No Autonomista, carioca que veio fugido do Rio vende brownie na porta de casa
Uma mesinha, uma cadeira e vários embrulhinhos. Todos os dias, quem passa pela Rua Autonomista, na região do Giocondo Orsi, assiste à cena de um senhor à sombra de uma pequena árvore a vender chocolates. Porta de casa adentro, seu André assa os brownies, receita adaptada de um famoso bolinho carioca.
Casado com Teresa há décadas, o casal veio "fugido" da violência do Rio de Janeiro. "Sempre falo que a gente veio fugido e todo mundo fica assim: 'mas fugido de quê? O que vocês fizeram?' Fugido do trânsito, da violência", contextualiza o comerciante André Luiz Pacheco, de 57 anos.
Campo Grande foi a escolha da família 15 anos atrás porque parentes dos dois lados já moravam aqui. Teresa é professora aposentada e confeiteira de mão cheia, e, quando André se deparou com a crise que abalou o setor de vendas de mesas e cadeiras para bares, em que trabalhava, o casal não pensou duas vezes em abrir o próprio negócio.
"Eu sempre fiz doce, 30 e tantos anos de dona de casa e com essa crise... O que eu sabia fazer bem e que todo mundo adorava, era doce", conta Teresa Cristina Pacheco, de 62 anos.
Eles começaram pela torta alemã, receita de Teresa aprovada pelos amigos dos filhos, que muitas vezes foram cobaias. Da torta passaram para o pavê, até chegarem na receita de brownie. "Como a gente nunca teve comércio, tinha que ver quanto vai, quanto cobra, onde se compra. O básico sempre foi: vou fazer como faço na minha casa, comprando coisas de qualidade", explica Teresa.
De agosto a novembro eles tentaram feirinhas pela cidade com as tortas e pavês. Depois experimentaram seguir a receita do brownie que uma cunhada havia feito no Rio de Janeiro. "Ela mandou e eu não gostei. Era a do brownie do Luiz, famoso no Rio", relata a dona de casa.
Considerando que no Rio de Janeiro a umidade é enorme perto da "secura" de Mato Grosso do Sul, Teresa e André decidiram adaptar a receita que virou carro-chefe das vendas.
Montar a mesinha na porta de casa foi ideia da mulher. "Eu não tenho experiência em comércio e nem sei vender, mas ele gosta de conversar, de falar. Se for pra gente sair, botar as coisas dentro do carro e não vender nem 20 reais, por que não vender na porta de casa?", perguntou.
André aceitou, e desde dezembro a mesinha na calçada oferece brownie tradicional, de nutella, doce de leite e meio amargo, a partir de R$ 3,50 a unidade. "E eu sempre vou tentando fazer algumas coisas diferentes, tem o sanduíche de brownie com recheio no meio, e sabe os pedacinhos durinhos? Eu faço palha italiana", descreve Teresa.
Um dos recordes de venda do brownie do Luiz no Rio é o potinho feito das sobras do bolo que fica na assadeira. Resto que aqui, no brownie do André e da Teresa, virou quase um bolo de pote.
O casal fica em frente de casa, na Rua Autonomista esquina com a Jales, e também está no Facebook, com a página Casa de Santa Thereza.
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