Sírio foge da guerra e abre barraca na Feira Central mesmo sem falar português
Por conta da guerra civil na Síria, que se arrasta por 3 anos, o comerciante Yasser Sasaa, deixou o país acompanhado da esposa e de mais dois filhos e escolheu Campo Grande como destino. Mesmo sem falar português, há um mês, ele abriu no corredor principal da Feira Central a barraca “Sham”, para viver da única coisa que restou, as receitas árabes.
Yasser tem amigos aqui, que como ele, há anos resolveram deixar a instabilidade política da Síria para começar do zero longe do conflito. Todos tinham parentes ou conhecidos na cidade, uma das capitais com maior colônia árabe do Brasil, por isso a opção.
Confiando na experiência dos que vieram antes, ele vendeu carro, casa e todos os bens para se mudar. Em Campo Grande, o dinheiro serviu para comprar uma casa na Vila Planalto e o ponto na Feira.
O restante da família, pais e irmãos, ficaram. Segundo Yasser, nenhum deles nunca sofreu violência por conta da guerra, mas as dificuldades econômicas enfrentadas pelo povo sírio é uma realidade assustadora. Sem perspectivas, achou que Mato Grosso do Sul seria a terra das oportunidades.
Sem saber falar português, o comerciante arisca algumas palavras, com “obrigado”. “É difícil o idioma, mas estou aprendendo assistindo televisão”, explica em inglês.
Na hora de vender, é impossível manter um diálogo com o cliente. Então, para facilitar, ele já oferece o cardápio a quem chega à barraca.
Também para não haver muita pergunta, os doces árabes foram adaptados para o português, como o “Harise” que no cardápio é o "Bolo de Coco". O Ras Al Abed é o "Bolo de Chocolate", cada fatia vendida por R$ 2,00.
Curiosa, a costureira Cristina Rolon, de 57 anos comprou o doce para experimentar. “É muito gostoso. E não tive dificuldade em comprar. Recomendo”, elogia ao ressaltar que na hora de comer, não há idioma que sirva de barreira.
O comerciante vende também os salgados árabes tradicionais, como kibe e esfiha, também por R$ 2,00. Os produtos ficam expostos em uma estufa, mas nem todos que estão no cardápio são feitos todos os dias. Yasser explica que ele e a esposa – que fica em casa enquanto ele trabalha – preparam juntos os produtos.
Ele explica que na Síria mantinha um comércio, também com alimentação, e que por isso foi fácil montar o negócio na Feira Central. “Me trouxeram aqui pra comer, me disseram que era turístico. Aqui é mais barato que abrir algo no centro, então escolhi a Feira”, justifica.
Ele parece feliz com a nova vida e garante que nunca mais vai regressar à terra natal. “Aqui eu vou viver e morrer”, finaliza.