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Meio Ambiente

Fim do ano tem mais lixo e reciclagem esbarra na separação inadequada

Geração de materiais orgânicos e recicláveis aumenta mais de 20% em dezembro

Tatiana Marin | 23/12/2018 08:40
Papelão separado e acondicionado na UTR (unidade de tratamento de resíduos) de Campo Grande. (Foto: Kísie Ainoã)
Papelão separado e acondicionado na UTR (unidade de tratamento de resíduos) de Campo Grande. (Foto: Kísie Ainoã)

Para a maioria da população, o final de ano é marcado pelas festas, férias e 13º salário. As fotos e selfies que focam em presentes, ceias e confraternizações não mostram algo que todos tentam esconder e descartar: o lixo nosso de cada dia. Mas a mão que vai ao bolso para as compras é a mesma que se livra de materiais e produtos rejeitados, o que leva ao aumento da geração de lixo nesta época do ano e, o pior, sem a devida separação de orgânicos e recicláveis.

O crescimento do lixo convencional é observado a partir de outubro, explica o gerente de operações da Solurb Bruno Velloso. O fenômeno tem seu pico em dezembro e passa a entrar na normalidade depois de fevereiro. Ele confirma que o consumo está intimamente ligado à geração de resíduos, e os números observados nas viradas de ano comprovam isso. No lixo convencional, vem o desperdício, no reciclável, as embalagens.

Montanhas deixadas pelos caminh'oes na unidade de tratamento de resíduos em Campo Grande. (Foto: Kísie Ainoã)
Montanhas deixadas pelos caminh'oes na unidade de tratamento de resíduos em Campo Grande. (Foto: Kísie Ainoã)

No que diz respeito ao material não reciclável, dados da Solurb mostram que, em relação ao lixo convencional, em 2017, dezembro registrou aumento de 21% em relação a média mensal, que foi de 23 mil toneladas. No último mês do ano, os caminhões recolheram 28 mil toneladas. Se comparado com julho, mês com menor coleta, de 20 mil toneladas, o aumento é de 40%.

A variação é maior quando se trata dos recicláveis. A média mensal de 2017 da coleta seletiva foi de 485 toneladas. Em dezembro daquele ano o lixo totalizou 603 toneladas, uma variação de 25%. A média de 2018 até novembro é de 524 toneladas, o que não significa necessariamente maior geração de lixo, mas sim o aumento na adesão da população ao serviço de coleta, tanto no atendimento porta a porta, como nos “Leves”. Em 2016 a média era de 384 toneladas ao mês.

Qual é o problema?

A geração de resíduos sólidos é uma grande preocupação das cidades. Muitos dos materiais são descartados sem o tratamento ou descarte adequado e, conforme os números apresentados pela Solurb, apenas uma pequena fração do lixo é reaproveitada pela reciclagem.

Rejeito e materiais contaminados são acondicionados em caçambas e lavados ao aterro sanitário. (Foto: Kísie Ainoã)
Rejeito e materiais contaminados são acondicionados em caçambas e lavados ao aterro sanitário. (Foto: Kísie Ainoã)

Segundo o ambientalista e engenheiro sanitário Alexandre Luiz Braga de Souza, a destinação de materiais inadequadamente diminui a vida útil dos aterros sanitários, locais preparados para receberem os resíduos sólidos resultantes da atividade humana para a decomposição final. Ainda, Bruno alerta que, por diversos motivos, cerca de 30% do lixo reciclável é rejeitado e vai parar no aterro sanitário.

O gerente operacional da Solurb acredita que a forma mais eficaz de a população participar no conceito dos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) é na reciclagem. Para ele, a redução estaria na mão da indústria, com a diminuição das embalagens.

“É um trabalho árduo. Para a população participar da reciclagem
já é difícil. Para reduzir, precisa estar no topo da cadeia. A resposta
para reduzir está no fabricante. O consumidor não tem muito o que fazer,
não vai deixar de comprar por conta da embalagem. No consumidor tem
que focar em reciclar. Pode-se pensar em reutilizar. Uma maneira de
redução, seria diminuir o desperdício. Mas o foco é reciclar”, opina Bruno.

Fardos de plástico e papel na UTR de Campo Grande. (Foto: Kísie Ainoã)
Fardos de plástico e papel na UTR de Campo Grande. (Foto: Kísie Ainoã)

O ambientalista concorda e acredita ser difícil evitar o consumo e a consequente geração de resíduos sólidos. Para ele, a população deve “saber como acondicionar, separar e destinar adequadamente o lixo, separar o reciclável do orgânico”.

Reciclagem em Campo Grande

Cerca de 62% dos domicílios de Campo Grande são cobertos pelo serviço de coleta seletiva porta a porta, ainda assim, a Solurb observa a adesão de apenas 16% à reciclagem. Há também quase 200 pontos com os “Leves”, onde a população pode levar os recicláveis separados. “Fazemos um esforço muito grande para a população participar da coleta seletiva, tem pouca adesão”, alerta Bruno. Entretanto, entre os que participam, há muito material sujo e lixo misturado aos materiais que poderiam ser reciclados.

Trabalhadores realizando a separação em uma das quatro esteiras da UTR. (Foto: Kísie Ainoã)
Trabalhadores realizando a separação em uma das quatro esteiras da UTR. (Foto: Kísie Ainoã)

Alexandre alerta para o problema em misturar lixo orgânico ao reciclável. “Se gerar muito reciclável, como embalagens, caixas e papel, deve encaminhar o material para ecoponto ou cooperativa e não misturar. Uma vez misturado, vai para o aterro”, avisa.

Gilda Macedo, presidente da Atmaras-MS (Associação dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis de MS). (Foto: Kísie Ainoã)
Gilda Macedo, presidente da Atmaras-MS (Associação dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis de MS). (Foto: Kísie Ainoã)

Mesmo com as cooperativas trabalhando com horário estendido, o lixo já se acumula na UTR (unidade de tratamento de resíduos) de Campo Grande, confirmando os números divulgados pela Solurb. Mas o que seria uma geração de renda para os catadores e uma saída ambiental para os resíduos sólidos, emperra no descarte e separação inadequados.

No lixo que começa a se acumular em novembro, Gilda Macedo, presidente da Atmaras-MS (Associação dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis de Mato Grosso do Sul), afirma que até animais mortos são enviados junto com os materiais que seriam recicláveis. O aumento da oferta dos resíduos que, após a separação são vendidos, mal pode ser comemorado.

Valquiria Correia da Conceição, vice-presidente de uma das cooperativas que trabalha na UTR. (Foto: Kísie Ainoã)
Valquiria Correia da Conceição, vice-presidente de uma das cooperativas que trabalha na UTR. (Foto: Kísie Ainoã)

“Tem muito rejeito, papel higiênico, fralda descartável, resto de alimentos, seringa, vem de tudo”, declara Valquíria Correia da Conceição, vice-presidente de uma das cooperativas que atuam na URT. “Vem fezes, animais mortos, comida, infelizmente”, adiciona Gilda. “Deve demorar muito ainda para que as pessoas separem corretamente”, lamenta. “O rejeito misturado prejudica, porque na pré-triagem que alimenta a esteira, acaba contaminando e perde material, papel misturado com alimento, vira rejeito”.

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