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Sabor

Receitas escritas em 1973 vão ao forno em celebração do aniversário da cidade

Bolos que eram feitos por matriarcas de famílias tradicionais serão produzidos até dezembro

Danielle Valentim | 20/08/2019 08:07
Receitas escritas em 1973 vão ao forno em celebração do aniversário da cidade
Bolo Imperatriz Dona Eugênia, assinado por Ascina Siufi.
Bolo Imperatriz Dona Eugênia, assinado por Ascina Siufi.

“Vivemos a era do imprevisto, da espontaneidade, do constante corre-corre, de um amigo a mais em nossa mesa, além de tantos compromissos sociais. Daí nunca termos à mão aquela deliciosa receita que a gente pega hoje de uma amiga, amanhã de um restaurante e que normalmente acabamos por perdê-las.

Ponderando estes fatos e pensando unicamente em você foi que resolvemos escolher e reunir num livro singelo, saborosas e deliciosas receitas, garantidas por nomes conhecidos de nossa sociedade. Elas são provadas, experimentadas no dia a dia e conservam o toque pessoal, o segredinho de cada uma.

Foram transcritas assim como as recebemos. A essas pessoas que tão prontamente colaboraram conosco somos muito gratas e a você cara amiga, que acaba de adquirir esta coletânea, lembramos que o sucesso de uma iniciativa repousa no amor com que foi preparada e na boa vontade com que é aceita.

Nós lhe oferecemos com amor, nos deem boa vontade!
Conselho Bandeirante do distrito de Campo Grande, Mato Grosso. Maio de 1973.”

Exatamente iguais à primeira edição, receitas expõem segredinhos consideráveis.
Exatamente iguais à primeira edição, receitas expõem segredinhos consideráveis.

Com essa introdução, mulheres Bandeirantes da década de 1970 - grupo semelhantes aos escoteiros – montaram um livro de receitas para facilitar o dia a dia na cozinha, principalmente, devido ao crescente número de visitas em casa. Na época, a obra foi vendida para a construção da sede do grupo e três anos depois doada ao Educandário Getúlio Vargas de Campo Grande, para que o local arrecadasse dinheiro. Do dinheiro compraram até fogão que ainda resiste na unidade.

Nada lights, as receitas de vovó foram transcritas da mesma forma que as autoras recebiam e produziam em casa e, por isso, expõem segredinhos consideráveis, como o uso de latas para desenformar bolos até a forma de peneirar a gema frisada como “isto é importante“.

Reparem no modo de fazer, a frase "Isto é importante".
Reparem no modo de fazer, a frase "Isto é importante".
No fim do passo a passo, pede que o bolo seja desinformado após 2 dias. Quem aguenta?
No fim do passo a passo, pede que o bolo seja desinformado após 2 dias. Quem aguenta?

Participaram do livro integrantes da diretoria do grupo de Bandeirantes e amigas que doaram suas receitas. Assinam as receitas matriarcas de famílias tradicionais em Campo Grande, como família Baís, Nasser, Maksoud, Correa da Costa, Palhano Maiolino, Teperman.

“A maioria das participantes já faleceu e as que estão vivas, estão doentes. Mas foi um livro para sustentar a entidade”, lembra Nelly Maksoud Rahe, presidente do Educandário e que também assina receitas da obra.

Junto ao valor histórico do livro e a proximidade do aniversário de 120 anos de Campo Grande, o Bolo da Madá decidiu resgatar a memória e honrar as melhores e mais tradicionais receitas preparadas pelas bandeirantes de 1973.

A cada mês, a Madá vai preparar três bolos diferentes, diretamente dos livros de receitas. Parte da renda será revertida ao Educandário Getúlio Vargas. Junto às delícias reproduzidas, estarão à venda dois volumes que foram republicados em 2004. Um dos pontos de venda dos bolos e obras será a própria sede do Bolo da Madá na Rua Manoel Inácio de Souza, 1488.

Sócia-proprietária da casa de bolos Lizandra Pasqualotto, de 53 anos, explica que a ideia é comemorar a história de Campo Grande.
Sócia-proprietária da casa de bolos Lizandra Pasqualotto, de 53 anos, explica que a ideia é comemorar a história de Campo Grande.

A sócia-proprietária da casa de bolos Lizandra Pasqualotto, de 53 anos, explica que a ideia é comemorar a história de Campo Grande: com amor, tradição, solidariedade e claro, muitas delícias. Depois de Milvia Nasser, sogra de Lizandra, o livro passou a fazer parte dos enxovais da família e a ser repassado a filhas, noras e netas.

“A maioria dos bolos são recheados, então, a produção foi limitada as opções simples. O livro que eu tenho foi um presente da minha sogra Milvia Nasser, que também assina muitas receitas. Dona Zilá, que era uma das sócias do Lalai também escreveu receitas. A doceria nasceu um ano antes da publicação do livro, em 1973”, frisa Lizandra.

“Eu era a presidente da Bandeirantes e fizemos o livro de receitas para construir a sede das bandeirantes. Assinaram as receitas as integrantes da diretoria e do conselho do grupo, mas também recebemos textos de amigas. Depois, em 1973, passamos para a Nelly Maksoud Rahe, do Educandário”, completa Milvia Nasser.

Nada lights, as receitas de vovó foram transcritas da mesma forma que as autoras recebiam e produziam em casa. (Foto: Kísie Ainoã)
Nada lights, as receitas de vovó foram transcritas da mesma forma que as autoras recebiam e produziam em casa. (Foto: Kísie Ainoã)

Enquanto parte da renda dos bolos será revertida ao Educandário, a venda dos livros será 100% repassada à unidade. Cada volume custará R$ 40.

“Entrei em contato primeiro com a dona Milvia, porque ela também faz parte da diretoria do Educandário, ela gostou da ideia e marcamos com a presidente Nelly. Elas se reúnem toda quinta-feira no Educandário. Fui a reunião, apresentei a ideia à Nelly da venda dos bolos e dos livros e ela adorou a ideia”, conta Lizandra.

Nesta semana sairão receitas do bolo de Mel, assinado por Lídia Maksoud, que era mãe de Nelly Maksoud, o bolo Imperatriz Dona Eugênia, assinado por Ascina Siufi, o bolo primavera, assinado por Eliete Palhano e Fubá com milho, de Célia Teperman. Até fim de dezembro, 12 receitas de bolos serão reproduzidas.

Bandeirantes como ilustrações presentes no livro.
Bandeirantes como ilustrações presentes no livro.

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Confira galeria de fotos da Kísie Ainoã:

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