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Meio Ambiente

Falta de chuva ameaça sobrevivência de cervos-do-pantanal no Estado

Anny Malagolini | 17/09/2016 07:49
Os maiores exemplares da espécie chegam a pesar até 140 quilos. Sua pelagem é marrom-avermelhada e os machos possuem galhada com três ou mais pontas de cada lado (Foto: Divulgação)
Os maiores exemplares da espécie chegam a pesar até 140 quilos. Sua pelagem é marrom-avermelhada e os machos possuem galhada com três ou mais pontas de cada lado (Foto: Divulgação)

A mudança climática no Pantanal de Mato Grosso do Sul, e a redução de 30% de chuva na bacia do Rio Paraguai pode exterminar 75% da população de cervos-do-pantanal até o ano de 2100, conforme estimativa levantamento da Embrapa Pantanal em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

No Pantanal, vive a maior população conhecida da espécie, a qual já está extinta no Uruguai e encontra-se em situação crítica no Paraguai e na Argentina, bem como em diversos estados brasileiros, como Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul. Mas assim como já ocorreu em outros locais, a extinção da espécie em Mato Grosso do Sul não é remota. A Embrapa infomou que existe 60% de chance de redução da espécie ainda neste século.

As projeções foram feitas com base no cenário mais crítico de mudanças climáticas para o Pantanal proposto pelos pesquisadores da Embrapa. Os dados que deram origem ao modelo estatístico foram coletados em 1991, 1992, 1993, 1998, 2000, 2001, 2002 e 2004 por meio de levantamentos aéreos cobrindo todo o Pantanal, buscando conhecer o tamanho e a tendência das populações de grandes vertebrados que usam áreas abertas. Houve contagem de cervos, veados campeiros, capivaras, jacarés e ninhos ativos de tuiuiús (ave-símbolo do Pantanal).

No estudo foi seguido o mesmo caminho. "Queríamos entender como duas espécies responderiam às variações do ciclo de inundação: o cervo-do-pantanal e o veado-campeiro. Um respondeu claramente à intensidade das cheias, outro não", comentou o pesquisador Walfrido Tomás.

Pereira afirma que essas duas espécies de cervídeos são interessantes objetos de estudo não apenas por estarem listadas como ameaçadas de extinção, mas também por terem área de vida e habitat distintos, o que permite dar mais subsídios para os esforços de conservação no Pantanal. Enquanto o veado-campeiro utiliza áreas abertas e tem certa plasticidade em sua dieta, o cervo-do-pantanal é dependente de áreas úmidas e se alimenta principalmente de plantas aquáticas.

Para o cervo, o modelo que melhor explica o tamanho da população diante das inundações é baseado no comportamento das enchentes nos últimos três anos em relação às estimativas populacionais. "Para que as populações sejam afetadas é preciso um período relativamente longo de submissão às condições ambientais desfavoráveis, já que não é esperada diminuição imediata das populações após cheias muito intensas ou secas extremas. Não há catástrofe e demora um tempo para que esses eventos realmente afetem as populações de forma detectável pelos pesquisadores", explica Tomás.

Entre 1991 e 1993, períodos de cheias maiores, a estimativa de população era de 40 mil a 45 mil indivíduos. De acordo com as estimativas do modelo desenvolvido, entre 1903 e 2004 a população variou de 4.500 a 31 mil. A média do século foi uma população de cerca de 20 mil cervos no Pantanal. A população atual será estimada por um novo levantamento a ser conduzido pela equipe no ano que vem, com apoio de um projeto financiado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect).

Redução de riscos - Para mitigar essa situação, segundo o estudo, seria necessário interromper ações de degradação e recuperar áreas degradadas, em especial aquelas diretamente relacionadas com a quantidade e a qualidade da água. "É preciso tentar amortecer a redução de água nas inundações devido às mudanças climáticas globais, por meio da conservação de mananciais e nascentes, não drenando ambientes úmidos, conservando as florestas e evitando erosões. O pior cenário é a sinergia entre impactos das intervenções humanas no ecossistema e os efeitos das mudanças climáticas", recomenda o pesquisador da Embrapa Pantanal.

É preciso considerar também os impactos que podem surgir da intervenção nos rios para favorecer a navegação (alterações no canal, remoção de rochas e retificação de curvas), bem como a retenção de água em reservatórios de hidrelétricas na bacia do rio Paraguai. "Isso pode afetar todo o comportamento hidrológico na planície de inundação e, somando-se seus efeitos com aquelas advindos de mudanças climáticas, temos o desastre perfeito para a economia e para a biodiversidade. Uma tragédia anunciada", alerta Tomás.

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