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Mapa Interativo

Tristeza, ansiedade, estresse, luto: leitores dizem como perceberam a depressão

De sintomas emocionais a físicos, leitores descrevem relação com a doença em 21 depoimentos

Paula Maciulevicius Brasil | 18/02/2021 13:19
(Ilustração: Bruno Kulczynski/Instagram @Portret)
(Ilustração: Bruno Kulczynski/Instagram @Portret)

"Apesar de tudo, achava que estava bem, e é assim que a depressão age: sorrateiramente"

Aos 19 anos, Daniel Caetano relata o que é viver e ter diagnosticada a depressão. A resposta dele é um dos 21 relatos de leitores que descreveram no mapa interativo do Campo Grande News como perceberam a depressão em si ou em alguém bem próximo. Saúde mental ainda é vista como tabu e, por isso, alguns depoimentos foram enviados anonimamente. Como o intuito é trazer o tema à tona, se atente aos dizeres, é provável que você se identifique com alguns depoimentos e se isso acontecer, busque ajuda profissional.

Daniel diz que durante o ano passado teve vários episódios de tristeza, solidão, fraqueza, desânimo e falta de querer viver. Mas achava que estava tudo bem e seguiu, até que em agosto, os sentimentos se intensificaram. "A carga excessiva de trabalho, episódios de perseguição e falta dos amigos e familiares foram fatores preponderantes para a minha queda. Eu, apesar de tudo, achava que estava bem. E é assim que a depressão age: sorrateiramente...", detalha.

A vida passou a se resumir entre comer e dormir. Fora isso? Só trabalho. "Alguns dias eu dormia muito, e em outros muito pouco. Mas desânimo, falta de viver, tristeza e fadiga persistiram e me derrubaram. E eu não aguentei e quis botar fim na minha dor", conta.

Em um curto espaço de tempo, ele foi ao psiquiatra e se preparou para uma internação. Foram 26 dias se adaptando até receber alta em dezembro. "Passei para o tratamento ambulatorial e às medicações. Hoje já sinto os efeitos dos remédios e a melhora que trouxeram. Me sinto mais tranquilo, calmo, animado, alegre e tentando recomeçar. Vivendo um dia de cada vez..."

(Ilustração: Bruno Kulczynski/Instagram @Portret)
(Ilustração: Bruno Kulczynski/Instagram @Portret)

"Mesmo rodeada de pessoas, era como se eu estivesse sozinha"

Casada durante 12 anos, a leitora que enviou um relato anônimo resume uma década de agressões: físicas, sentimentais e psicológicas que lhe trouxeram crises de choros e um desespero que ela não sabia de onde vinha. Junto, passou a ganhar peso e se sentir insuficiente em todas as esferas da vida: mulher, mãe, amiga, família.

Sem ânimo para nada, ela até tentava começar o dia melhor e brincava com os filhos para se distrair.

"Mas quando eu estava rodeada de pessoas, era como se eu estivesse sozinha, como se não fizesse parte daquele ciclo, como se não me encaixasse em nada, não me sentia suficiente pra estar ali com aquelas pessoas. Às vezes me tinham como anti-social como ouvi diversas vezes, mas nunca chegaram até mim e perguntaram como me sentia, simplesmente era julgada. Ou estava com frescura, falta de Deus, mas só eu sabia como estava me sentindo por dentro. Meu único desejo era o de sumir".

Separada há quatro anos, a leitora diz que está melhor, conseguiu sair do ciclo de relacionamento abusivo e agora vive a luta consigo mesma. "Hoje minha maior luta é comigo mesma. Tentar olhar pra mim como mulher, tentar enxergar meu valor, me sentir suficiente, poder acordar e agradecer a Deus por mais um dia".

"Eu havia planejado meu suicídio, pularia da torre ao lado do Estádio Morenão"

Foi assim que o arte-finalista Vinícius Netto, hoje com 33 anos, disse ter tido o diagnóstico de depressão e ansiedade, depois de ligar para o pai em 2015 e dizer aos prantos que estava pronto para virar estatística. O rapaz tinha planejado o suicídio, pularia da torre do Morenão, local onde sempre passava por ser estudante de Letras da UFMS.

Nos últimos seis anos, Vinícius conta que com a ajuda de remédios e de pessoas, passou a levar uma vida bem mais calma e sem muitos pensamentos destrutivos. "Mas confesso que às vezes é bem difícil, porém as crises de choro e angústia rarearam bastante. É uma luta árdua que eu faço questão de participar usando a meu favor as músicas que gosto de ouvir, jogar um jogo, assistir um anime. Hoje, depois de tudo que passei, tenho sonhos e passei a ver a vida com olhos diferentes, dar valor a pequenas coisas. Meu objetivo agora é lançar meus romances e um deles em forma de mangá".

