Famoso pela Maria Quitéria, Arce agora encara fogão na pandemia
A agenda de shows estava lotada, mas coronavírus atrapalhou planos e agora o jeito é atuar atrás do fogão
Famoso em Mato Grosso do Sul pela personagem Maria Quitéria, Arce Correia resolveu encarar a cozinha e fazer marmitas, pães, geleias e até sopa paraguaia para vender e gerar renda durante o isolamento social, em São Paulo. Sem atuar por conta da pandemia, ele transforma o projeto “Saborearce”, em arte gastronômica e mostra que está longe dos palcos, mas do mundo artístico, jamais.
“Não sou cozinheiro, sou artista. O projeto de "Saborearce" nasceu na intenção de reunir os amigos e pessoas não conhecidas para comer. Sempre quis fazer um espetáculo que tivesse o processo da cozinha durante a peça e no final, seria o momento de experimentar em comunhão”, explica.
A proposta foi criada em janeiro deste ano e aconteceria uma vez por mês. No início, a intenção era vender a comida e, enquanto as pessoas saboreavam o prato, participariam de um encontro cultural, com sarau e apresentações.
“Uma experiência gastronômica cultural, que envolve a cultura da comida e cultura artística, no sentido do teatro, música. Isso aconteceu apenas três vezes, janeiro, fevereiro e março, aí veio a questão da pandemia e não podíamos mais realizar eventos. Nisso, vem a necessidade de fazer verba de outra maneira. Precisava ver algo para não parar, pois provavelmente, o setor cultural é o último a voltar a funcionar. Aí, pensei em monetizar a ideia”.
Aos 40 anos, Arce é sul-mato-grossense, nasceu em Camapuã e morou em Campo Grande de 1998 a 2010, onde deu vida à Maria Quitéria. “É uma personagem de humor que tenho desde 2000, em agosto, completa 20 anos”.
Maria Quitéria é conhecida pela sinceridade, jeito único de se vestir e por manter o bom humor. Já foi tema de reportagem no Lado B, como a vez que foi selecionada para o Prêmio Multishow de humor em 2014, quando completou 14 anos de história com a paródia de Harry Potter e até quando lançou um clipe para quem mete o bedelho na vida alheia, que fez muita gente iniciar 2019 dando risada.
Por aqui também fez parte do Teatral Grupo de Risco e do Circo do Mato. No entanto, há dez anos, mudou-se para São Paulo, onde se formou em teatro pela Escola de Arte Dramática da USP (Universidade de São Paulo). Por lá, fez parte de algumas companhias teatrais, mas nunca deixou de fazer sucesso como Maria Quitéria. A rotina era intensa e para este ano, a agenda estava lotada de shows.
“Tinha bastante evento com a Maria Quitéria, havia acabado de retornar do período do carnaval, quando trabalho em Corumbá. Tinha viagens marcadas para fazer shows, temporada de espetáculo que estaria estreando agora em julho com a Companhia do Tijolo, mas agora está tudo paralisado”, conta. Para não serem tão prejudicados, os artistas da companhia permaneceram com os ensaios on-line e modificaram o espetáculo presencial para vídeo. “Estamos terminando o processo no mês de julho, mas não estar em cena é muito estranho”, comenta.
Longe dos palcos, a saída foi encarar o fogão para sobreviver. “Trocando tudo isso pela cozinha. Na verdade, sempre cozinhei, então agora, só intensifiquei o ritmo. Tô bem exausto porque são muitas atividades para dar conta e entregar produtos com qualidade. Tenho vários cuidados para não ter contaminação dos alimentos e nossa, e para evitar que o vírus continue circulando. Isso é um quebra galho, porque a grana que tenho conseguido angariar tem sido dos alimentos”, diz.
Arce relata que sua ligação com a cozinha vem da infância, quando aprendeu a cozinhar vendo outras pessoas e, principalmente, com sua mãe. O gosto pela preparação da comida também era uma forma de reunir os amigos. “Sou casado, e tanto eu quanto meu companheiro, sempre cozinhamos em casa”.
O projeto "Saborearce" agora funciona como delivery, aos sábados. “A princípio, comecei cozinhando e fazendo as entregas, mas agora tenho três entregadores”. No cardápio, entre os pratos principais está a tradicional feijoada, frango com quiabo e uma opção vegetariana.
“A opção sem carne que criei, é uma caldeirada de legumes com leite de coco. São pratos completos, no acompanhamento tem arroz com cróton de coco no dendê e ceviche de banana-da-terra. Outro prato que serve sempre é frango com quiabo, arroz e banana-da-terra ou arroz carreteiro com banana-da-terra e creme de milho. Mas, o menu varia a cada semana”, explica.
As refeições custam R$ 30,00 e além das marmitas, ele ainda faz pão italiano artesanal de longa fermentação e alta hidratação, com fermento biológico seco, que varia de R$ 20, 00 a R$ 24,00.
“Faço também chipa e sopa paraguaia, pratos típicos da fronteira de Mato Grosso do Sul, esses são congelados para assar em casa. Tem geleias, patês, babaganuches, caponatas de berinjela. Tenho experimentado várias coisas para entender o que pode funcionar melhor, pois comida demanda tempo, é bastante gasto e a renda não é tão alta”, destaca.
Foram de cena, a cozinha é o que tem ajudado Arce a se distrair no período de caos. “Gosto muito e me realizo cozinhando porque vejo a transformação das coisas. É uma alquimia que me encanta e saber que as pessoas gostam e se alimentam, me alimenta”.
Enquanto os eventos artísticos presenciais não voltam, as preparações seguem a todo vapor na cozinha de sua casa. O jeito é levantar da cama animado e dedicar toda energia e amor nas produções. “A ideia é disseminar a questão artística com poesia, textos, músicas, mesclando com a culinária, de forma que a comida para pessoas como uma arte”, finaliza.
Para alcançar a clientela ele criou o perfil @saborearceoficial.
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