Festas de fim de ano pedem vinho, tente um Português
A influência portuguesa no cardápio de fim de ano do sul-mato-grossense é pouco notada. Isso não quer dizer que não seja marcante. No desfile de pratos lusos pelas mesas das cidades de Mato Grosso do Sul, um ou outro item é figura certa. É assim com a doce e macia rabanada e com o imponente cordeiro.
Com a farta oferta da carne, que proporciona ao sul-mato-grossense esplêndidos churrascos, muito pouco sobra para comparar entre os menus cheios de porquês e razões culturais. Há, porém, um item que certamente estará aqui e além-mar, o vinho.
A bebida, tão apreciada no fim de ano é uma das traduções da excelência portuguesa. Um patrimônio cultural de destaque econômico, cujo reconhecimento extrapola as fronteiras europeias.
Em 2016, no ranking elaborado pela Asociación Mundial de Periodistas y Escritores de Vinos & Licores, 18 dos cem dos melhores vinhos produzidos no mundo são de Portugal. Este foi um ano profícuo para vitivinicultura portuguesa.
No ano anterior, dois exemplares produzidos em Portugal figuravam na lista e, em 2014, três. A bebida lusa divide a preferência com produtos oriundos da França, Chile, Estados Unidos, entre outros, totalizando 650 mil avaliados pela entidade.
Os norte-americanos representam hoje o maior mercado consumidor de vinhos do mundo, segundo a The National Association of American Wineries. A indústria dos EUA produz, em média, 350 milhões de litros de vinho todos os anos. A equação é simples, são os que mais compram e os que mais produzem.
Conforme a revista Wine Spectator, sete dos dez vinhos mais vendidos em 2016, são norte-americanos, dois são italianos e é um francês. A publicação, que figura como 14ª mais influente no setor de alimentos e bebidas pelo Google, destaca a produção vinícola de 12 países.
São eles: Argentina, Austrália, Áustria, Chile, França, Alemanha, Itália, Nova Zelândia, Portugal, África do Sul, Espanha e os Estados Unidos. Entre todos, Portugal é o único a receber dos críticos da revista, a menção de produzir o vinho mais emocionante e excitante do Planeta. Não há como discordar.
Em cada gota do vinho português está um pouco da paixão histórica iniciada pela influência árabe.
As rotas da vitivinicultura portuguesa são: Dão, Vinho Verde, Távola e Varosa, Trás-os-Montes, Beira Interior, Açores, Madeira, Algarve, Península de Setúbal, Lisboa, Tejo, Alentejo, Porto e Douro.
Os vinhos do Porto e Douro e os produzidos no Alentejo são os mais apreciados dentro e fora das fronteiras portuguesas e estão entre os mais premidos neste ano. No Alentejo, tudo começa nos vinhedos estrategicamente instalados na região, onde as temperaturas oscilam entre 0º C no inverno e 40º C graus no verão.
É por isso que os habitantes do local dizem que naquela porção do país há somente duas estações, o inverno e o inferno. É esse microclima o responsável pelas condições ideais para a excelência de vinhos mais quentes e suaves.
Estão, contudo, no Douro, os vinhedos que produzem a bebida considerada a embaixatriz de Portugal, o vinho do Porto. Nessa região, a paisagem foi inteiramente modificada com a implantação de vinhedos nas encostas do Rio Douro, permanecendo quase na vertical.
Os viticultores do Douro desafiam a gravidade e a aridez do solo ao instalar vinhas ao longo do rio, considerada a região da viticultura mais dura do mundo. Isso acontece porque o solo é áspero, rico em xisto, uma rocha metamórfica semelhante à ardósia, o que contribui para a retenção da água.
Conta-se no Porto que, quanto mais dura a terra, maior e melhor é a uva produzida. No Douro, vinhas de uvas autóctones brancas e vermelhas brotam da terra dura. São mais comuns as vermelhas das castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Baga. Entre as brancas estão as castas Gouveio, Gódega, Arinto, Rabigato e Viosinho.
