Rodovias no Cerrado de MS espantam mamíferos de seus habitats
Cerca de metade do Cerrado já foi destruída pelo desmatamento e pela expansão agrícola, diz estudo da USP
Cerca de metade do bioma Cerrado já foi destruída pelo desmatamento e pela expansão agrícola, e o que resta de vegetação nativa está fragmentado por pastos, monoculturas e rodovias. É o que aponta um estudo recente, conduzido por pesquisadores da USP e publicado na revista Animal Conservation, que analisou os efeitos dessas mudanças na paisagem, especialmente a proximidade das rodovias, sobre a fauna do Cerrado no sudeste de Mato Grosso do Sul.
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Um estudo da USP revela que a fragmentação do Cerrado, causada pelo desmatamento e pela expansão agrícola, afeta a abundância de sua fauna. A pesquisa, focada em 12 espécies de mamíferos no Mato Grosso do Sul, demonstrou que a redução da qualidade e conectividade do habitat impacta negativamente a maioria das espécies, exceto a anta e o tamanduá-mirim. A proximidade de rodovias influenciou apenas três espécies, com o cachorro-do-mato apresentando maior abundância próximo a elas, contrariando as expectativas. O estudo destaca a necessidade de mitigar os impactos das rodovias com medidas como cercas e passagens de fauna, além da restauração da vegetação nativa para melhorar a conectividade do habitat e conservar a biodiversidade do Cerrado.
O estudo focou em 12 espécies de mamíferos e investigou como a qualidade e a conectividade do hábitat, bem como a proximidade das rodovias MS-040 e BR-267, influenciam a abundância dessas espécies. “A redução da qualidade e conectividade do hábitat teve impacto na diminuição da abundância das espécies”, afirma Vinicius Alberici, primeiro autor do estudo.
Para a maioria das espécies analisadas, essas variáveis foram determinantes, com exceção da anta e do tamanduá-mirim, que não apresentaram alterações significativas em suas populações.
A proximidade das rodovias afetou a abundância de apenas três das 12 espécies estudadas: tamanduá-bandeira, capivara e cachorro-do-mato. Curiosamente, o cachorro-do-mato mostrou maior abundância próximo às rodovias, contrariando a expectativa dos pesquisadores.
“Esperávamos que todas as espécies com altas taxas de atropelamento fossem fortemente impactadas”, explica Adriano Garcia Chiarello, coordenador da pesquisa.
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Entre as 12 espécies analisadas, cinco estão ameaçadas de extinção, como o tamanduá-bandeira e a anta. Os dados foram coletados por câmeras fotográficas distribuídas ao longo das rodovias e em áreas de vegetação nativa, considerando um gradiente de distância de até 10 km das rodovias.
As rodovias e o tráfego de veículos representam uma ameaça direta à fauna, especialmente por aumentar o risco de atropelamentos. A pesquisa destaca a importância de mitigar esses impactos, recomendando a implementação de cercas e passagens de fauna. “Espécies como o tamanduá-bandeira se beneficiariam de medidas específicas, como redução da velocidade e cercamento de trechos críticos”, aponta Chiarello.
O estudo também sugere que a restauração da vegetação nativa nas propriedades rurais pode melhorar a conectividade do hábitat e contribuir para a conservação da fauna local.
“A manutenção de áreas de preservação permanente é essencial para a sobrevivência das espécies no Cerrado”, conclui Chiarello. Os resultados indicam que, com manejo adequado, as paisagens agrícolas podem ser compatíveis com a conservação da biodiversidade.
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