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Meio Ambiente

“Lagoas de soda” no Pantanal podem virar grandes emissoras de efeito estufa

Pesquisa alerta para a urgência de aprofundar estudos sobre cerca de mil lagoas impactadas por queimadas

Por Caroline Maldonado | 11/09/2024 15:55
Lagoa salino-alcalina no Pantanal (Foto: Thierry Alexandre Pellegrinetti/Cena-USP)
Lagoa salino-alcalina no Pantanal (Foto: Thierry Alexandre Pellegrinetti/Cena-USP)

Além da devastação das queimadas, o Pantanal pode enfrentar novos problemas futuramente. Uma pesquisa realizada pela USP (Universidade de São Paulo) e pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) mostra que há cerca de mil lagoas salino-alcalinas, também chamadas de “lagoas de soda”, que podem se tornar grandes emissoras de gases de efeito estufa no futuro.

De acordo com publicação da Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), a pesquisa alerta para a urgência de aprofundar os estudos sobre o tema.

“No estudo, os pesquisadores apontam a necessidade de incluir a composição e a função das comunidades microbianas nos modelos de emissão de gases de efeito estufa visando obter uma análise mais completa desses ecossistemas e de como eles podem reagir a mudanças ambientais provocadas, por exemplo, por eventos climáticos extremos e queimadas”, explica a jornalista Luciana Constantino, com base no artigo The role of microbial communities in biogeochemical cycles and greenhouse gas emissions within tropical soda lakes", publicado na revista Science of the Total Environment, em outubro deste ano.

O Pantanal teve 22.116 focos de calor em 2020, o ano com mais queimadas até agora. Entre janeiro e agosto de 2024, foram 9.167, o que representa mais do que o ocorrido nos últimos três anos.

As lagoas salino-alcalinas estão principalmente na Nhecolândia, distrito de Corumbá, a 427 quilômetros da Capital, o foco da pesquisa. Além de inúmeras espécies selvagens, o bioma tem mais de dois mil tipos de plantas e 580 de aves, que se beneficiam da abundante biomassa de plâncton dos lagos. O plâncton é formado por organismos com pouca ou nenhuma capacidade de locomoção e, por isso, são transportados pela corrente de água.

O estudo destaca três tipos de lagoas salino-alcalinas no Pantanal que variam de acordo com a composição química da água e as comunidades microbianas. São as lagoas turvas eutróficas (ET), turvas oligotróficas (OT) e oligotróficas claras com vegetação (CVO).

“Concluiu que houve maiores emissões de metano nas lagoas turvas eutróficas – associadas ao crescimento de cianobactérias e à decomposição de matéria orgânica. Quando essas cianobactérias morrem e se decompõem, junto com o carbono orgânico produzido pela fotossíntese, isso acelera a quebra de matéria orgânica na água pelas bactérias e arqueias. Esse processo libera subprodutos que, ao serem metabolizados nos sedimentos, geram metano, especialmente durante períodos de seca. As lagoas oligotróficas claras com vegetação também emitiram metano, porém, em níveis mais baixos. Por outro lado, as oligotróficas turvas não emitiram esse gás, fato possivelmente associado aos altos níveis de sulfato na água, mas liberaram dióxido de carbono (CO2) e óxido nitroso (N2O)”, detalha Luciana.

O aumento na prevalência de lagoas com florações de cianobactérias sugere que “essas áreas podem se tornar emissoras significativas de gases de efeito estufa no futuro”. Além do Pantanal, as “lagoas de soda” são encontradas no Canadá, na Rússia (onde o nível de salinidade é alto) e na África.

Uma das autoras do artigo e bolsista da Fapesp, a microbiologista Simone Raposo Cotta explica que ainda não foi possível estimar a contribuição das emissões dessas lagoas no total do bioma Pantanal e o grupo trabalha em uma série de desdobramentos, entre elas modelagens para responder a essa questão.

“Estamos finalizando trabalhos em outras áreas de funcionamento geoquímico, de formação dessas lagoas porque elas já estão mudando. Em algumas já há concentração maior de cianobactérias, que leva à alteração da água. Uma pergunta que estamos tentando resolver é o motivo disso e formas de mitigá-las”, diz a pesquisadora.

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