Israelense, Rony perdeu o emprego e recomeça com chipa em Campo Grande
Na Dona Chipa, o comerciante vende, além das tradicionais, as opções com chocolate, goiabada e doce de leite
Brasileiro naturalizado, Rony Chitayat é um israelense de 61 anos, que fala quatro línguas e há três anos e meio vende chipas em Campo Grande. Para sair do comum, o judeu garante que inspiração divina o fez investir no sabor paraguaio. No estabelecimento da Rua Ana Luísa de Souza, o comerciante vende, além das tradicionais, as opções com chocolate, goiabada e doce de leite.
Fluente em hebraico, francês, inglês e português, o administrador viveu 44 anos no Rio de Janeiro e, deste total, pelo menos 30 viajando aos Estados Unidos, garante. Ele diz que, depois de uma multinacional, chegou a trabalhar em uma empresa de importação com cinco lojas na cidade carioca.
Mas depois da demissão, diz que foi obrigado a recomeçar. "Além da dificuldade de conseguir outro emprego, o Rio de Janeiro já está muito perigoso e como minha esposa é de Iguatemi e a mãe dela mora aqui, decidimos vir embora”, completa.
A experiência com comida teve ao lado da mãe. “Pouco antes de ingressar no ramo do comércio do exterior e compras internacionais, tive um restaurante com a minha mãe. Ela sempre me inspirou na cozinha. Eu não como carne vermelha por opção e comandava um restaurante que vendia comida árabe, sem usar carne vermelha, muitos disseram que não ia dar certo, mas deu. Mas meu segundo filho havia acabado de nascer e como tinha passado pouco tempo com o primeiro, não quis repetir a situação e decidi fechar. O restaurante tomava muito tempo”, conta.
O recomeço - Rony jura que não fala muito bem português, mas tem até sotaque de carioca. Nas paredes e prateleiras do estabelecimento mantém pequenas lembranças do país do Oriente Médio, como a frase “Baruk raba beshen adonai”, que traduzida significa “Bendito o que vem em nome do Senhor”, além da paz de “Shalom” e da bandeira de Israel ao lado da brasileira.
O comerciante nunca tinha ouvido falar na chipa, mas como já cozinhava e tinha a receita em mãos, deu tudo certo. “Já tinha comido o pão de queijo, mas, particularmente, prefiro a chipa. O espaço da chiparia já existia. O ex-dono montou e quatro meses depois foi embora para Cuiabá. Por coincidência eu conheci uma pessoa amiga dele e me apresentou o negócio e eu decidi comprar e ficar no ramo. Ele me passou a receita e deu certo”, conta.
O tamanho tradicional se assemelha a famosa chipa do Bairro Tiradentes, mas é vendida a R$ 1,50. Por conta da proximidade de outros comércios, Rony decidiu montar uma no tamanho médio que é vendida a R$ 1,00.
“Além de outros comércios vendendo a R$ 1,00 percebi que clientes fieis que antes levavam até 7 chipas por R$ 1,50 começaram a reduzir o número. Como trabalho com qualidade e já disponibilizava a chipa congelada por R$ 1,00 comecei a vender assada também”, frisa.
A tradicional de queijo ganhou a primeira “colega” de goiabada um ano depois da abertura do negócio. Não demorou muito para que a de chocolate ganhasse o pódio de vendas. Há um mês, Rony incluiu a de doce de leite, outra opção queridinha na região. As de queijo saem a R$ 1,50 e R$ 1,00 e as doces a R$ 2,50.
“Eu sempre peço inspiração a Deus para fazer uma coisa diferente e também sou uma pessoa que gosto muito de fazer a vontade de Deus. Então, dormi uma noite e quando acordei tive a ideia de fazer a chipa de chocolate. Hoje é o carro chefe nas vendas”, conta.
Apesar da nacionalidade brasileira e uma nova família, Rony sonha com a volta a Israel, considerado por judeus, cristãos e muçulmanos, uma Terra Santa.
“Gosto do Brasil, mas não quer dizer que vou morar aqui para sempre. Minha esposa também quer. Tenho toda a família do meu pai em Israel. Na época, vieram meus pais, eu e duas irmãs. Meu pai faleceu há 30 anos e minha mãe continua morando no Rio. Meus filhos do primeiro casamento, um é médico no Rio de Janeiro e outro vive na Inglaterra. Não tenho data para voltar, mas quero ser enterrado lá, não que eu esteja pensando na morte”, conta Rony.
Dona Chipa fica na Rua Ana Luísa de Souza, 1010 - Universitário. A chiparia funciona de segunda a sexta das 5h30 às 11h e das 14h às 18h30. Fecha aos sábados e reabre aos domingos das 5h30 às 11h45.