"Como se você estivesse aprisionado em um corpo que não era o seu"

Se identificando como Carmen Guedes, a leitora descreve a doença em tempos: durante 20 meses esteve com depressão e no início, como muita gente, não se dava conta da gravidade. "Tinha a certeza que seria algo como tristeza prolongada. Tinha perdido meu pai e meu avô em quatro dias de diferença", tentava justificar.

A tristeza foi dividindo lugar com angústia e também sufoco. "Como se você estivesse aprisionado em um corpo que não era o seu. Enfim, passei por consultas no Caps e minha família foi muito importante nesse período. Tiveram paciência e essa doença requer isso. A depressão é hoje, pra mim, a pior doença do mundo. Silenciosa e fatal pra muitos".

"Por não querer aceitar a situação, apenas ignorei os sintomas"

Sem se identificar, o leitor relata que percebeu a depressão há um tempo, depois de sintomas físicos e emocionais aparecerem de forma recorrente. Tudo começou após a morte do namorado, há quatro meses, em um acidente. "Não soube lidar com o luto de uma maneira 'saudável', e então os sintomas começaram a ser mais do que apenas uma tristeza, crises de ansiedade viraram rotina... Eu por não querer aceitar a situação, apenas ignorei os sintomas", descreve.

No entanto, quando do emocional os sinais passaram ao físico, a preocupação veio de fato. "Muitas dores no braço esquerdo, insônia ou excesso de sono, muito cansaço mesmo sem ter feito esforço e um estresse incontrolável. Atualmente busco me curar de diversas formas, pois minha vida precisa continuar!"

(Ilustração: Bruno Kulczynski/Instagram @Portret)
(Ilustração: Bruno Kulczynski/Instagram @Portret)

"É algo avassalador, que desmonta qualquer gigante"

Não foi consigo mesma, mas uma pessoa bem próxima. Tereza, como se identifica a leitora deste relato, bateu de frente com a depressão ao ver o cara mais forte que ela conhecia, um militar do exército, chorar pedindo ajuda. O pai que nunca demonstrou sequer sensibilidade e para sorrir, colocava a mão no rosto para ninguém ver, um dia parou de comer e deixou de ir à missa. Algo inimaginável para quem o conhecia. "Pela primeira vez vi meu pai chorando e pedindo ajuda. É algo avassalador, que desmonta qualquer gigante".

"Achava que precisava ser forte e tentava sair dessas situações sozinha"

Aos 60 anos, Sandra volta no tempo para dizer que acredita ter nascido depressiva. Os sintomas de angústia, desespero, cansaço sempre lhe acompanharam e a ideia fixa de que ela sairia dessa sem ajuda também. "Eu achava que precisava ser forte e tentava sair dessas situações sozinha".

Dois anos atrás, quando chegou a notícia de que uma das filhas se mudaria de Campo Grande, Sandra desabou. Chegou ao ponto de se perder no trânsito, tinha ataques de pânico e chorava muito. Convencida pela família, procurou um psiquiatra e depois de muita conversa e exames, chegou a conclusão de que era depressiva.

"Foi difícil encarar o diagnóstico de paciente psiquiátrica, porém hoje não tenho vergonha de compartilhar que uso e deverei usar pelo resto da minha vida remédios psiquiátricos, porque o meu cérebro é doente. Hoje me sinto disposta pra tomar banho e trabalhar no que gosto. Gostaria de deixar uma mensagem para as pessoas que sofrem por preconceitos e tem medo de se expor: você só se livrará desse “Demônio do meio-dia “ (um livro excelente sobre a doença), se encarar de frente e procurar ajuda".

Peça ajuda - Você não está sozinho e pode pedir ajuda para o CVV (Centro de Valorização da Vida) que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias. O telefone é o 188.

Em Campo Grande, tem um serviço específico de atendimento, o GAV (Grupo de Apoio à Vida) que presta serviço gratuito de apoio emocional pelos telefones: 3383-4112, (67) 99266-6560 (Claro) e (67) 99973-8682, todos sem identificador de chamadas. O horário de funcionamento das 07:00 às 23:00, inclusive sábados, domingos e feriados.

Você também pode ir até uma unidade básica de saúde, passar por consulta e pedir encaminhamento para ser atendido em um CAPS (Centro de Atendimento Psicosocial).

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