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Lado Rural

Fogo e seca no Pantanal podem reduzir oferta de bezerros em 2025

Famasul põe 20 técnicos Pantanal adentro para levantar prejuízos para a pecuária da região

Por José Roberto dos Santos | 23/09/2024 14:25
Bovinos pastejam na planície pantaneira durante período das águas. (Foto: Arquivo/ABPO)
Bovinos pastejam na planície pantaneira durante período das águas. (Foto: Arquivo/ABPO)

Com uma produção anual de 800 mil bezerros estimada em 2023, o Pantanal sul-mato-grossense é considerado o berço da produção de animais de reposição do Brasil. "Uma produção que sofrerá um grande impacto e a pecuária será afetada de tal maneira que poderá nos próximos anos mudar o próprio ciclo da atividade", afirma o analista técnico do Sistema Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de MS), Diego Gomes Freire Guidolin.

Isso, devido ao fato de que o Pantanal, além de sofrer o impacto da seca todos os anos, em 2024 a situação piorou em função da destruição causada pelo fogo, colocando em xeque a atividade que, além de enfrentar a escassez de água e pastagens, vai sofrer impactos diretamente na produção. E um deles é exatamente na produtividade da vacada que, diante da falta de condições (escore corporal) e o alto custo da suplementação, muitos fazendeiros têm optado em reduzir matrizes, diante da proximidade da estação de monta que se inicia agora com a primavera.

Isso, sem falar dos bezerros que nascem entre julho e setembro, cujas mães encontram-se em condição corporal desfavorável para repetir o ciclo de reprodução.

O fogo no Pantanal, estima a própria Famasul, atingiu 1 milhão de hectares, entre pastagens, reserva legal, área de preservação permanente, terras indígenas. "Só de área produtiva o fogo consumiu 900 mil hectares", calcula Diego Guidolin. E esse número pode ser muito maior.

Analista técnico do Sistema Famasul, Diego Gomes Freire Guidolin. (Foto: Divulgação/João Carlos Castro)
Analista técnico do Sistema Famasul, Diego Gomes Freire Guidolin. (Foto: Divulgação/João Carlos Castro)

Primeiras impressões 

Nas primeiras propriedades visitadas pela força-tarefa da Famasul na semana passada – na região do Pantanal de Aquidauana – o que viu e constatou o engenheiro agrônomo e técnico do Senar-MS, Daniel Comiran Dallasta, resumiu a situação toda numa só palavra em conversa com a coluna Lado Rural: desolação.

O fogo, por onde passou, devastou cercas, porteiras, currais, pastos e vegetação nativa, maximizando os prejuízos que já estavam sendo debitados à longa estiagem que a região já sofria. Cada quilômetro de cerca a ser recuperada – entre mourões, porteiras, arames, firmes e mão de obra – está na faixa de R$ 12 mil.

Perdidos e fugindo do fogo, animais da fazenda visitada por Daniel Dallasta foram parar a 30 ou 40 quilômetros de suas fazendas de origem, gerando mais um custo para o pecuarista – o de  arrebanhar esse gado de volta. Há reses que talvez nunca sejam recuperadas.

Magro, gado perambula pelo Pantanal em busca de pasto e água. (Foto: Daniel Comiran Dallasta)
Magro, gado perambula pelo Pantanal em busca de pasto e água. (Foto: Daniel Comiran Dallasta)

Na tarefa de levantar as perdas para a pecuária em cerca de 520 fazendas, a Famasul através do Programa SuperAção Pantanal, tem à frente um trabalho complexo para chegar a uma estimativa aproximada do prejuízo, considerando que em cada propriedade houve perdas em proporções diferentes.

Desafio é manter o gado em pé

O desafio do pecuarista nesse momento é manter a vacada com uma boa condição corporal para atender o bezerro que está ao pé, preparando-se para a desmama e, ao mesmo tempo, ser submetida à estação de monta para emprenhar novamente e assim seguir o ciclo.

A estratégia recomendada pelo analista técnico, para que essa vaca ganhe músculos e gordura e preparar-se para próxima estação de monta, é que o produtor ministre suplemento para o gado, com o uso de silagem, feno e algum proteico, até que o pasto se recupere, o que deve demorar pelo menos 60 dias, chovendo regularmente. "O produtor pensando na estação de monta não pode ficar esperando a chuva, daí aconselhamos essas estratégias nutricionais", alerta.

"Essa gado tem exigências bem elevadas", afirma o analista técnico da Famasul, Diego Guidolin. Ele recomenda, para reduzir as perdas nesse momento, que o pecuarista afetado pela seca e as queimadas no Pantanal atrase o início da estação de monta até recuperar a vacada.

"Seguramente a oferta de bezerros para 2025 desse gado pantaneiro será menor", arrisca ele. Com uma oferta menor no mercado isso significa que o preço do bezerro poderá aumentar. "Até por conta do alto índice de abate de matrizes o nosso rebanho vem reduzindo ou estabilizando-se", avalia.

"O que temos até agora é uma opinião unânime entre analistas de que a produção de bezerros vai diminuir, mas o impacto disso ainda estamos levantando". Em Mato Grosso do Sul, o bezerro é cotado principalmente por quilo vivo. Assim, um dos efeitos da perda de produtividade é o risco desse bezerro chegar à venda pesando e valendo menos. Mas quem vai ditar esse preço é o mercado. Esse ano, já verificou-se um aumento sensível no preço da arroba do boi gordo e do bezerro.

Números da pecuária pantaneira

Segundo boletim da Famasul, em 2023 o Pantanal, considerando os municípios de Aquidauana, Coxim, Ladário, Corumbá, Miranda, Porto Murtinho e Rio Verde de Mato Grosso, tinha um rebanho de 3,69 milhões de cabeças de bovinos. Cerca de 60% desse rebanho está em Corumbá que, segundo pesquisa do IBGE, fechou o ano passado como segundo município do País em tamanho de rebanho, contabilizando 2,15 milhões de animais, 11,3% do efetivo de MS.

O Pantanal de MS fornece bezerro para todo o Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e São Paulo, fazendo de MS uma referência nacional de preços para o mercado de cria.

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