Enquanto Curitiba troca recicláveis por frutas, Capital “foge” de dar incentivo
Cidade até debateu desconto no IPTU, mas nada sai do papel para incentivar a reciclagem
Enquanto Campo Grande patina com a baixa adesão à coleta seletiva, há cidades que vão à luta para melhorar os índices. Como em Curitiba, capital do Paraná, onde recicláveis são trocados por frutas e hortaliças pelos moradores.
RESUMO
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Enquanto algumas cidades, como Curitiba, implementam programas de incentivo à coleta seletiva, trocando recicláveis por alimentos, Campo Grande enfrenta baixa adesão, com apenas 2% dos resíduos coletados sendo reciclados. Apesar da existência de uma usina de triagem e cooperativas que comercializam os materiais, a prefeitura de Campo Grande tem se limitado a ações educativas, sem implementar incentivos financeiros como a redução do IPTU, apesar de propostas anteriores e discussões na Câmara Municipal. A baixa adesão impacta o meio ambiente, a geração de renda para as cooperativas e a vida útil do aterro sanitário.
No programa “Câmbio Verde”, quatro quilos de materiais recicláveis (papel, papelão, vidro, sucata) valem um quilo de produtos hortifrútis. A iniciativa permite o escoamento da safra de produtos dos pequenos produtores e cria o hábito de separar o lixo reciclável.
Em Campo Grande, os números retratam a baixa adesão, enquanto algum incentivo, como redução no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), até é discutido, mas não evolui por ser prerrogativa do Poder Executivo.
De acordo com o Consórcio CG Solurb, que há 12 anos venceu licitação bilionária para fazer a gestão dos resíduos sólidos na Capital, a adesão à coleta seletiva é em torno de 35%.
Por mês, são 600 toneladas de material reciclável. Segundo a Solurb, do total de resíduos coletados, apenas 2% são recolhidos por meio da coleta seletiva. O material é levado para a UTR (Usina de Triagem de Resíduos).
Da usina para dentro, a triagem envolve 115 pessoas, participantes de três cooperativas e uma associação. Os recicláveis são comercializados pelos grupos, sem repasse de valor a Solurb.
Apelo - Segundo a presidente da Atmaras/MS (Associação dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis dos Aterros Sanitários de Mato Grosso do Sul), Gilda Macedo, a UTR tem capacidade para aumentar a triagem, basta chegar mais materiais recicláveis.
Ela explica que há mais mercado para a venda de papel, vidro, plástico. “Nosso carro-chefe é o papelão. Mas também comercializamos latinha, metal, cobre, sucatas”, afirma Gilda. Por mês, a renda varia de R$ 1.500 a R$ 2 mil com a venda dos materiais.
Representante da Cooperativa Novo Horizonte, Maria Stela Cardoso aponta que valores não são divulgados por questão de segurança. “Pois já fomos assaltados em 2021. Mas não temos um ganho fixo. Depende dos materiais e os preços têm alta e baixa. Tiramos renda de um salário. E vendemos onde tem melhor preço”. O salário-mínimo é de R$ 1.412.
Conforme Maria Stela, a cooperativa também busca os materiais doados quando compensa financeiramente. “Precisamos de conscientização da sociedade. A reciclagem ajuda a cada família que aqui trabalha e depende desse material”.
Coleção de campanhas – A reportagem questionou a Prefeitura de Campo Grande sobre projetos para incentivar a reciclagem, possibilidade de bonificação e se a concessionária pode ser penalizada pelos baixos números da coleta seletiva.
A resposta do poder público foi de que desenvolve desde 2019 o “Plano de Ação de Educação Ambiental para o Aumento do Índice de Adesão à Coleta Seletiva dos Resíduos Sólidos Recicláveis de Campo Grande/MS”. A iniciativa tem ações educativas para “sensibilizar e envolver” a população.
O plano reúne Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano), Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos), Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana), Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Pública) e CG Solurb.
O projeto tem atividades lúdicas, divulgação de cartilhas de educação ambiental, folhetos e podcast (cuja última edição é de maio).
O último plano publicado é ainda mais defasado: outubro de 2021. A proposta incluía palestras, gincanas e oficinas nas escolas da rede pública, além de campanhas educativas. Em 21 páginas, a palavra “sensibilização” da população aparece 18 vezes. Enquanto não há nenhuma menção a incentivos.
Nada apresentado - Presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de Campo Grande, o vereador José Jacinto Luna Neto (PSDB), o Zé da Farmácia, afirma que foram realizadas audiências públicas para discutir a baixa adesão à coleta seletiva. Segundo ele, a população prefere descartar os recicláveis junto ao lixo comum, onde é recolhido por catadores.
“Nessas audiências, foi proposto, através de projetos de lei, benefícios como desconto no IPTU. Mas não foi tramitado na Câmara por ser de competência do Poder Executivo. Cobramos em outras audiências, porém até o momento não foi apresentado à Câmara”, diz o vereador.
A situação impacta no meio ambiente, geração de renda com os recicláveis e compromete a vida útil do aterro sanitário, que poderia receber menos materiais.
A mesma possibilidade de reduzir IPTU para quem se dedica ao rito da coleta seletiva – separar o material, lavar as embalagens e acondicionar em sacos plásticos pagos com seu próprio dinheiro – também foi discutida em 2016. Mas nada para bonificar o cidadão sai do papel.
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