ele aprendeu a cozinhar, e agora nos ensina a fazer: Calulu de carne seca com funge de bombo. "Ele é servido com funge de bombo, o prato mais típico da Angola, que acompanha tudo lá, seria nosso arroz", compara Bruno.

O funge pode ser feito com farinha de mandioca, milho branco ou milho amarelo. No caso, Bruno fez a receita mais tradicional, de farinha de mandioca.

O calulu pronto, feito com carne seca, e de farinha de mandioca, com espinafre, tomate, cebola e farinha. (Foto: Arquivo Pessoal)
O calulu pronto, feito com carne seca, e de farinha de mandioca, com espinafre, tomate, cebola e farinha. (Foto: Arquivo Pessoal)

Ingredientes:

400g de charque;

2 berinjelas descascadas;

2 tomates picados;

2 cebolas médias picadas;

2 dentes de alho picado;

200g de jimboa (no caso, ele usou espinafre)

100 a 150 ml de óleo de palma (azeite de dendê)

Modo de fazer: 

Ferva a água, coloque a farinha, e mexa até tirar todas as "bolinhas". É importante reservar um pouco da água fervida e ir misturando aos pouquinhos até coseguir deixar homogênea. "Você transfere muita energia para ele, geralmente, coloca no chão uma bacia, mexe com as mãos e prende com os pés", explica.

A carne seca deixa de molho para dessalgar um pouquinho, depois tira a gordura, cozinha novamente e reserve. Nesta segunda água, coloque a berinjela para cozinhar, e na sequência, refogue com tomate, cebola e alho e adicione o quiabo.

Você deixa cozinhando até dar o ponto, coloca o azeite de dendê e, pronto, só servir com a carne seca. No fim, a receita original pede pelo jimboa, e por aqui, Bruno resolveu usar espinafre.

Na estrada entre as cidades de Sumbe e Koquimbo, espetinho à venda. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na estrada entre as cidades de Sumbe e Koquimbo, espetinho à venda. (Foto: Arquivo Pessoal)

Além do prato, o engenheiro conta que também sente saudades do espetinho de moela e da alegria do povo dançando quizomba. "De uma forma bem geral, a gente aprende a valorizar o que é mais simples, o básico, porque você aprende a conviver com a escassez de infraestrutura", fala. "Mas se você precisar de ajuda, eles te ajudam. Eles têm uma parte muito alegre, é bacana ver tamanha solidariedade", reflete.

Por enquanto, Bruno não tem planos de voltar. E você tem uma viagem bacana para compartilhar com o Lado B? Mande para a gente pelo Facebook, Instagram, e-mail: ladob@news.com.br ou então pelo Direto das Ruas, o WhatsApp do Campo Grande News, 99669-9563.

Foto tirada na estrada EN100 entre Cabo Ledo e Luanda. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto tirada na estrada EN100 entre Cabo Ledo e Luanda. (Foto: Arquivo Pessoal)


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