Restaurante deixa cliente à vontade na cozinha e dá litrão de suco de saquinho
O lugar existe há 20 anos em frente à antiga rodoviária de Campo Grande
O cardápio não muda há 20 anos e o cliente é recebido sempre do jeitinho familiar em um restaurante pequeno na Rua Joaquim Nabuco, no bairro Amambaí, em frente à antiga rodoviária de Campo Grande.
Desde que me entendo por gente, aquele lugar tem ar de boteco. Lembro quando criança de ver o espaço lotado, próximo a Rua Dom Aquino, mas em entrevista pelo bairro, descobrimos que o jeito fechado e tradicional do corumbaense Vitor Henrique Pedro, de 44 anos, é o que mantém o lugar aberto todos os dias, apesar do pouco movimento.
Até hoje o restaurante não tem nome na fachada. Parece ter parado no tempo, em 1970, quando os primeiros azulejos foram colocados e o prédio recebeu o primeiro comércio. Os mesmos que hoje Vitor tenta recuperar, depois que alguém resolveu passar tinta rosa por cima.
No balcão estão pratarias, louças e vidros por toda parte, além de outras bugigangas que Vitor parece ter acumulado ao longo dos anos. As mesas de madeira foram distribuídas no espaço pequeno, onde só couberam quatro jogos.
No primeiro instante, o lugar parece bem desorganizado, mas só de entrar na cozinha, dá pra ver a diferença no trabalho, com jeito asseado e sempre de traje social para receber os clientes.
Diferente de outros restaurantes, o self-service do estabelecimento é feito na cozinha. Dá para servir à vontade. Carne e o ovo são fritos na hora.
Não experimentamos os pratos, mas a comida chama atenção pelo aroma. O arroz parece soltinho e o feijão, segundo o proprietário, tem sabor especial por conta de um segredo. "Não é só feijão temperado com alho, mas não revelo o resto", afirma.
A ideia de levar os clientes até a cozinha surgiu por conta da segurança. "As pessoas precisam saber o que estão comendo. Faço questão que vejam tudo limpinho e como é feito". A vantagem é que ele acabou diminuindo custos. "Parou até com o desperdício, quando eu fazia prato feito, servia um monte e as pessoas não aguentavam. Agora todo mundo come o que consegue".
O almoço custa R$ 15,00 e, de cortesia, ainda tem uma garrafa de 2 litros de suco. Mas não é nada muito elaborado, o sabor é daqueles de saquinho mesmo e muda diariamente.
Pai de três filhos, Vitor é solteiro e mora no lugar há 30 anos. Antes de 1997, o local funcionava como boteco nas mãos dele e do irmão.
Mas acabou mudando para restaurante por conta das dificuldades. "O bar dava muito lucro, mas a gente não tinha felicidade. Quando se tem um bar, temos que lidar com todo tipo de gente", afirma.
Quando o irmão faleceu, Vitor enxergou que todo dinheiro que haviam ganhado não existia mais. "A gente lucrava, mas o dinheiro não durava. Quando meu irmão morreu, não tinha nem para o enterro dele, foi por isso que eu parei".
Com a mudança de comércio, o sucesso foi ainda maior, porque contava com os viajantes que passavam pelo terminal rodoviário. "Quando ele ainda funcionava eu tinha 6 funcionários aqui dentro. Era um entra e sai de gente o tempo todo", recorda.
Hoje, sem a rodoviária e com o abandono da região, Vitor é quem faz quase tudo e conta apenas com uma ajudante na limpeza.
O sonho é comprar o prédio que já está à venda pelo proprietário. "Pago aluguel, mas queria comprar e aumentar meu cardápio. Mas com esse movimento fica difícil".
Outra vantagem é que tem comida e ''sucão'' à vontade das 11h às 23h. É o jeito de não sobrar comida para o dia seguinte. "A comida é fresquinha, faço toda manhã. Então por isso tem almoço e janta", conta.
O restaurante fica aberto de segunda à sábado. Na rua Joaquim Nabuco, 252, Amambaí.
Curta o Lado B no Facebook.