Há centenas de outras amadurecendo lentamente ao longo do ano. Cada estágio de maturação da fruta interfere diretamente no teor alcóolico e sabor da bebida. Quando ainda estão pouco maduras, as uvas resultam em um vinho verde e fresco de baixo teor alcóolico. A bebida é apreciada para amenizar as temperaturas na primavera e verão.
Já as uvas colhidas em maturação plena proporcionam uma bebida encorpada, de sabor marcante e cujas garrafas ajudam a aquecer no outono e inverno. Dos vinhedos, para moendas industriais, o suco é fermentado e o processo termina na armazenagem em barris de madeira.
É nessa fase que o vinho adquire a textura aveludada e o sabor marcante, ressaltando ao paladar notas diversas que variam da fruta ao chocolate. Uma alquimia perfeita, quase magia. Os turistas podem conferir o resultado do processo em caves instaladas na cidade de Vila Nova de Gaia, na ribeira do Douro, Patrimônio Mundial da Unesco.
Cada passeio é uma viagem no tempo com a imersão aos fatos históricos que resultaram no apreciado e licoroso vinho do Porto. Por curiosidade, a produção do mais famoso vinho do Porto, o Sandeman, começou com um escocês, George Sandeman. Em 1790, o jovem empresário de 25 anos planejava aposentar-se antes do fim do século e começou o negócio a partir de um empréstimo de 300 libras.
Hoje, a Sandenan está na sétima geração e, além do sabor do vinho, inovou na forma de produção, armazenagem e, até, no marketing. A marca é representada pela capa preta utilizada pelos estudantes universitários do Porto e entusiastas do consumo de vinho.
Muitas páginas podem ser recheadas pela história do vinho do Porto e como essa bebida repete a sina portuguesa de chegar a todo o mundo. Para quem pretende manter a tradição de regar as festas de fim de ano com o vinho, um dos símbolos da prosperidade, algumas dicas podem ajudar a escolher a bebida.
A mais importante: um bom vinho não precisa ser caro. As informações são detalhadas nos rótulos. A melhor produção está centrada em 34 castas dos 12 principais países produtores. O nome de qualquer país citado nesta matéria pode ajudar.
As uvas mais apreciadas são Cabernet Franc, Cabernet Souvignon, Malbec, Merlot e Pinot Noir. De Portugal saem vinhos produzidos a partir da uva Moscatel, entre tantas outras. O Natal pede vinho tinto. É uma alusão religiosa que remete à vida, porque o vinho marca celebrações de nascimento. Vinho tinto maduro cai bem com carnes vermelhas e, no calor sul-mato-grossense, é aconselhável mantê-lo a 16ºC.
São encontradas em Campo Grande excelentes vinhos tinos maduros. Entre eles estão: D. João I, Quinta dos Bons Ventos, Aldeia Leal e Moscatel. Para a noite do Ano Novo é favorável apreciar vinho branco ao jantar, acompanhando carnes de aves e peixe. Nas prateleiras dos supermercados da Capital podem ser encontrados o Casal Garcia e o Casal Mendes, dois verdes.
Esses vinhos pedem refrigeração para desafiar o calor sul-mato-grossense. Podem ser mantidos entre 5º C e 7º C, mesma temperatura recomendada para o espumante ideal que vai brindar a chegada de 2017.
Sugestão de aperitivo:
Uma receita com gosto brasileiro foi adaptada ao paladar português, a caipirinha que, aqui, também é feita com vinho do Porto. Para quem quiser experimentar, use:
60 ml de Porto Branco
4 fatias de limão
25 ml de xarope de açúcar (ou 2 colheres de açúcar em pó)
Gelo moído
Esmague suavemente as fatias de limão com o açúcar em um copo
Adicione Porto Branco e encha com gelo triturado
Mexa bem com uma colher e aproveite