Restaurante tem fila por almoço à vontade a R$ 12,00 e água de graça
Depois de ir à falência, Marli deu a volta por cima com restaurante onde o “prato de pedreiro” é a estrela
Na correria, você nem dá nada pelo lugar que tem uma fachada desbotada e fica em um dos pontos mais movimentados da Avenida Tamandaré. Mas, depois de muita insistência de um amigo que passa todos os dias na frente do lugar, resolvi conhecer o restaurante Colher de Pau, onde a principal propaganda é a comida à vontade a R$ 12,00.
O que também chama a atenção no local é a fila, que começa a se formar às 11 horas. Tem gente que arrisca chegar antes do restaurante abrir para garantir a comida “pelando”, recém-saída do fogo.
O buffet é servido com comida caseira, como arroz, feijão, macarronada e algum refogado. “De mistura”, não faltam o frango frito e nem outro tipo de carne que varia na semana.
Ontem, segunda-feira (7), foi o dia da carne com mandioca, conhecido por alguns como o guisado ou quibebe. Mas o frango também estava lá. Segundo a proprietária, pode faltar qualquer carne, menos o frango.
“Já é uma tradição”, afirma Marli Penasso, de 62 anos, dona do estabelecimento há três anos. “Até mesmo no dia da feijoada, aos sábados, eu sirvo o frango frito. Por isso, alguns clientes chamam aqui de Restaurante do Frango”, conta.
Experimentamos um pouquinho de cada receita. O arroz é soltinho, o frango sequinho, o guisado bem temperado e o feijão reforçado até com calabresa. De salada, tem legumes, verduras, repolho com tomate, pepino sem casca cortado fininho e molhos para acompanhamento.
O preço é R$ 12,00 e você pode servir o quanto quiser. O marmitex custa o mesmo valor, mas a dona faz uma ressalva. “Só fico chateada quando a pessoa paga R$ 12,00 e só serve mistura. Então, ela não comprou marmitex, ela comprou só mistura e isso não é justo”.
Por isso, ela conta com a honestidade do cliente. “Deixo todo mundo à vontade para que sirva o quanto quiser, mas tem que ser honesto”, diz.
Já o prato dos clientes é um mais generoso que o outro. Tem gente que capricha no arroz e macarrão, outro come bastante salada e acompanhamentos com pelo menos seis pedaços de frango. E tudo bem!
“Gosto de ver todo mundo satisfeito, só também peço para que não haja desperdício. Devem servir apenas do que forem comer”, pede Marli.
Tem ainda água de graça, servida em garrafas pet de 2 litros e geladíssima. “Vai acabando e eu vou repondo. Água não se pode negar a ninguém.”
O Lado B só se identificou após pagar a conta e mencionar que as receitas estavam saborosas. Ao saber do nosso interesse em contar sua história após a indicação de um morador próximo e amigo da reportagem, Marli contou uma jornada nada fácil. “Depois de tudo o que eu vivi, hoje só posso ter gratidão.”
Quem vê a mulher simpática, que conhece boa parte da sua freguesia pelo nome, nem imagina o perrengue que já viveu nos últimos anos.
Natural de Cascavel (PR), Marli se mudou para Campo Grande há 39 anos. Foi dona de uma distribuidora durante décadas, mas viu a empresa ir à falência e perdeu tudo o que tinha.
Lotada de dívidas, ela passou a pensar no que fazer para “sair da sarjeta” e foi quando encontrou o restaurante da Tamandaré à venda. “Quando vi o preço, achei que era mentira, estava muito baixo, pedi pra minha filha ligar e confirmar. Quando vi que era real, dei meu carro e um dinheiro emprestado de entrada, e comecei a trabalhar.”
No mesmo ponto, Marli já foi assaltada duas vezes e enfrentou uma baixa na pandemia, mas não desistiu. “Diz que Deus não dá o fardo maior do que a gente aguenta carregar, né? Então, eu tenho muita fé e continuo.”
Ao longo dos anos, amigos e moradores de outro bairro passaram a torcer até para ela abrir filial. “Morrem de vontade que eu leve o restaurante para outro lugar. Por isso, tem gente que vem de longe comer nosso frango e eu fico muito feliz com isso”, finaliza.
Quem quiser conhecer o restaurante, o endereço é Avenida Tamandaré, 2984 - São Francisco. O horário de funcionamento é das 11h às 14h, de segunda a sábado.
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