De briga judicial a amor: árvores espalham verde, fruto e lembrança pela cidade
Em meio a alerta de perigo por onda de calor, figueira oferecia sombra e conforto térmico
Por motivo de saúde, árvore de 25 metros precisou partir da Praça do Rádio, no Centro de Campo Grande, mas, três anos depois, ainda é lembrada com saudades. Dela, vinha a sombra que ajudava a enfrentar o inclemente calor desses dias de fim de inverno.
“Ela era linda, maravilhosa. Faz muita falta”, diz Rose Oliveira Matos, 59 anos. Na manhã de quarta-feira (dia 20), o sol forte brilhava na praça, onde Rose vende produtos da agricultura familiar.
Para o agricultor Edson Alves de Matos, 63 anos, a árvore é lembrança do amor da adolescência. Há 46 anos, quando tinha 17 anos, namorava na praça, debaixo daquela árvore. Diante do tronco que restou da gigante de 25 metros, ele conta da tristeza, que reforça ser coletiva. “Fiquei triste. Ela faz parte da história, não só para mim”.
A falsa-seringueira, mas chamada pelo público em geral de figueira, foi removida em setembro de 2020 devido a péssimo estado fitossanitário. Ela sofria com infestação de cupins e fungos, com risco de queda.
Na Rua Brilhante, a figueira centenária que foi motivo de briga na Justiça há 12 anos não só ficou, como obrigou que imóvel vizinho de adaptasse à sua existência. Ainda a metros de distância, surge linda e imponente na paisagem. Por cima, os galhos atravessam toda rua, enquanto que o tronco invade um pouco da pista de rolamento.
Em 2 de fevereiro de 2011, a prefeitura autorizou a remoção da árvore. Mas a noticia desencadeou protestos e a Abcon/MS (Associação Brasileira de Cidadania e do Consumidor do Estado de Mato Grosso do Sul) entrou com ação na Justiça para que a figueira não saísse do local, na Vila Nova Bandeirante.
Já comerciantes do entorno apontavam 13 motivos para remoção da figueira. A lista incluía ser obstáculo para os pedestres, problemas para a rede de esgoto, bueiros entupidos pelas raízes e ocultar dependentes químicos.
Dono do terreno à época, João Cândido Barbosa Xavier conta que obteve autorização da prefeitura para refazer a retirada da árvore, portanto, não estava fazendo o corte de forma clandestina. Tanto, que havia equipe para organizar o trânsito e também da concessionária de energia elétrica para acompanhar o trabalho.
“Eu tinha que pedir autorização da prefeitura e, a partir do momento que tenho essa autorização, eu posso fazer a retirada. Tinha um projeto bacana para construção de dois condomínios, mas a árvore atrapalhava. Pelo bem da natureza, tinha oferecido plantar cem mudas de outras espécies em outro local. Quando veio a autorização, a prefeitura mandou plantar só quatro árvores na frente do terreno”, diz João.
De acordo com ele, tempos depois, a Justiça permitiu a remoção. Como a autorização estava em seu nome, João procurou o atual proprietário, que optou por deixar a árvore na Brilhante. No processo, o então comerciante chegou a anexar a foto de uma figueira em Sidrolândia, que tinha a largura de um carro. “Ela não vai parar de crescer lateralmente”, diz. Hoje, João mora em outro bairro.
De todo o episódio, conta que enfrentou muita dor de cabeça, principalmente quando uma autoridade da prefeitura sugeriu que a autorização pudesse ter sido obtida mediante acesso indevido ao sistema. “A prefeitura me mandou uma carta registrada e o secretário falando de arquivos internos”.
Do outro lado da cidade, na Rua Franjinha, no Bairro Monte Castelo, tem figueira no meio da rua e também dando nome a dois condomínios residenciais. A copa da árvore gigante já atravessa a via e entra em imóvel vizinho. Mas, sem reclamações.
“É uma boa árvore, a gente varre as folhas de dois em dois dias. Do outro lado, a responsabilidade é dos outros vizinhos. Essa árvore é muito boa”, diz Edvaldo dos Santos, que conhece a figueira há quatro décadas.
Na manhã de quarta-feira, onde a cidade registrava alerta de grande perigo por onda de calor, a árvore trazia um pouco de alívio, seguindo a vocação de espalhar verde e conforto térmico.
Neste ano, Campo Grande recebeu pela quarta vez consecutiva o título de “Cidade Árvore do Mundo”, um reconhecimento internacional.
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